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2011-07-31

O Mar - Ângelo de Lima



Semelhante a Algum Monstro Quando Dorme
- O Mar... Era Sombrio, Vasto, Enorme...
- Arfando Demorado -
- Imenso sob os Céus!...

- Tal Imenso e Sombrio, o Mar Seria
- E assim Em Vagas Tristes Arfaria
No Tempo Em que o Espírito de Deus
- Sobre Ele era Levado!...

in Poemas Portugueses Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI, Porto Editora

Ângelo Vaz Pinto Azevedo Coutinho de Lima nasceu no Porto a 31 de Julho de 1872 e morreu louco em Lisboa a 14 de Agosto de 1921

Nota: algumas fontes dão como data de nascimento 30 de Julho de 1872 em vez de 31 de Julho do mesmo ano. Se algum leitor tiver informações adicionais sobre esta questão agrademos o contacto ou comentário.

Pode ler do mesmo autor, neste blog:
Eu Ontem Vi-te
Não Tinha
Estes Versos Antigos

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2011-07-30

Bilhete - Mário Quintana

Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
Tem de ser bem devagarinho, Amada,
Que a vida é breve,e o Amor mais breve ainda


Mário Quintana (n. in Alegrete, Rio Grande do Sul a 30 Jul 1906; m. em Porto Alegre, Rio Grande do Sul a 5 de Maio de 1994).
Ler do mesmo autor:

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O perfume - António Correia de Oliveira

O que sou eu? – O Perfume,
Dizem os homens. – Serei.
Mas o que sou nem eu sei...
Sou uma sombra de lume!

Rasgo a aragem como um gume
De espada: Subi. Voei.
Onde passava, deixei
A essência que me resume.

Liberdade, eu me cativo:
Numa renda, um nada, eu vivo
Vida de Sonho e Verdade!

Passam os dias, e em vão!
– Eu sou a Recordação;
Sou mais, ainda: a Saudade.


In Cem Poemas Portugueses do Adeus e da Saudade; Org. de José Fanha e José Jorge Letria; Lisboa, Terramar, 2002.

António Correia de Oliveira nasceu em S. Pedro do Sul (Beira Alta) a 30 de Julho de 1879 e morreu em Belinho (Esposende) a 20 de Fevereiro de 1960.

Ler do mesmo poeta, neste blog:
A Despedida
Mãe

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2011-07-29

Ministra dispensa o uso das gravatas ... mas só até 30 de Setembro!



«Esta é uma decisão que visa dar resposta a preocupações de carácter
ambiental, na sequência de estudos científicos que associam a não
utilização de gravata à subida da temperatura do ar condicionado em
2 a 3 graus, sem que daí resulte qualquer prejuízo para o conforto dos
funcionários. Essa pequena alteração representa uma poupança em
termos energéticos, além de que permite reduzir a emissão de dióxido de carbono.»

Isto é tudo muito engraçado! Dispensam o uso da gravata mas só no período compreendido entre a entrada em vigor do despacho e 30 de Setembro. Ou seja a "contrariu sensu" após 1 de Outubro não se dispensa o uso da gravata.

E para quê dispensar uma coisa que legal ou regulamentarmente não é obrigatória?

Não fosse o Despacho da Super Ministra (super pelo alargado âmbito das suas competências e pelos vistos também super pela inteligência demonstrada - de direito é que deve saber pouco!) e os funcionários eram obrigados (?!) mesmo neste período quente de Verão a usar gravata?

E onde está a equidade? Será que a seguir vai legislar no sentido de dispensar as mulheres de não usar decotes pronunciados?

É assim que vai o país que temos...

E esta hein?

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The Layers - Stanley Kunitz

I have walked through many lives,
some of them my own,
and I am not who I was,
though some principle of being
abides, from which I struggle
not to stray.
When I look behind,
as I am compelled to look
before I can gather strength
to proceed on my journey,
I see the milestones dwindling
toward the horizon
and the slow fires trailing
from the abandoned camp-sites,
over which scavenger angels
wheel on heavy wings.
Oh, I have made myself a tribe
out of my true affections,
and my tribe is scattered!
How shall the heart be reconciled
to its feast of losses?
In a rising wind
the manic dust of my friends,
those who fell along the way,
bitterly stings my face.
Yet I turn, I turn,
exulting somewhat,
with my will intact to go
wherever I need to go,
and every stone on the road
precious to me.
In my darkest night,
when the moon was covered
and I roamed through wreckage,
a nimbus-clouded voice
directed me:
"Live in the layers,
not on the litter."
Though I lack the art
to decipher it,
no doubt the next chapter
in my book of transformations
is already written.
I am not done with my changes.


Poem from here
Stanley Jasspon Kunitz (b. 29 July 1905 in Worcester, Massachusetts, USA Died 14 May 2006 in New York City, New York, USA)

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2011-07-28

OS OLHOS DAS CRIANÇAS - Sidónio Muralha


Parar. Parar não paro.
Esquecer. Esquecer não esqueço.
Se carácter custa caro
pago o preço


Atrás dos muros altos com garrafas partidas
bem atrás das grades de silêncio imposto
as ciranças de olhos de espanto e de mêdo transidas
as crianças vendidas alugadas perseguidas
olham os poetas com lágrimas no rosto.

Olham os poetas as crianças das vielas
mas não pedem cançonetas mas não pedem baladas
o que elas pedem é que gritemos por elas
as crianças sem livros sem ternura sem janelas
as crianças dos versos que são como pedradas.


Sidónio Muralha (n. Lisboa a 28 Jul 1920 - m. Curitiba, Paraná, Brasil a 8 de Dez 1982)

Ler do mesmo autor, neste blog:
Romance
Soneto da Infância Breve
Dois Poemas da Praia da Areia Branca
Poemas de Sidónio Muralha

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Penas - Orlando Caetano

Tenho pena
de não ter penas
e asas
penas fortes e sedosas
numas asas vigorosas
sulcando todos os ares!

E não apenas as penas
nem as asas...
Tenho pena de não ser
uma gaivota
muito calma
e muito ousada
libertada
dominando
terra e mar.

Tenho pena
de não ser uma gaivota
p'ra voar
na noite da tua insónia
e penetrar no teu quarto
e pousar sobre os teus ombros
e em teu peito repousar.

Tu ias adormecer
com as minhas penas suaves
o teu corpo a acariciar
com cantigas
murmuradas
em voz rouca,
soluçadas
azougadas.

Aconchegada por ti
ao teu peito,
amada p'las tuas mãos
sentiria nessa noite
orgasmos no coração.

E quando o dia rompesse
e eu tivesse de voltar
tivesse de te deixar,
então em grito pungente
numa revolta de amor
e num quebranto de dor
haveria de ter pena
de ter penas p'ra voar!
Extraído daqui

Orlando Manuel Ferreira Caetano nasceu em 28 de Julho de 1938 na Marinha Grande

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2011-07-27

Benfica estreia a época com triunfo saboroso na pré-eliminatória da Champions


Benfica

2-0

Trabzonspor



Nolito desfez o ferrolho e Gaitán deu uma boa vantagem


Primeiro jogo oficial da época, logo a valer milhões de euros, com a equipa ainda em formação depois de tantas contratações e mudanças de jogadores era visto com alguma precaução pelos adeptos que acorreram ao Estádio da Luz em número de 37 milhares.

O Benfica começou o jogo bastante bem a controlar as operações perante visitantes, mais do que expectantes, com dificuldades de marcação e com a capacidade técnica dos jogadores encarnados a definirem bons lances especialmente pelo lado esquerdo. Num remate de longe a aproveitar uma saída do guarda-redes Gaitán (3') esteve quase a meter a bola na baliza (saiu ligeiramente por cima), num outro lance o cruzamento da esquerda de Gaitán encontrou um defesa turco com dois avançados benfiquistas ao pé...

Com a passagem do tempo os turcos acertaram melhor e o Benfica foi descendo de produção, sem desequilíbrios produzidos pela incorporação dos laterais (que se preocupavam mais em não falhar defensivamente) e Aimar muito marcado por Zokora (viu amarelo) os adeptos encarnados durante o intervalo não podiam deixar de estar algo apreensivos apesar das estatísticas altamente favoráveis aos encarnado: sete pontapés de canto contra zero, onze faltas (e dois cartões amarelos) para os turcos contra quatro (um cartão) para os benfiquistas.

O árbitro não marcara um penalty sobre Cardozo (em abono da verdade daqueles que os árbitros umas vezes marcam e outras vezes não - uma disputa de corpo num lance aéreo com o avançado benfiquista a ser agarrado pelo tronco e ainda por cima com o defesa a saltar por cima dele mas também o assistente assinalou um fora de jogo a Mi
erzejwski (26') num lance em que a bola acabou dentro da baliza encarnada e que me pareceu inexistente (avançado em linha).

