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2017-03-17

Quanto, Quanto Me Queres? - António Botto

Quanto, quanto me queres? - perguntaste
Numa voz de lamento diluída;
E quando nos meus olhos demoraste
A luz dos teus senti a luz da vida.

Nas tuas mãos as minhas apertaste;
Lá fora da luz do Sol já combalida
Era um sorriso aberto num contraste
Com a sombra da posse proibida...

Beijámo-nos, então, a latejar
No infinito e pálido vaivém
Dos corpos que se entregam sem pensar...

Não perguntes, não sei - não sei dizer:
Um grande amor só se avalia bem
Depois de se perder.

in Poemas de Amor, Antologia de posia portuguesa, Organização e prefácio de Inês Pedrosa, Publicações Dom Quixote

António Tomaz Botto nasceu a 17 de Agosto de 1897, em Casal da Concavada, Abrantes e faleceu no Rio de Janeiro a 17 de Março de 1959)

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2016-03-17

4 [Volto breve. E, se tardar] - António Botto

«Volto breve. E se tardar.
Mandarei uma notícia.»
- Dizias tu
Num aprumo juvenil
Apertando a minha mão.

Duvidei -
Manifestando
Essa dúvida. sorrindo...

E a promessa repetiu-se
Num outro aprumo mais lindo.

Habituado à descrença
E a sentir que tudo falha.
- Pobre de quem se concentra
Sem ouvir o coração!, -
Tentei, contudo, iludir-me,
Quis achar que me enganava,
E, afinal, - triste certeza!
Era certo o que eu pensava.

in Dandismo, 1928

António Tomaz Botto (nasceu em Concavada, Abrantes a 17 de agosto de 1897 e morreu no Rio de Janeiro a 17 de março de 1959)

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2015-03-17

Quem é pobre sempre é pobre - António Botto

Quem é pobre sempre é pobre,
Quem é pobre nada tem;
Quem é rico sempre é nobre
E às vezes não é ninguém.
Complicada afirmação
Esta – de ter e não ter!...-
O que importa é ter razão,
Saber amar e sofrer!
Quanto a bens materiais,
Coisas que a sorte nos dá
Ou o trabalho conquista,
É tudo sem consistência:
- Antes a cruel saudade
Que me deu a tua ausência.


António Tomaz Botto nasceu a 17 de agosto de 1897, em Casal da Concavada, Abrantes e faleceu no Rio de Janeiro a 17 de março de 1959.

Ler do mesmo autor, neste blog:

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2014-03-17

Canção - António Botto

Se fosses luz serias a mais bela
De quantas há no mundo: — a luz do dia!
— Bendito seja o teu sorriso
Que desata a inspiração
Da minha fantasia!
Se fosses flor serias o perfume
Concentrado e divino que perturba
O sentir de quem nasce para amar!
— Se desejo o teu corpo é porque tenho
Dentro de mim
A sede e a vibração de te beijar!
Se fosses água, música da terra,
Serias água pura e sempre calma!
— Mas de tudo que possas ser na vida
Só quero, meu amor, que sejas alma!


in Rosa do Mundo, 2001 Poemas para o Futuro, Assírio Alvim

António Tomaz Botto (nasceu em Concavada, Abrantes a 17 de Agosto de 1897 e morreu no Rio de Janeiro a 17 de Março de 1959)

Do mesmo autor:
Meus Olhos Que Por Alguém
Homem, que vens de humanas desventuras
Nem Sequer Podia
Porque me negas um beijo?
Cinco Réis de Gente
Não me peças mais canções
Envolve-me Amorosamente
Quanto, quanto me queres?- perguntaste -

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2013-03-17

Quanto, quanto me queres ? - perguntaste - António Botto

Quanto, quanto me queres? - perguntaste
Numa voz de lamento diluída;
E quando nos meus olhos demoraste
A luz dos teus senti a luz da vida.

Nas tuas mãos as minhas apertaste;
Lá fora da luz do Sol já combalida
Era um sorriso aberto num contraste
Com a sombra da posse proibida...

Beijámo-nos, então, a latejar
No infinito e pálido vaivém
Dos corpos que se entregam sem pensar...

Não perguntes, não sei - não sei dizer:
Um grande amor só se avalia bem
Depois de se perder.

in Poemas de Amor, Antologia de posia portuguesa, Organização e prefácio de Inês Pedrosa, Publicações Dom Quixote

António Tomaz Botto nasceu a 17 de Agosto de 1897, em Casal da Concavada, Abrantes e faleceu no Rio de Janeiro a 17 de Março de 1959)

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2012-08-17

Quanto, quanto me queres? - perguntaste - António Botto

Quanto, quanto me queres? - perguntaste
Numa voz de lamento diluída;
E quando nos meus olhos demoraste
A luz dos teus senti a luz da vida.

Nas tuas mãos as minhas apertaste;
Lá fora da luz do Sol já combalida
Era um sorriso aberto num contraste
Com a sombra da posse proibida...

Beijámo-nos, então, a latejar
No infinito e pálido vaivém
Dos corpos que se entregam sem pensar...

Não perguntes, não sei - não sei dizer:
Um grande amor só se avalia bem
Depois de se perder.


in Poemas de Amor, Antologia de poesia portuguesa, Organização e prefácio de Inês Pedrosa, Publicações Dom Quixote

António Tomaz Botto nasceu a 17 de agosto de 1897, em Casal da Concavada, Abrantes e faleceu no Rio de Janeiro a 17 de março de 1959)

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2011-03-17

Meus olhos que por alguém - António Botto, na voz de Mariza + Nem sequer podia...


Meus olhos que por alguém
deram lágrimas sem fim
já não choram por ninguém
- basta que chorem por mim.
Arrependidos e olhando
a vida como ela é,
meus olhos vão conquistando
mais fadiga e menos fé.
Sempre cheios de amargura!
Mas se as coisas são assim,
chorar alguém - que loucura!
- Basta que eu chore por mim.



2

Nem sequer podia
Ouvir falar no teu nome.
E se fixava o teu vulto,
Irritava-me, sofria
Por não poder insultar-te...

Até que nos encontrámos!

Choviscava, anoitecia.
- uma chuvinha
Impertinente e gelada
Como sorriso de ironia
Numa boca desejada.

Já não sei o que disseste;
Nem me lembro do que disse...

A chuva continuava.
Atravessámos um jardim.
E à luz fosca
Dum candeeiro,
Segredaste ao meu ouvido:
Quero entregar-te o meu corpo.
E eu acrescentei: - Pois sim.

A chuva tornou-se densa.
Eu ia todo encharcado.
Por fim, chegámos; entrei...

Um marinheiro descia
Ajeitando a camisola
E compondo os caracóis.
Era uma casa vulgar
Aonde o amor
- Oculto a todos os Sóis,
Se dava e prostituía
A troco da real mola.

Arrependi-me. Blasfemei;
Mas quando abandonei os teus braços
Senti que tinha mais alma!

E nunca mais te encontrei!


(Ciúme, 1934)
António Tomaz Botto nasceu a 17 de Agosto de 1897, em Casal da Concavada, Abrantes e faleceu no Rio de Janeiro a 17 de Março de 1959)

Ler do mesmo autor, neste blog:

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2010-11-26

Mariza escolheu a cidade do Porto para apresentação mundial do seu último trabalho ... e eu estive lá!


Mariza apresentou há algumas horas no Coliseu do Porto, esgotado - bem... à minha esquerda estavam dois lugares vendidos mas desocupados: que desperdício! - o seu último trabalho intitulado Fado Tradicional, em, estreia mundial. O disco é posto hoje à venda.

"Fado Tradicional" é o quinto album de estúdio de Mariza e foi gravado no Lisboa Estúdios, entre Julho e Setembro, pelo músico e produtor Diogo Clemente. Trata-se de um trabalho em que Mariza canta, em tom de homenagem, poetas e fados de sempre que a marcaram desde a infância e junta a eles a contemporaneidade e visão pessoal que a caracterizam.

O cenário do espectáculo, desenhado por Frank Gehri, visou obter uma atmosfera intimista de uma taberna da Mouraria (a taberna do pai) em que desde a infância a cantora aprendeu a apreciar o Fado. Com gente no palco sentado em cadeiras em redor de meia dúzia de mesas, a cantora apresentou-se em tons vermelho e preto.

A fadista é acompanhada por Ângelo Freire (guitarra portuguesa), Diogo Clemente (viola) e Marino de Freitas (viola-baixo).

A noite musical começou com "devagar devagarinho se vai ao longe".

O público aderiu com entusiasmo especialmente quando foi convidado pela excelente intérprete portuguesa a participar em:

«Quem tem, quem tem
Amor a seu jeito
Colha a rosa branca
Ponha a rosa ao peito»


Este trabalho e portanto, também o espectáculo, incluiu um dueto com Artur Batalha, "Promete jura",

Se estás a pensar em mim, promete jura
se sentes como eu o vento a soluçar
as verdades mais certas mais impuras
que as nossa bocas tem pra contar.

Se sentes lá para a chuva estremecida
como desenlaçar uma aventura,
foram ficar por todo a vida, rediz
se sentes como eu promete jura

Se sentires este fogo que me queima
se sentires o teu corpo em tempestade
luta por mim amor, arrisca teima
abraça este desejo que me invade

Se sentes meu amor o que eu não disse
além de tudo o mais que não dissemos,
é que não houve verso que sentisse,
aquilo que eu te dei e tu me deste

(Letra de Maria João Dâmaso e música de Sérgio José Dâmaso)

e ainda temas de autoria de António Botto, Fernando Pessoa, Amália Rodrigues, Alfredo Marceneiro e Diogo Clemente, entre outros.