O início da segunda parte mostrou o Benfica ainda no plano inclinado descendente mas um lance por volta dos sessenta minutos em que Aimar apareceu à entrada da área em boa posição para fazer golo mas a rematar por cima deu o lamiré para a subida da equipa portuguesa. A entrada de Nolito também coincidiu com esta subida de produção. Num lance de recuperação de Aimar, Saviola à entrada da área atirou ao poste. O jogo apareceu mais dividido mas com mais espaço para jogar e assim a possibilitar jogadas ofensivas com os turcos também a não deixar descansada a defesa encarnada, Artur (que esteve muito bem, salvando até o 2-1 perto do fim do jogo) incluído.

Já com Maxi Pereira em jogo (em detrimento de Ruben Amorim extenuado) e Akgun em vez dee Alanzinho no Trabzonspor o Benfica inaugurou o marcador por Nolito que se internou na área pela meia-esquerda após recuperação de bola de Aimar na zona ofensiva, com o espanhol a rematar com a bola no ar, cruzado, e o guarda-redes turco ainda a tocar com uma mão mas insuficientemente para desviar a bola do caminho da baliza.

Mesmo com o goplo Jesus não recuou na intenção da terceira substituição já planeada antes do golo - saída de Aimar e entrada de Witsel - e o novo reforço belga do Benfica entrou bastante bem no jogo fazendo passes sem precipitação e permitindo bom controlo de bola.

O árbitro é que manteve uma actuação desastrada. Já por duas vezes perdoara o segundo cartão amarelo a Girai Kacar e não assinalou um penalty clamoroso com um corte na área com o braço totalmente esticado evitando que a bola fosse para o isolado Nolito (lance ocorrido dois minutos após o 1-0 e que poderia ter deitado abaixo psicologicamente os turcos em caso de conversão..

Porém, já com o relógio a ameaçar o minuto 90, mais rigorosamente ao minuto 88, após entrada de Witsel pela aresta da grande área do lado direito ofensivo do Benfica a bola sobrou para Gaitán que fez um remate espectacular ao ângulo da baliza de Tolga que destas vez nem com asas poderia lá chegar.

Festejos do segundo golo do Benfica marcado por Gaitán

Concretizava-se um resultado desejado para o Benfica que ainda foi ameaçado perto do final numa jogada desfeita para canto por Artur e depois com uma defesa deste junto a um dos postes após um remate perigoso à queima-roupa.

Consideramos Gaitán the man of the match.

Um bom resultado - dos quinze jogos disputados 2-0 em casa foi o melhor resultado conseguido pelas equipas que jogaram em casa apenas igualado pelo Twente que venceu o Vaslui da Roménia pelo mesmo resultado - que aumenta as probabilidades vitoriosas do Benfica nesta pré-eliminatória mas que ainda não é decisivo porque a equipa turca demonstrou ter bons jogadores: o número 10 Mierzewski a meio campo é muito bom jogador e Paulo Henrique é um avançado muito perigoso.

Estádio da Luz: 37.341
Árbitro: Stephan Studer (SUI)
BENFICA: Artur Moraes, Emerson, Garay, Luisão, Enzo Peréz (Nolito 54'), Gaitán, Aimar (Witsel 74'), Javi García, Rúben Amorim (Maxi Pereira 64'), Saviola, Cardozo.

TRABZONSPOR: Tolga, Glowacki, Serkan Balci, Baytar, Giray Kacar, Alanzinho (Akgun 69'), Mierzejwski (Brozek 85'), Burak Yilmaz, Colman, Zokora, Paulo Henrique.

Golos: 1-0 Nolito 71'; 2-0 Gaitán 88'
Disciplina: 22' Cartão Amarelo para Giray Kacar (Trabzonspor), após falta sobre Gaitán.
41' Cartão Amarelo para Zokora (Trabzonspor), após falta sobre Aimar.
43 'Cartão Amarelo para Rúben Amorim (Benfica), por ter lançado para longe a bola.
56' Cartão Amarelo para Javi García (Benfica) por travar uma jogada de contra-ataque.
74' Cartão Amarelo para Nolito (Benfica) por protestos relativamente ao lance do penalty não assinalado

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Julho - Gil Vaz


in Contemporânea, 3º. Série, nº. 2

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2011-07-26

Brilhantes notícias de primeira página !

Hoje só num diário nacional de grande tiragem podemos ler:

«Massacre de Oslo não aconteceria em Portugal» - Claro que não... a haver um massacre em Portugal não seria «de Oslo»...
«Dinheiro sujo duplica em 6 meses» - Vou passar a sujar o dinheiro ... o que me dará (supostamente) uma rendibilidade de 100%...
«46 milhões de euros congelados...» - Estão no congelador por causa do calor? Se os sujar - dinheiro congelado sujo - passarão a ser 92 milhões...
«Banco espanhol dá Ronaldo como garantia ao BCE» - O Ronaldo não é português? Então os activos portugueses afinal ainda servem de garantia para os bancos ... (mas só) espanhóis!
«Herman José quer puxar as orelhas aos Gatos» - Ponham a Associação de Protecção dos Animais em alerta...
«Barbeiro seduzido e abandonado no monte, nu e de cócoras» - muita gente é seduzida e depois abandonada... mas ficar de cócoras... hmmm?!
«Família de Alcanena é ouro em Matemática» - Ao preço do ouro o Ministro das Finanças já deve estar a pensar em exportar a família.

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A Desenterrada - Cassiano Ricardo



Por entrenoites cúbicas e dados
brancos cuja sexta face ninguém vê,
meu pensamento entra no mistério
em que caminhas brancamente deitada.

Rodeado por muitas luas e impelido
pela minha saudade física, procuro,
no chão, o luar eterno do teu corpo,
no gesto de levar-te três magnólias.

Mas só encontro, de eterno, na matéria
que foi tua, em teu corpo hoje noturno,
o cabelo - cabelo sempre-vivo.

Que arranco ao solo e que me fica, ruivo,
nas mãos frias brilhando longamente,
qual ramo de árvores entre pirilampos!


in Poesia Brasileira do Século XX, Dos Modernistas à Actualidade, selecção, introdução e notas de Jorge Henrique Bastos, Edições Antígona

Cassiano Ricardo Leite (nasceu em São José dos Campos, São Paulo, em 26 de Julho de 1895; faleceu em 14 de Janeiro de 1974).

Do mesmo autor:
Tarde no Campo
Quadro Antigo
Desejo;
O Sangue das Horas
Rotação

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Vai e Vem - José Lino Grünewald



José Lino Grünewald (n. no Rio de Janeiro a 13 Fev. 1931; m. em 26 Jul 2000)

Ler do mesmo autor, neste blog: [Sem Título]

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2011-07-25

Anders Breivik



Anders Behring Breivik! Como é possível tanta inteligência ser tão mal encaminhada?

Devia ter-se suicidado em vez de matar inocentes diz o pai!

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Melancolia - Um Fragmento - Samuel Taylor Coleridge

Encostada à parede mais larga de um convento que se abatia,
onde ruinosas heras amparavam a escarpa das ruínas...
De braços cruzados envolvendo a sua mortalha esfarrapada,
A melancolia fizera-a meditar até adormecer.
Os fetos comprimiam-se debaixo do seu cabelo,
A língua verde-escura da serpente ali se encontrava;
E silenciosamente como passara lânguida a serena brisa do mar,
Agitando-se, a folhagem longa e delgada curvou-se sobre o seu rosto.

O rosto pálido enrubesceu: o seu olhar impaciente
Resplandeceu eloquente em sono! Intimamente elaborados,
Sons imperfeitos os seus lábios movendo-se abandonaram,
E a sua fronte inclinada ocupou-dse de agitado pensamento.
Estranho era o sonho...


Trad. Cecília Rego Pinheiro

in Rosa do Mundo, 2001 Poemas para o Futuro, Porto Editora

Samuel Taylor Coleridge (Ottery St. Mary,Devonshire 21 de Outubro de 1772 - m. 25 de Julho de 1834 Highgate, perto de Londres)

Do mesmo autor:
Amor /love
The Presence of Love

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2011-07-24

Romance - Guilherme de Almeida


E cruzam-se as linhas
no fino tear do destino.
Tuas mãos nas minhas.

Guilherme de Andrade e Almeida (n. em Campinas, São Paulo a 24 de Jul de 1890; m. em São Paulo a 11 de Jul 1969)

Ler do mesmo autor:
Harmonia Vermelha
O Idílio Suave
Soneto: Quando as folhas cairem nos caminhos
Fico deixas-me velho
Indiferença
Esssa Que Hei-de Amar

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Cisnes Brancos - Alphonsus de Guimaraens

imagem daqui

Ó cisnes brancos, cisnes brancos,
Porque viestes, se era tão tarde?
O sol não beija mais os flancos
Da Montanha onde mora a tarde.

Ó cisnes brancos, dolorida
Minh’alma sente dores novas.
Cheguei à terra prometida:
É um deserto cheio de covas.