O alinhamento do disco, que não o do espectáculo, é:

1. Fado Vianinha - Fado Vianinha - (Francisco Viana)
2. Promete, Jura - Fado Sérgio - (Maria João Dâmaso / Sérgio Dâmaso)
3. As Meninas dos Meus Olhos - Fado Alfacinha - (Fernando Pinto Ribeiro / Jaime Santos)
4. Mais Uma Lua - Fado Varela - (Diogo Clemente / Reinaldo Varela)
5. Dona Rosa - Fado Bailarico - (Fernando Pessoa / Alfredo Marceneiro)
6. Ai, Esta Pena de Mim - Fado Zé António - (Amália Rodrigues / José António Guimarães Serôdio)
7. Na Rua do Silêncio - Fado Alexandrino - (António Sousa Freitas / Joaquim Campos)
8. Rosa da Madragoa - Fado Seixal - (Frederico de Brito / José Duarte)
9. Boa Noite Solidão - Fado Carlos Da Maia - (Jorge Fernando)
10. Desalma - Fado Alberto - (Diogo Clemente / Miguel Ramos)
11. Meus Olhos Que Por Alguém - Fado Menor do Porto - (António Botto / José Joaquim Cavalheiro Jr.)
12. Promete, Jura [com Artur Batalha] - Fado Sérgio - (Maria João Dâmaso / Sérgio Dâmaso)

Temas extra da edição especial:
13. Olhos da Cor do Mar - Fado Amora - (João Ferreira-Rosa e Óscar Alves / Joaquim Campos)
14. Lavava no Rio, Lavava - Fado Lavava No Rio, Lavava - (Amália Rodrigues / Fontes Rocha)

Ao ritmo e alegria de Rosa Branca e maiores ovações à interpretação de temas conhecidos da cantora, nomeadamente Cavaleiro Monge e Fado da Primavera interpôs-se trabalhos mais intimistas e emocionados

Meus olhos que por alguém
deram lágrimas sem fim
já não choram por ninguém
- basta que chorem por mim.
Arrependidos e olhando
a vida como ela é,
meus olhos vão conquistando
mais fadiga e menos fé.
Sempre cheios de amargura!
Mas se as coisas são assim,
chorar alguém - que loucura!
- Basta que eu chore por mim.

António Botto

Com passagens conhecidas por:
Tenho saudades de mim
Do meu amor, mais amado
Eu canto um país sem fim
O mar, a terra, o meu fado
Meu fado, meu fado, meu fado, meu fado.

De mim só me falto eu
Senhora da minha vida
Do sonho, digo que é meu
E dou por mim já nascida


Houve tempo para um instrumental e para uma interpretação "sem estas modernices de agora", ou seja, sem amplificação.

A apoteose final, depois de palavras da cantora dizendo que passa metade do ano em viagens fora do país: aeroporto - hotel - teatro ; teatro-hotel-aeroporto, e scuts, segundo chiste da plateia, foi com o extraordinário "Ó Gente da Minha Terra".

Este disco será, certamente, mais um sucesso.

Obrigado Mariza!

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2010-08-17

Porque me negas um beijo? - António Botto

Porque me negas um beijo?

Teu hostil retraimento
amolece os restos do meu alento
Para a vida
E aumenta o meu desejo...

Porque me negas um beijo.
Linda boca,
-Flor mordida?

A minha tristeza
Provém do teu hostil retraimento
E também
Do incerto e trágico destino
Que nós temos;
Desse mistério insondável
Que nos rodeia
E do pouco que nós somos
Na eterna corrente das coisas

Porque me negas um beijo?


António Tomaz Botto (nasceu em Concavada, Abrantes a 17 de Agosto de 1897 e morreu no Rio de Janeiro a 17 de Março de 1959)

Ler do mesmo autor, neste blog:

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2010-06-01

Porque hoje é Dia da Criança : Cinco Réis de Gente - António Botto

Vai sempre na frente
dos outros que vão
cedo para a escola;
corpinho delgado,
o olhar mariola,
- belos os cabelos,
quantos caracóis!
mas as mangas rotas
nos dois cotovelos
são de andar no chão
atrás dos novelos!
Nos olhos dois sóis
que alumiam tudo!
A mãe, tecedeira,
perdeu o marido,
mas vive encantada
para o seu miúdo!