Voai para outras risonhas plagas,
Cisnes brancos! Sede felizes...
Deixai-me só com as minhas chagas,
E só com as minhas cicatrizes.

Venham as aves agoireiras,
De risada que esfria os ossos...
Minh’alma, cheia de caveiras,
Está branca de padre-nossos.

Queimando a carne como brasas,
Venham as tentações daninhas,
Que eu lhes porei, bem sob asas,
A alma cheia de ladainhas.

Ó cisnes brancos, cisnes brancos,
Doce afago da alva plumagem!
Minh’alma morre aos solavancos
Nesta medonha carruagem...

Quando chegaste, os violoncelos
Que andam no ar cantaram no hinos.
Estrelaram-se todos os castelos,
E até nas nuvens repicaram sinos.

Foram-se as brancas horas sem rumo,
Tanto sonhadas! Ainda, ainda
Hoje os meus pobres versos perfumo
Com os beijos santos da tua vinda.

Quando te foste, estalaram cordas
Nos violoncelos e nas harpas...
E anjos disseram: — Não mais acordas,
Lírio nascido nas escarpas!

Sinos dobraram no céu e escuto
Dobres eternos na minha ermida.
E os pobres versos ainda hoje enluto
Com os beijos santos da despedida.


Afonso Henriques da Costa Guimarães nasceu em Ouro Preto MG em 24 de julho de 1870; morreu em Mariana MG em 15 de julho de 1921.



Ler do mesmo autor, neste blog:
O pesar de não tê-la encontrado mais cedo
Ismália
Quando eu disse Adeus
Soneto da Defunta Formosa
Soneto: Encontrei-te. Era o mês... Que importa o mês? Agosto

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2011-07-23

Amália, Carlos Paredes, Serge Reggiani e Maria João Pires todos têm a ver com música e com o dia 23 de Julho

Foto de Amália Rodrigues

Não bastava tratar-se de duas das maiores figuras da música portuguesa e particularmente do fado ainda um pormenor adicional iria ligar temporalmente estas duas personalidades: 23 de Julho. Em 1920 nascia em Lisboa Amália Rodrigues e também em Lisboa em 23 de Julho mas de 2004 desaparecia Carlos Paredes. Curiosamente no mesmo dia desaparecia também um grande nome da música francesa Serge Reggiani. Nothingandall deixa aqui a lembrança neste dia que é também o do aniversário da pianista portuguesa Maria João Pires.




E aqui porque o som do vídeo não é o melhor fica um registo muito claro da inesquecível voz de Amália. Arrepiante!


Cheia de penas
Cheia de penas me deito
E com mais penas
Com mais penas me levanto
No meu peito
Já me ficou no meu peito
Este jeito
O jeito de te querer tanto

Desespero
Tenho por meu desespero
Dentro de mim
Dentro de mim o castigo
Não te quero
Eu digo que não te quero
E de noite
De noite sonho contigo

Se considero
Que um dia hei-de morrer
No desespero
Que tenho de te não ver
Estendo o meu xaile
Estendo o meu xaile no chão
E deixo-me adormecer

Se eu soubesse
Se eu soubesse que morrendo
Tu me havias
Tu me havias de chorar
Uma lágrima
Por uma lágrima tua
Que alegria
Me deixaria matar

in Versos de Amália Rodrigues (n. 23 Jul 1920*em Lisboa, m. a 6 Out 1999 em Lisboa) *Data que consta dos documentos oficiais. Amália sempre defendeu que nascera em 1 de Julho de 1920.
Ouça mais música de Amália:

foto de Carlos Paredes em actuação

Cantiga de Maio

Carlos Paredes (n. em Coimbra a 16 de Fev. de 1925; m. em Lisboa a 23 de Jul de 2004)

E para recordar Serge Reggiani deixamos também aqui uma sua interpretação "La femme qui est dans mon lit"

Serge Reggiani (May 2, 1922 – July 23, 2004)

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2011-07-22

CANÇÃO DO EXÍLIO -José Paulo Paes

Um dia segui viagem
sem olhar sobre o meu ombro.

Não vi terras de passagem
Não vi glórias nem escombros.

Guardei no fundo da mala
um raminho de alecrim.

Apaguei a luz da sala
que ainda brilhava por mim.

Fechei a porta da rua
a chave joguei no mar.

Andei tanto nesta rua
que já não sei mais voltar.


José Paulo Paes (nasceu em Taquaritinga - SP, a 22 de julho de 1926; m. 9 de outubro de 1998)

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2011-07-20

Benfica vence tangencialmente o Toulouse na apresentação da equipa 2011/2012 aos sócios


BENFICA

1-0

TOULOUSE


Muitas indefinições e... vitória quase no fim

A uma semana de distância da estreia a sério em provas oficiais da época 2011/2012 o Benfica apresentou-se aos sócios no Estádio da Luz para jogar contra o 9º classificado da última época do Campeonato francês.

Cerca de 35 mil espectadores num ambiente razoável de afecto para ver um jogo que não deu para entusiasmar nem para esmorecer. Ainda com jogadores que vão ser dispensados a jogarem no onze que iniciou o jogo (e alguns mais nas mesmas circunstâncias a entrarem na segunda parte) o jogo deu para perceber a falta de entrosamento da equipa e a existência de mais vastas opções no plantel encarnado. Falta saber se Jesus (que costuma rodar pouco a equipa) terá capacidade de gestão das expectativas dos jogadores do plantel quando se verificar que jogam pouco tempo... Espero que não aconteça como na época passada que quando foram precisas alternativas a jogadores titulares que se lesionaram os jogadores que entravam estavam "enferrujados"...

A primeira parte teve períodos de muita confusão no meio campo, pouca linearidade e fluência de jogo, mas bons apontamentos de Nolito na esquerda que se tem revelado nesta pré-época como um jogador em destaque. Na ausência ainda de vários jogadores da defesa - ainda que Garay tivesse entrado na 2ª. parte e Emerson a titular na lateral esquerda defensiva - Jesus continuou na aposta de Javi Garcia a central em parceria com Fábio Faria, Abel Almeida jogou na direita. Matic (tem sido o novo jogador adquirido com mais minutos nesta pré-época parecendo aposta séria para titular) a médio defensivo tendo Urreta, Nolito (à esquerda), Bruno César (à direita) como companheiros de sector, Aimar mais avançado e Cardozo. Artur foi o guarda-redes titular, com Eduardo (vindo emprestado do Génova também já presente) a assegurar a defesa da baliza na segunda-parte.

Para além dos apontamentos de Nolito a obrigar o guarda-redes francês Ahamada a apolicar-se por duas vezes a maior oportunidade do Benfica resultou dum centro de António Almeida que Aimar desviou com um toque em jeito, de porimneira, que saiu ligeiramente poor cima. Os fgrancceses tiveram a sua melhor ocasião após uma jogada individuial pela direita do seu jogador norueguês Braaten que finalizou com um cruzamento remate que Artur defendeu com uma palmada, mal, para a frente e Tabanou desperdiçou ma recarga, escorregando acabou por atirar por cima da baliza.

Na segunda parte entraram de início sete novos jogadores no Benfica (só André Almeida, Javi, Emerson e Matic se mantiveram). Com o meio-campo e ataque todo reformulado Gaitán colocou mais velocidade em algumas jogadas individuais mas quem se destacou mais foi Enzo Perez que mostroiu ser um jogador de elevada capacidade técnica. Fez uma assistência perfeita para Saviola exigir mais uma defesa a Ahamada e o Benfica superiorizou-se mais nesta segunda parte à equipa francesa que praticamente não saiu do meio-campo, mantendo postura defensiva predominante.

Em jogadas de bola parada o Benfica ameaçou marcar - Garay atiraria ao poste de cabeça após marcação de pontapé de canto da direita - e perto do final de um livre enviado para área Saviola desviou para o centro da baliza onde de um ressalto surgiu o golo do triunfo encarnado por Jardel (que entrara aos 68' substituindo André Almeida).

Foi um triunfo justo do Benfica porque teve maior domínio do jogo, mas perto dos oitenta minutos do jogo desfrutaram de duas oportunidades flagrantes para marcar: uma após perda de Emerson que foi ultrapassado e hesitou na falta com o remate final de Pentecôte a sair escandalosamente ao lado da baliza após assistência que parecia fatal do português Paulo Machado.

Subsistem, assim, muitas dúvidas quanto à suficiência deste Benfica para ultrapassar o Trabzonbspor na pré-eliminatória da Champions League (segundo classificado com os mesmos pontos do campeão na época passada na Turquia) principalmente porque o Benfica continua com experiências e ainda está longe de definir um onze base. Luisão deve chegar mais cedo - o Brasil já foi eliminado - mas Maxi ainda está em prova e provavelmente até vai à final... Capdevilla ainda não foi apresentado... Será que Javi a central vai ser para durar ou irá retomar a posição de "trinco"? Nesse caso como vai ser a coabitação com Matic? Ou este sai? Cardozo /Saviola parece o duo de ataque que dá mais garantias, mas nesta pré-época nunca estiveram os dois em campo simultaneamente...

No meio-campo nas pontas jogam Gaitán e Jara (os da época passada) ou Nolito e/ou Enzo Perez têm uma palavra a dizer? Bruno César- supostamente o jogador teria melhor curriculum - nos cinco jogos que vimos (este, os dois do Torneio do Guadiana, Servette e Dijon) esteve escondido ou pouco convincente.

Enfim ... muito "matéria-prima" mas a função de produção ainda não está definida e por isso qual será a qualidade do produto?

Na próxima semana vamos começar a saber, mas esta pré-eliminatória é bem perigosa...

BENFICA: Artur Moraes (Eduardo int.), André Almeida (Jardel 68'), Fábio Faria (Garay ao int.), Emerson; Matic (Nuno Coelho 68'), Bruno César (Gaitán ao int.), Nolito (Enzo Perez ao int.), Aimar (Witsel ao int.), Javi García, Urreta (Saviola ao int.), Cardozo (Jara ao int.; Mora aos 80').

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Não tenho paz nem posso fazer guerra / Pace non trovo e non ho de far guerra - Francesco Pretrarca

Não tenho paz nem posso fazer guerra;
temo e espero, e do ardor ao gelo passo,
e voo para o céu, e desço à terra,
e nada aperto, e todo o mundo abraço.

Prisão que nem se fecha ou se descerra,
nem me retém nem solta o duro laço;
entre livre e submissa esta alma erra,
nem é morto nem vivo o corpo lasso.

Vejo sem olhos, grito sem ter voz;
e sonho perecer e ajuda imploro;
a mim odeio e a outrem amo após.

Sustento-me de dor e rindo choro;
a morte como a vida enfim deploro:
e neste estado sou, Dama, por vós.


Francesco Petrarca (n. em Arezzo 19 Jul 1374, m. em Pádua 20 Jul 1304)

Tradução de Jamil Almansur Haddad, do original:


Pace non trovo e non ho da far guerra;
e temo e spero, ed ardo e son un ghiaccio;
e volo sopra'l cielo e giaccio in terra
e nulla stringo e tutto 'l mondo abbracio.

Tal m'ha in prigion che non m'apre nè serra,
nè per suo mi ritien nè sciogle il laccio;
e non m'ancide Amor e non mi sferra,
nè mi vupl vivo nè mi trae d'impaccio.

Veggio senz'occhi, e non ho lingua e grido;
e bramo di perir e chieggio aita;
e ho in odio me stesso ed amo altrui.

Pascomio di dolor, piangendo rido;
egualmente mi spiacecmorte e vita:
in questo stato sion, donna, per vui.


Francesco Petrarca

Retirado de "A Circulatura do Quadrado"- Alguns dos mais belos sonetos de poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa"; introdução, coordenação e notas António Ruivo Moutinho - Edição Unicepe

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Happy Birthday Gisele Bundchen

click on to enlargeNão, não é o Danilo. Também nasceu no Brasil, é um bocadinho mais velha do que o seleccionado sub-20, e a fazer crer pela indumentária ... deve ser benfiquista desde pequenina!...; quanto ao tal Danilo foi (mais um!) desviado para o clube nortenho do FCP. Já ela tem categoria bastante acima para que o presidente do FCP a possa desviar...

Mas deixemo-nos de especulações. Tenho aqui que publicamente deixar as minhas desculpas por não poder estar presente na sua festa de aniversário... afazeres profissionais não me permitem fazê-lo ... vendo bem, até é preferível... não fosse o Tom sentir-se constrangido com a minha presença na festa.

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2011-07-19

Eu e Ela - Cesário Verde


Cobertos de folhagem, na verdura,
O teu braço ao redor do meu pescoço,
O teu fato sem ter um só destroço,
O meu braço apertando-te a cintura;

Num mimoso jardim, ó pomba mansa,
Sobre um banco de mármore assentados,
Na sombra dos arbustos, que abraçados
Beijarão meigamente a tua trança.

Nós havemos de estar ambos unidos,
Sem gozos sensuais, sem más ideias,
Esquecendo p’ra sempre as nossas ceias,
E a loucura dos vinhos atrevidos.

Nós teremos então sobre os joelhos
Um livro que nos diga muitas cousas
Dos mistérios que estão p’ra além das lousas,
Onde havemos de entrar antes de velhos.

Outras vezes buscando distracção,
Leremos bons romances galhofeiros,
Gozaremos assim dias inteiros,
Formando unicamente um coração.

Beatos ou pagãos, vida à paxá,
Nós leremos, aceita este meu voto,
O Flos-Sanctorum místico e devoto
E o laxo Cavaleiro de Faublas…


José Joaquim Cesário Verde ( n. em Lisboa a 25 de Fev 1855; m. Lisboa, 19 Jul 1886).

Ler ainda do mesmo autor, neste blog:
O Sentimento dum Ocidental - I Ave Marias
Noite Fechada
Cobertos de folhagem na verdura...
Arrojos
Lúbrica
CONTRARIEDADES
Nós III
Vaidosa
De Tarde


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Fragmentos 4 - Vladimir Maiakovski


Passa de uma você deve estar na cama
À noite a Via Láctea é um Oka de prata
Não tenho pressa para quê acordar-te
com relâmpago de mais um telegrama
como se diz o caso está enterrado
a canoa do amor se quebrou no quotidiano
Estamos quites inútil o apanhado
da mútua do mútua quota de dano
Vê como tudo agora emudeceu
Que tributo de estrelas a noite impôs ao céu
em horas como esta eu me ergo e converso
com os séculos a história do universo


Trad. Augusto de Campos
Vladimir Vladimirovich Mayakovsky (n. 7 de julho (calendário juliano) / 19 de julho (calendário gregoriano) de 1893, em Bagdadi, Geórgia – 14 de abril de 1930

Ler do mesmo autor: Lilitcha! Em lugar de uma carta

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2011-07-18

Os Bêbados - Conde de Monsaraz

Os bêbados passam cantando nas ruas
desertas da aldeia;
recebem contentes, ao sábado, as jornas
e vão derretê-las à boca das dornas,
de noite, nas tascas, à luz da candeia.

Em chusmas, unidos, é vê-los no escuro
- Que até fazem dó! –
espectros da fome, sair das tabernas,
borrachos, cantando, cambadas as pernas,
Os olhos mortiços e as bocas em ó ...

Um canta em voz alta; respondem-lhe os outros,
E cresce, enche o ar
um coro arrastado, soturno, indolente,
e a alma do povo, parece que a gente
a sente cá dentro do peito a chorar!

Trabalham, moirejam de dia, e à noite,
coitados, lá vão,
fugindo à gleba, libertos do ancinho,
embora haja fome, beber, porque o vinho
alegra e é por isso melhor do que o pão.

Nas praças desertas abraçam-se em grupos,
meu Deus, que tristeza!
E os braços lhes pesam mais leves nos ombros,
que o lenho das dores, por esses escombros
dos rudes calvários, nos ombros lhes pesa.

Os bêbados choram nas noites caladas,
cantando em segundas,
as queixas doridas, os ais e os lamentos
que às vezes se escutam na leva dos ventos,
na voz, no marulho das águas profundas.

O génio das coisas soluça naquelas
tristezas ocultas,
e os tristes borrachos, cantando nas praças,
sugerem tragédias, acordam desgraças
que, ó génio das coisas, na treva sepultas!

Um canta em voz alta, respondem-lhe os outros,
e cresce, enche o ar
um coro arrastado, soturno, indolente,
e a alma do povo, parece que a gente
a sente cá dentro do peito a chorar!


in Poemas Portugueses - Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI, Selecção, organização, introdução e notas Jorge Reis-Sá e Rui Lage, Porto Editora

António de Macedo Papança, Conde de Monsaraz (nasceu em Reguengos de Monsaraz a 18 de Julho de 1852 — m. em Lisboa a 17 de Julho de 1913)

Ler do mesmo autor:
Salada Primitiva
Tristezas mortais
Os Bois
Moças de Bencatel
No Monte

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2011-07-17

Benfica vence o Torneio do Guadiana



Pelo terceiro ano consecutivo o Benfica venceu o Torneio do Guadiana. Depois de ter vencido o PSG no primeiro jogo por 3-1 o empate desta noite por 2-2 frente ao Anderlecht foi suficiente para o triunfo no torneio beneficiando do empate no jogo de ontem entre belgas e franceses.

Neste torneio o Benfica demonstrou as virtudes e os defeitos deste principio de época. As virtudes relacionam-se com a grande capacidade e diversidade de opções para o ataque, os defeitos relacionados com uma defesa deficitária em termos de qualidade e quantidade de jogadores. Assinale-se a presença de Artur na baliza que mostrou qualidade (e teve de intervir em quantidade). Javi Garcia a central é uma experiência de Jesus que pode até singrar face à aposta de Matic a médio defensivo. Já as laterais defensivas apresentaram muitas limitações faltando Maxi e ainda não estando Fábio Coentrão substituído. É estranho que sendo a saída do lateral esquerdo há muito esperada que ainda não tenha sido contratado (oficialmente pelo menos) nenhum lateral esquerdo apesar de tantos nomes anunciados.

No meio-campo ofensivo e no ataque as opções são mais que muitas ao ponto de ainda não estar delineada a base da equipa. Saviola - considerado o melhor jogador do Torneio - reapareceu muito melhor do que na época passada, marcou golos em ambos os jogos e fez mexer o ataque. Das aquisições Nolito demonstra grande capacidade técnica sendo um jogador muito perigoso no um contra um. Com o PSG fez duas assistências e hoje na segunda parte voltou a mostrar pormenores de grande qualidade.

Após o empate aoi intervalo (golos de Cardozo 11' e Nenê 14'), Jara pôs os encarnados a ganhar ao que se seguiu a expulsão de Armand que fez acentuou a superioridade do Benfica que aumentou o score ao minuto 89' por Saviola.

Frente ao Anderlecht o Benfica inaugurou o marcador por Saviola (16') mas sofreu o empate numa altura de ainda maior perturbação defensiva uma vez que Miguel Vítor saíra há pouco por lesão (entrou David Simão para lateral esquerdo passando Fábio Faria para central). Foi Lukaku que fez o empate beneficiando de uma entrada à queima de Fábio e Faria e saída simultânea de Artur e com um drible bateu os dois e ficou com a baliza aberta. Ao terminar a primeira parte uma grande jogada individual do argentino Suarez fez o 1-2 resultado inesperado face ao maior número de oportunidades dos encarnados - só Jara falhara dois golos em minutos consecutivos.

Ao intervalo cinco alterações no Benfica e nove! no Anderlecht disputando-se o jogo em termos confusos durante os primeiros minutos do recomeço. Depois destacou-se Urreta com desequilíbrios na direita e com a marcação do golo do empate aos 56'. O Benfica dispôs de maior posse de bola mas a decisão no torneio esteve sempre indefinida porque os belgas também criaram oportunidades para marcar o terceiro golo

O Benfica tem de acelerar a definição das opções principais de jogo e integrar rapidamente os jogadores da defesa uma vez que na Champions sofrer golos - especialmente em casa- pode vir a ser fatal. E o Benfica sofre golos há vinte e dois jogos consecutivos...

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Dualidade - Tomás Padilha

Decifrar-me não tentes: o que sou
está contido em palavras e escombros
harmoniosamente dispostos;
o rosto é apenas a aparência,
meu arsenal
meu exército

Um pobre exército de perdidas batalhas.
Já o vês: sou duplo, na luz e na sombra
trafego entre mim e o outro, o que mente
mas transluz verdadeiro;
é lamentável que assim te fale,
mas não há outra forma.

Armas e esperanças tenho-as escondido
nos escombros que lavro, e não sabes.
São muito perigosas.
Mas não as procure,
para que não me aches
senão onde me encontro como agora,
diante de teu olhar perplexo.


Poema daqui

Telmo Padilha (nasceu em Itabuna, Bahia, a 5 de maio de 1930; faleceu em 17 de julho de 1977)

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2011-07-16

Digo que não sou um homem puro / Digo que yo no soy un hombre puro - Nicollas Guillen

Digo que não sou um homem puro
Não vou dizer-te que sou um homem puro.
Entre outras coisas
resta saber se o puro de facto existe.
Ou se é, digamos, necessário.
Ou possível.
Ou se tem bom gosto.
Acaso já provaste a água quimicamente pura,
a água de laboratório,
sem um grão de terra ou de esterco,
sem o pequeno excremento de um pássaro,
a água feita apenas de oxigênio e hidrogênio?
Puá! que porcaria.
Não te digo, pois, que sou um homem puro,
não te digo isso, mas bem o contrário.
Que amo (as mulheres, naturalmente,
pois meu amor pode dizer seu nome),
e gosto de comer carne de porco com batatas,
e grão-de-bico e chouriço, e
ovos, frango, carneiro, peru,
peixe e mariscos,
e bebo rum e cerveja e aguardente e vinho,
e fornico (inclusive com o estômago cheio).
Sou impuro, o que queres que te diga?
Completamente impuro.
No entanto,
creio que há muitas coisas puras no mundo
que não são mais que pura merda.
Por exemplo, a pureza da virgindade nonagenária.
A pureza dos noivos que se masturbam
em vez de se deitarem juntos numa pousada.
A pureza dos internatos, onde
abre suas flores de sémen provisional
a fauna pederasta.
A pureza dos clérigos.
A pureza dos académicos.
A pureza dos gramáticos.
A pureza dos que asseguram
que devemos ser puros, puros, puros.
A pureza dos que nunca tiveram blenorragia.
A pureza da mulher que nunca lambeu uma glande.
A pureza do homem que nunca sugou um clitóris.
A pureza daquela que nunca pariu.
A pureza daquele que nunca procriou.
A pureza daquele que se dá golpes no peito, e
diz santo, santo, santo,
quando é um diabo, diabo, diabo.
Enfim, a pureza
de quem não chegou a ser suficientemente impuro
para saber o que é a pureza.


Tradução: Marcelo Tápia

Original

Digo que yo no soy un hombre puro
Yo no voy a decirte que soy un hombre puro.
Entre otras cosas
falta saber si es que lo puro existe.
O si es, pongamos, necesario.
O posible.
O si sabe bien.
¿Acaso has tú probado el agua químicamente pura,
el agua de laboratorio,
sin un grano de tierra o de estiércol,
sin el pequeño excremento de un pájaro,
el agua hecha no más de oxígeno e hidrógeno?
¡Puah!, qué porquería.

Yo no te digo pues que soy un hombre puro,
yo no te digo eso, sino todo lo contrario.
Que amo (a las mujeres, naturalmente,
pues mi amor puede decir su nombre),
y me gusta comer carne de puerco con papas,
y garbanzos y chorizos, y
huevos, pollos, carneros, pavos,
pescados y mariscos,
y bebo ron y cerveza y aguardiente y vino,
y fornico (incluso con el estómago lleno).
Soy impuro ¿qué quieres que te diga?
Completamente impuro.
Sin embargo,
creo que hay muchas cosas puras en el mundo
que no son más que pura mierda.
Por ejemplo, la pureza del virgo nonagenario.
La pureza de los novios que se masturban
en vez de acostarse juntos en una posada.
La pureza de los colegios de internado, donde
abre sus flores de semen provisional
la fauna pederasta.
La pureza de los clérigos.
La pureza de los académicos.
La pureza de los gramáticos.
La pureza de los que aseguran
que hay que ser puros, puros, puros.
La pureza de los que nunca tuvieron blenorragia.
La pureza de la mujer que nunca lamió un glande.
La pureza del que nunca succionó un clítoris.
La pureza de la que nunca parió.
La pureza del que no engendró nunca.
La pureza del que se da golpes en el pecho, y
dice santo, santo, santo,
cuando es un diablo, diablo, diablo.
En fin, la pureza
de quien no llegó a ser lo suficientemente impuro
para saber qué cosa es la pureza.
http://www.blogger.com/img/blank.gif
Punto, fecha y firma.
Así lo dejo escrito.



Nicolás Cristóbal Guillén Batista (n. Camagüey, Cuba, 10 de jul de 1902 - m. La Habana 16 de jul de 1989).

Ler do mesmo autor neste blog:
Un Poema de amor
Responde tu (version original)
Responde tu (tradução em português)

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2011-07-15

Horizonte - Henriqueta Lisboa

Foto de Ana Carvalho daqui


Alma em suspiro
pelo encontro
do que fica
sempre mais longe


Henriqueta Lisboa (nasceu em Lambari, Minas Gerais, em 15 de julho de 1901; faleceu em Belo Horizonte, no dia 9 de outubro de 1985).

Ler da mesma autoria, neste blog: Do Supérfluo

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2011-07-14

Historical image of the day (XVI) - Prise de la Bastille / A Tomada da Bastilha (14-Jul-1789)


Prise de La Bastille - Tomada da Bastilha,
pintura de Jean-Pierre Houël (1735-1813)
Biblioteca Nacional Francesa

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A propósito do lixo...










  • Equivalente a Lixo - BA2 - é a notação de rating dada pela Moody's à dívida pública de Portugal...
  • Equivalente a Lixo -BA 1 - é a notação de rating dada pela Moody's à dívida pública de Irlanda... ainda assim superior em um nível ao de Portugal!
  • Equivalente a Lixo é a qualidade das notações de rating atribuídas pela Moody's... concluo eu! se não para quê cortar metade do subsídio de Natal aos portuguesinhos?
  • Correspondente a Lixo é metade das contratações de jogadores que o Benfica faz para a equipa de futebol (digo eu)
  • Cortou o pénis do marido e deitou-o ao lixo! (JN). Provavelmente já não lhe estava a ser útil...
  • Sabia que também há lixo extraordinário ?
  • Sabia que há a cidade do lixo - Manshyiat Naser - ?
  • Do lixo orgânico ao electrónico - Pelo menos o último tem a vantagem de não cheirar mal ... Será que este post é lixo electrónico?
  • Sabe o que é a palavra XILO? Pois um anagrama de LIXO mas com significado próprio: sm (gr xýlon) Celulose da madeira ou do invólucro das frutas duras; sf Forma reduzida de xilogravura.
  • Produzir Lixo é um Luxo mensagem que encontrei num cartaz no Hospital de Santo António, no Porto... - interpretem lá isso que eu não percebo.

  • REDUZIR - RECICLAR - REUTILIZAR

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    2011-07-13

    Janela da Vida - Carlos Conde

    Para ver quanta fé perdida
    E quanta miséria sem par
    Há neste orbe, atroz ruim
    Pus-me à janela da vida
    E alonguei o meu olhar
    P´lo vasto Mundo sem fim.

    Pus todo o meu sentimento
    Na mágoa que não se aparta
    Do que mais nos desconsola;
    E assim a cada momento
    Vi buçaes comendo à farta
    E génios pedindo esmola!

    Vi muitas vezes a razão
    Por muitos posta de rastos
    E a mentira em viva chama;
    Até por triste irrisão
    Vi nulidades nos astros
    E vi ciências na lama!...

    Vi dar aos ladrões valores
    E sentimentos perdidos
    Nas que passam por honradas
    Vi cinismos vencedores
    Muitos heróis esquecidos
    E vaidades medalhadas

    Vi no torpor mais imundo
    Profundas crenças caindo
    E maldições ascendendo
    Tudo vi neste Mundo
    Vi miseráveis subindo
    Homens honrados descendo

    Esse é rico, e não tem filhos
    Que os filhos não dão prazer
    A certa gente de bem
    Aquele tem duros trilhos
    Mas é capaz de morrer
    P´los filhinhos que tem

    Esta é rica em frases ledas
    Diz-se a mais casta donzela
    Mas a honra onde ela vai
    Aquela não veste sedas
    Mas os garotitos dela
    São filhos do mesmo pai

    Por isso afirmo com ciso
    Que p´ra na vida ter sorte
    Não basta a fé decidida
    P´ra ser feliz é preciso
    Ser canalha até à morte
    Ou não pensar mais na vida.


    Carlos Augusto Conde Poeta popular português, nasceu a 22 de Novembro de 1901, no Lugar do Monte na Murtosa (Aveiro), e faleceu em Lisboa a 13 de Julho de 1981)

    Ler (e ouvir) do mesmo autor, neste blog:
    Trem Desmantelado (na voz de Carlos do Carmo)
    Não Passes com ela à minha rua (na voz de Fernanda Maria)

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    2011-07-12

    Para Que Tu Me Ouças - Pablo Neruda

    Para que tu me ouças
    as minhas palavras
    adelgaçam-se por vezes
    como o rasto das gaivotas sobre a praia.

    Colar, guizo ébrio
    para as tuas mãos suaves como as uvas.

    E vejo-as tão longe, as minhas palavras.
    Mais que minhas são tuas.
    Vão trepando pela minha velha dor como a hera.

    Elas trepam assim pelas paredes húmidas.
    Tu é que és a culpada deste jogo sangrento.
    Elas vão a fugir do meu escuro refúgio.
    Tu enches tudo, amada, enches tudo.

    Antes de ti povoaram a solidão que ocupas,
    e estão habituadas mais que tu à minha tristeza.

    Agora quero que digam o que eu quero dizer-te
    para que tu ouças como quero que me ouças.

    O vento da angústia ainda costuma arrastá-las.
    Furacões de sonhos ainda ainda por vezes as derrubam.
    Tu escutas outras vozes na minha voz dorida.
    Pranto de velhas bocas, sangue de velhas súplicas.
    Ama-me, companheira. Não me abandones. Segue-me.
    Segue-me, companheira, nessa onda de angústia.

    Mas vão-se tingindo com o teu amor as minhas palavras.
    Ocupas tudo, amada, ocupas tudo.

    Vou fazendo de todas um colar infinito
    para as tuas brancas mãos, suaves como as uvas.


    Tradução de Fernando Assis Pacheco
    Extraído de "miguel veiga, os poemas da minha vida, Público"

    Pablo Neruda [Ricardo Eliecer Neftalí Reyes Basoalto] (n. 12 Jul 1904, Parral, Chile; m. 23 Set 1973 em Santiago, Chile).

    Mais poemas de Pablo Neruda, neste blog:
    A Noite na Ilha
    Unidade
    Uma Canção Desesperada
    La Canción Desesperada
    Tonight I Can Write Saddest Lines
    If You Forget Me
    Puedo Escribir los versos mas tristes esta noche
    Poema LXVI : Não te quero senão porque te quero
    Poema 15: Me gustas cuando callas...
    Poema 15: (em português) Gosto de ti calada...
    Para Meu Coração Basta Teu Peito
    Para Mi Corazon Basta Tu Pecho
    Tua Risa / Teu Riso / Your Laughter
    Corpo de Mujer
    Canto XII From Heights of Macchu Picchu

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    Musical suggestion of the day: Traz outro amigo também - Resistência


    Uma grande música de José Afonso aqui na interpretação do agrupamento Resistência. Que saudades!

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    2011-07-11

    No baile - Afonso Celso

    Ontem ao contemplá-la decotada,
    Ao primor do seu colo descoberto,
    Senti-me tonto, da vertigem perto,
    Fremente o pulso, a vista deslumbrada.

    E, como em láctea fonte perfumada,
    Sorvi-lhe sonhos mil no seio aberto,
    Com a sede de um filho do deserto
    Que encontre enfim a linfa suspirada.

    Giram em derredor das níveas flores,
    Sofregamente, insetos zumbidores ...
    - Meus desejos então foram assim...

    Mas arredei os olhos, de repente,
    Pois meu olhar podia, de tão quente,
    Crestar-lhe a fina cútis de cetim!

    Afonso Celso de Assis Figueiredo Jr. (n. em Ouro Preto, Minas Gerais, a 31 Mar 1860, m. Rio de Janeiro a 11 Jul 1938)

    Ler do mesmo autor, neste blog:
    Anjo Enfermo
    Rosa
    Porto celeste
    A Confiança

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    2011-07-10

    Citação do Dia - Marcel Proust

    As pessoas querem aprender a nadar e ter um pé no chão ao mesmo tempo.

    Valentin-Louis-Georges-Eugène-Marcel Proust (10 de Julho de 1871 - 18 de Novembro de 1922)

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    Elegia para Marcel Proust - Augusto Meyer

    Aléia de bambus, verde ogiva
    recortada no azul da tarde mansa,
    o ouro do sol treme na areia da alameda
    farfalham folhas, borboletas florescem.
    Portão de sombra em plena luz.

    Gemem as lisas taquaras como frautas folhudas
    onde o vento imita o mar.

    Marcel, menino mimoso, estou contigo, Proust:
    vejo melhor a amêndoa negra dos teus olhos.

    Transparência de uma longa vigília,
    imagino as tuas mãos
    como dois pássaros pousados na penumbra.

    Escuta - a vida avança, avança e morre...
    Prender a onda que franjava a areia loura de Balbec?

    Cetim róseo das macieiras no azul.
    Flora carnal das raparigas passeando à beira-mar.
    Bruma esfuminho Paris pela vidraça
    Intermitências chuva e sol "Le temps perdu."

    Marcel Proust, diagrama vivo sepultado na alcova.
    O teu quarto era maior que o mundo:
    Cabia nele outro mundo...

    Fecho o teu livro doloroso nesta calma tropical
    como quem fecha leve, leve, a asa de um cortinado
    sobre o sono de um menino...


    Augusto Meyer (n. em Porto Alegre, RS, em 24 Jan. 1902; m. no Rio de Janeiro, RJ, em 10 Jul 1970).

    Ler do mesmo autor, neste blog:
    Chewing Gum
    Gaita
    Flor de Maricá

    Nota: Assinale-se a coincidência de Augusto Meyer ter falecido a 10 de Julho (de 1970), ou seja, quando Marcel Proust fazia aniversário de nascimento (10 de Julho de 1871)

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    2011-07-09

    Se O Amor Quiser Voltar - Vinicius de Moraes

    Se o amor quiser voltar
    Que terei pra lhe contar
    A tristeza das noites perdidas
    Do tempo vivido em silêncio
    Qualquer olhar lhe vai dizer
    Que o adeus me faz morrer
    E eu morri tantas vezes na vida
    Mas se ele insistir
    Mas se ele voltar
    Aqui estou sempre a esperar


    Vinicius de Moraes (n. Rio de Janeiro a 19 Out 1913; m. Rio de Janeiro, 9 Jul 1980)

    Maria Creuza - Se o Amor Quiser Voltar


    Ler neste blog do mesmo autor:
    Soneto da Separação
    Saudades do Brasil em Portugal
    Soneto do Amor Total
    Poética I
    Mar
    Poema de Todas as Mulheres
    Soneto de Fidelidade
    Pela luz dos olhos teus
    Dialectica
    Aquarela
    Amigos

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    Paciência, um Sofrimento Voluntário - Francisco Bingre

    Tu és, ó Paciência, um sofrimento
    Voluntário, fiel, bem ordenado,
    Da conhecida sem razão tirado,
    De um constante varão nobre ornamento.

    Tu, recolhendo n'alma o pensamento,
    Suportas com valor o Tempo irado.
    Tu sustentas, com ânimo esforçado,
    Todo o peso do mal, no bem atento.

    Magnânima tu és, tu és Constância,
    Cedro que não derruba a tempestade,
    Rocha, onde a fúria quebra o mar com ânsia.

    Tu triunfas da mesma Adversidade.
    Subjugando as paixões co'a Tolerância,
    Tu vences os ardis da vil Maldade.

    in 'Sonetos'

    Francisco Joaquim Bingre nasceu em Canelas, Estarreja no dia 9 de Julho de 1763e morreu em Mira a 26 de Março de 1856).

    Ler do mesmo autor, neste blog:
    Retrospectiva
    Meus Versos
    A Camões

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    2011-07-08

    O hospital - Gonçalo M. Tavares


    imagem daqui; autor: Maria Rita

    Faz bem, de quando em quando, contactares com
    o sofrimento dos outros.
    Aprendes assim que, para além do sol,
    há outros astros. A noite, instrumentos exactos e fundos.
    Um enfermeiro passa de calças brancas
    transportando na maca um moribundo ou um morto.
    As calças são quase transparentes e por baixo são visíveis
    as cuecas do enfermeiro,
    com tiras verticais. Um pormenor.
    Enfermeiro simpático, que sorri para quem se encontra
    sentado a ver passar o moribundo ou o morto.
    E ainda mais. Uma negra segurando
    o filho de 20 anos que mal consegue andar.
    O velho com tiques nas sobrancelhas, a barba branca,
    assimétrica, feia; e uma rapariga que atravessa
    o corredor com uma saia curta e dois seios grandes
    à frente. Apesar de tudo, disse um amigo
    em conversa, mesmo num hospital o número de
    pessoas excitadas deve ultrapassar o número de mortos.
    E se isto não salva, em definitivo, a humanidade,
    pelo menos ajuda-a temporariamente.
    É um corredor de hospital, o que não pressupõe,
    logo à partida, nada de maravilhoso,
    mas a vontade dos vivos é ainda quem manda.
    E tudo isto é também sinal de que não estamos em guerra,
    morremos não por bombas, mas por tropeçar
    desastradamente nos hábitos ou na vida;
    facto que, como toda a gente
    sabe, não é raro em nenhuma profissão.


    Extraído de 1, Relógio D'Água, 2ª. Edição, Março de 2011.

    Gonçalo M. Tavares nasceu em Angola em Agosto de 1970

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    Angústia - Laurindo Rabelo

    Quando morta a f'licidade,
    A fé expira também!
    Saudades de que se nutrem?
    Os suspiros, que alvo têm?

    Morta a fé, vai-se a esperança;
    Como pois, viver pudera
    Saudade que não tem crença,
    Saudade que desespera?

    Onde as graças do passado,
    Se altivo gênio sanhudo
    O cepticismo nos brada,
    Foi mentira, engano tudo?

    Em nada creio do mundo:
    Ludíbrio da desventura,
    A felicidade me acena
    Só de um ponto - a sepultura.

    Morreram minhas saudades,
    E nem suspiros calados
    Dentro d'alma pouco a pouco
    Vão morrendo sufocados.


    Poema transcrito daqui
    Laurindo Rabelo (L. José da Silva R.), médico, professor e poeta, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 8 de julho de 1826, e faleceu na mesma cidade, em 28 de setembro de 1864).

    Ler do mesmo autor, neste blog: A Minha Resolução

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    Happy Birthday - Daniella Sarahyba

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    2011-07-07

    Eterna Dor - Artur de Azevedo

    Já te esqueceram todos neste mundo...
    Só eu, meu doce amor, só eu me lembro,
    Daquela escura noite de setembro
    Em que da cova te deixei no fundo.

    Desde esse dia um látego iracundo
    Açoitando-me está, membro por membro.
    Por isso que de ti não me deslembro,
    Nem com outra te meço ou te confundo.

    Quando, entre os brancos mausoléus, perdido,
    Vou chorar minha acerba desventura,
    Eu tenho a sensação de haver morrido!

    E até, meu doce amor, se me afigura,
    Ao beijar o teu túmulo esquecido,
    Que beijo a minha própria sepultura!

    Poema extraído daqui

    Artur Nabantino Belo Gonçalves de Azevedo nasceu em São Luís (MA) a 7 de Julho de 1855 e faleceu no Rio de Janeiro a 22 de Outubro de 1908

    Ler, neste blog, do mesmo autor:
    Arrufos
    Por Decoro

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    Morena - Guerra Junqueiro

    Não negues, confessa,
    Que tens certa pena,
    Que as mais raparigas,
    Te chamem morena.

    Pois eu não gostava,
    Parece-me a mim,
    De ver o teu rosto
    Da cor do jasmim.

    Eu não… mas enfim
    É fraca a razão,
    Pois pouco te importa
    Que eu goste ou que não.

    Mas olha as violetas
    Que, sendo umas pretas,
    O cheiro que têm!
    Vê lá que seria,
    Se Deus as fizesse
    Morenas também!

    Tu és a mais rara
    De todas as rosas;
    E as coisas mais raras
    São mais preciosas.

    Há rosas dobradas
    E há-as singelas;
    Mas são todas elas
    Azuis, amarelas,

    De cor de açucenas,
    De muita outra cor;
    Mas, rosas morenas,
    Só tu, linda flor.

    E olha que foram
    Morenas e bem
    As moças mais lindas
    De Jerusalém.
    E a Virgem Maria
    Não sei… mas seria
    Morena também.

    Moreno era Cristo.
    Vê lá depois disto
    Se ainda tens pena
    Que as mais raparigas
    Te chamem morena!


    in 366 poemas que falam de amor: uma antologia organizada por Vasco da Graça Moura, Quetzal Editores

    Guerra Junqueiro (n. Freixo de Espada à Cinta 15 de Setembro de 1850* ; m. Lisboa a 7 de Julho de 1923).

    Ler do mesmo autor, neste blog:
    Introdução (excerto)
    A Árvore do Mal
    Adoração
    Regresso ao Lar
    A Moleirinha
    Canção Perdida
    À Memória de Minha Mãe

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    2011-07-06

    Quando eu Morrer ... - Castro Alves

    Eu morro, eu morro. A matutina brisa
    Já não me arranca um riso. A rósea tarde
    Já não me doura as descoradas faces
    Que gélidas se encovam.
    Junqueira Freire






    Quando eu morrer... não lancem meu cadáver
    No fosso de um sombrio cemitério...
    Odeio o mausoléu que espera o morto
    Como o viajante desse hotel funéreo.

    Corre nas veias negras desse mármore
    Não sei que sangue vil de messalina,
    A cova, num bocejo indiferente,
    Abre ao primeiro o boca libertina.

    Ei-la a nau do sepulcro — o cemitério...
    Que povo estranho no porão profundo!
    Emigrantes sombrios que se embarcam
    Para as plagas sem fim do outro mundo.

    Tem os fogos — errantes — por santelmo.
    Tem por velame — os panos do sudário...
    Por mastro — o vulto esguio do cipreste,
    Por gaivotas — o mocho funerário...

    Ali ninguém se firma a um braço amigo
    Do inverno pelas lúgubres noitadas...
    No tombadilho indiferentes chocam-se
    E nas trevas esbarram-se as ossadas...

    Como deve custar ao pobre morto
    Ver as plagas da vida além perdidas,
    Sem ver o branco fumo de seus lares
    Levantar-se por entre as avenidas!...

    Oh! perguntai aos frios esqueletos
    Por que não têm o coração no peito...
    E um deles vos dirá "Deixei-o há pouco
    De minha amante no lascivo leito."

    Outro: "Dei-o a meu pai". Outro: "Esqueci-o
    Nas inocentes mãos de meu filhinho"...
    ...Meus amigos! Notai... bem como um pássaro
    O coração do morto volta ao ninho!...


    São Paulo, março de 1869.

    Antônio Frederico de Castro Alves (n. em Muritiba, Bahia, 14 de Março de 1847 — m. Salvador, Bahia, 6 de Julho de 1871).

    Ler do mesmo autor:
    Boa-Noite
    O Adeus de Teresa;
    Adormecida
    Beijo Eterno;
    Mocidade e Morte;
    Horas de Saudade
    Ahasverus e o Gênio
    Ao dia sete de setembro

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    2011-07-05

    Pergunta-me - Mia Couto

    Pergunta-me
    se ainda és o meu fogo
    se acendes ainda
    o minuto de cinza
    se despertas
    a ave magoada
    que se queda
    na árvore do meu sangue

    Pergunta-me
    se o vento não traz nada
    se o vento tudo arrasta
    se na quietude do lago
    repousaram a fúria
    e o tropel de mil cavalos

    Pergunta-me
    se te voltei a encontrar
    de todas as vezes que me detive
    junto das pontes enevoadas
    e se eras tu
    quem eu via
    na infinita dispersão do meu ser
    se eras tu
    que reunias pedaços do meu poema
    reconstruindo
    a folha rasgada
    na minha mão descrente

    Qualquer coisa
    pergunta-me qualquer coisa
    uma tolice
    um mistério indecifrável
    simplesmente
    para que eu saiba
    que queres ainda saber
    para que mesmo sem te responder
    saibas o que te quero dizer


    In Raiz de Orvalho e Outros Poemas

    Mia Couto (António Emílio Leite Couto, nasceu na Beira, Moçambique em 5 de Julho de 1955)

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    Citação do Dia / Quotation of the Day - Bill Watterson

    Sometimes I think the surest sign that intelligent life exists elsewhere in the universe is that none of it has tried to contact us.

    Às vezes acho que o sinal mais claro de que há vida inteligente algures no universo é o facto dela não ter entrado em contacto connosco.

    Bill Watterson (b. Washington, July 5, 1958) is an American cartoonist and the author of the influential and popular comic strip Calvin and Hobbes.

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    A NAU PERDIDA - Álvaro Feijó

    Pobre, lá vai! Que rombo no costado!
    Como a água a penetra aos borbotões!
    Açoita-a, em fúria, o Mar. Adorna ao lado.
    Anda à mercê das vagas, dos tufões!
    Mas segue, segue em frente. O vento a ajuda!
    Galga nas ondas, que doidinha, olhai!...
    Julga-se, ainda, a nau que dantes era,
    por levar, no porão, uma quimera,
    por ir, do vento na refrega aguda,
    ovante e sem saber per'onde vai!

    Julga-se, ainda, a nau que dantes era...
    – o que passa não torna ..
    Na pobre nau perdida
    a água entra e a adorna.
    Vai sendo, aos poucos, pelo mar sorvida.

    Na agonia estrebucha. Num desejo
    de vida e luz, arfante, desesperada,
    busca furtar-se ao comprimente beijo
    do Mar que a envolve. – Após, é o Mar e nada...

    Doirado como um astro,
    haste esquecida em campo onde as mondas
    colheram tudo, o topo do seu mastro
    fica esperando ainda sobre as ondas.

    Na rota pelo mundo
    – ao deus-dará na vaga azul e infinda –
    nós vamos – nau perdida em Mar profundo –
    joguetes do tufão;
    mas conservando, ainda,
    na última Esperança a última Ilusão.


    Outubro de 1937
    Poema extraído daqui
    Álvaro de Castro e Sousa Correia Feijó (Nascido a 5 de Julho de 1916, em Viana do Castelo, morreu em Coimbra a 9 de Março de 1941)

    Ler do mesmo autor, no Nothingandall:
    Os Dois Sonetos de Amor da Hora Triste
    Senhor! De Que Valeu o Sacrifício

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    2011-07-04

    Eu falo das casas e dos homens - Adolfo Casais Monteiro

    Eu falo das casas e dos homens,
    dos vivos e dos mortos:
    do que passa e não volta nunca mais.. .
    Não me venham dizer que estava materialmente
    previsto,
    ah, não me venham com teorias!
    Eu vejo a desolação e a fome,
    as angústias sem nome,
    os pavores marcados para sempre nas faces trágicas
    das vítimas.

    E sei que vejo, sei que imagino apenas uma ínfima,
    uma insignificante parcela da tragédia.
    Eu, se visse, não acreditava.
    Se visse, dava em louco ou em profeta,
    dava em chefe de bandidos, em salteador de estrada,
    - mas não acreditava!

    Olho os homens, as casas e os bichos.
    Olho num pasmo sem limites,
    e fico sem palavras,
    na dor de serem homens que fizeram tudo isto:
    esta pasta ensanguentada a que reduziram a terra inteira,
    esta lama de sangue e alma,
    de coisa a ser,
    e pergunto numa angústia se ainda haverá alguma esperança,
    se o ódio sequer servirá para alguma coisa...

    Deixai-me chorar - e chorai!
    As lágrimas lavarão ao menos a vergonha de estarmos vivos,
    de termos sancionado com o nosso silêncio o crime feito instituição,
    e enquanto chorarmos talvez julguemos nosso o drama,
    por momentos será nosso um pouco do sofrimento alheio,
    por um segundo seremos os mortos e os torturados,
    os aleijados para toda a vida, os loucos e os encarcerados,
    seremos a terra podre de tanto cadáver,
    seremos o sangue das árvores,
    o ventre doloroso das casas saqueadas,
    sim, por um momento seremos a dor de tudo isto. . .

    Eu não sei porque me caem as lágrimas,
    porque tremo e que arrepio corre dentro de mim,
    eu que não tenho parentes nem amigos na guerra,
    eu que sou estrangeiro diante de tudo isto,
    eu que estou na minha casa sossegada,
    eu que não tenho guerra à porta,
    - eu porque tremo e soluço?
    Quem chora em mim, dizei - quem chora em nós?

    Tudo aqui vai como um rio farto de conhecer os seus meandros:
    as ruas são ruas com gente e automóveis,
    não há sereias a gritar pavores irreprimíveis,
    e a miséria é a mesma miséria que já havia...
    E se tudo é igual aos dias antigos,
    apesar da Europa à nossa volta, exangüe e mártir,
    eu pergunto se não estaremos a sonhar que somos gente,
    sem irmãos nem consciência, aqui enterrados vivos,
    sem nada senão lágrimas que vêm tarde, e uma noite à volta,
    uma noite em que nunca chega o alvor da madrugada...


    Adolfo Casais Monteiro (nasceu no Porto em 4 de Julho 1908; m. em São Paulo em 23 de Julho 1972)

    Ler do mesmo autor, neste blog: Fado

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    Paz Aos Mortos - Adolfo Casais Monteiro

    Detestei sempre os arquitectos de infinito:
    como é feio fugir quando nos espera a vida!
    Nunca tive saudades do futuro
    e o passado… o passado vivi-o, que fazer?!
    - e não gosto que me ordenem venerá-los
    se eu todo não basto a encher este presente.

    Não tenho remorsos do passado. O que vivi, vivi
    Tenho, talvez, desprezo
    por esta débil haste que raramente soube
    merecer os dons da vida,
    e se ficava hesitante
    na hora de passar da imaginação à vida.

    As pazadas de terra cobrindo o que já fui
    sabem mal, às vezes; noutros dias
    deliro quando lanço à vala um desses seres tristonhos
    que outrora fui, sem querer

    (Sempre e Sem Fim, 1937)
    Extraído de Poemas Portugueses Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI, Porto Editora

    Adolfo Casais Monteiro (nasceu no Porto a 4 de Julho de 1918 e faleceu em São Paulo a 23 de Julho de de 1972)

    Ler do mesmo autor, neste blog, FADO

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    Happy Birthday Alyssa Miller


    Alyssa Miller

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    2011-07-03

    Ironia do Coração - Luís Murat



    Como estavas formosa entre o mar e a minh'alma!
    Ias partir... no céu vinha rompendo a aurora.
    Eu te pedia - luz, tu me pedias - calma;
    Eu te dizia: - "Crê"; tu me dizias: - "Chora!"

    Beijei-te as mãos, beijei-te os pequeninos pés,
    Como os lábios de um padre um assoalho sagrado.
    Longe, ouvia-se ainda, entre os caramanchéis,
    A melodiosa voz do luar apaixonado.

    "É a voz do nosso amor, nos esponsais das flores.
    Não chores mais, acalma a tua ansiedade.
    Assim, como hei de eu dar tréguas às minhas dores,
    E recalcar no peito esta amarga saudade?"

    Partiste... Sobre mim cerrou-se a escuridão.
    E eu não ouso subir aos meus sonhos agora,
    Porque, irônico e mau, me grita o coração,
    Quando não creio: "crê!", quando não choro: "chora!"

    Poema extraído do sítio da Academia Brasileira de Letras
    Luís Morton Barreto Murat (nasceu em Resende, RJ, em 4 de Maio de 1861, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 3 de Julho de 1929).

    Ler do mesmo autor neste blog: O Poder das Lágrimas; Além Ainda
    Penas Perdidas

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