António Botto (1897 - 1959)

Poema extraído de Cem Poemas Portugueses sobre a Infância, selecção, organização e introdução de José Fanha e José Jorge Letria, Terramar

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2010-03-17

Nem Sequer Podia - António Botto

Nem sequer podia
ouvir falar no teu nome.
E se fixava o teu vulto,
Irritava-me, sofria
Por não poder insultar-te...
Até que um dia,
-Foi no Inverno, anoitecia.
Chuviscava; - uma chuvinha
Impertinente e gelada
Como sorriso de ironia
Numa boca desejada.

Já não sei o que disseste
Nem me lembro do que disse...

A chuva continuava,
Atravessámos um jardim.
E à luz fosca
Dum candeeiro,
Segredaste ao meu ouvido:
Quero entregar-te o meu corpo.
E eu acrescentei: Pois sim.

A chuva tornou-se densa.
Eu ia todo encharcado.
Por fim, chegámos; entrei...
Um marinheiro descia
Ajeitando a camisola
E compondo os caracóis.

Era uma casa vulgar,
Aonde o amor
- Oculto a todos os sóis,
Se vendia a troco da "real mola".

Arrependi-me. Blasfemei...
Mas quando abandonei os teus braços
Senti que tinha mais alma!

E nunca mais te encontrei!


in Os poemas da minha vida - Mário Soares, Público

António Tomaz Botto (nasceu em Concavada, Abrantes a 17 de Agosto de 1897 e morreu no Rio de Janeiro a 17 de Março de 1959)

Ler do mesmo autor, neste blog:

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2009-08-17

Canção - António Botto (no 112º. aniversário do nascimento)

Se fosses luz serias a mais bela
De quantas há no mundo: — a luz do dia!
— Bendito seja o teu sorriso
Que desata a inspiração
Da minha fantasia!
Se fosses flor serias o perfume
Concentrado e divino que perturba
O sentir de quem nasce para amar!
— Se desejo o teu corpo é porque tenho
Dentro de mim
A sede e a vibração de te beijar!
Se fosses água, música da terra,
Serias água pura e sempre calma!
— Mas de tudo que possas ser na vida
Só quero, meu amor, que sejas alma!

in Rosa do Mundo, 2001 Poemas para o Futuro, Assírio Alvim

António Tomaz Botto (nasceu em Concavada, Abrantes a 17 de Agosto de 1897 e morreu no Rio de Janeiro a 17 de Março de 1959)

Ler do mesmo autor, neste blog:
Homem, que vens de humanas desventuras;
Quanto, Quanto me Queres?;
Não me peças mais canções;
Envolve-me Amorosamente.

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2009-03-17

Quanto, Quanto me Queres? - António Botto (que faleceu faz hoje 50 anos)

Quanto, quanto me queres? - perguntaste
Numa voz de lamento diluída;
E quando nos meus olhos demoraste
A luz dos teus senti a luz da vida.

Nas tuas mãos as minhas apertaste;
Lá fora da luz do Sol já combalida
Era um sorriso aberto num contraste
Com a sombra da posse proibida...

Beijámo-nos, então, a latejar
No infinito e pálido vaivém
Dos corpos que se entregam sem pensar...

Não perguntes, não sei - não sei dizer:
Um grande amôr só se avalia bem
Depois de se perder.


in Poemas de Amor, Antologia de posia portuguesa, Organização e prefácio de Inês Pedrosa, Publicações Dom Quixote

António Tomaz Botto (nasceu em Concavada (Abrantes) a 17 de Agosto de 1897 e morreu no Rio de Janeiro a 17 de Março de 1959)

Ler do mesmo autor, neste blog, Homem, que vens de humanas desventuras

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2008-03-17

Homem, que vens de humanas desventuras - António Botto

"Paisagem de Sèvres"; óleo sobre tela 54 x 66 cm
Sílvio Pinto n. no Rio de Janeiro a 17 de março de 1918
(m. Rio de Janeiro 3 de Abril de 1997)

Homem, que vens de humanas desventuras,
que te prendes à vida e te enamoras,
que tudo sabes e que tudo ignoras,
vencido herói de todas as loucuras,

que te debruças pálido nas horas
das tuas infinitas amarguras,
e na ambição das coisas mais impuras
és grande simplesmente quando choras,

que prometes cumprir e que te esqueces,
que te dás à virtude e ao pecado,
que te exaltas e cantas e aborreces,

arquitecto do sonho e da ilusão,
ridículo fantoche articulado
− eu sou teu camarada e teu irmão.


António Tomaz Botto nasceu em Concavada (Abrantes) a 17 de Agosto de 1897 e morreu no Rio de Janeiro a 17 de Março de 1959, após vários dias em estado de coma, devido a atropelamento por uma viatura automóvel. Poeta maldito, a publicação das «Canções», em 1921, constituiu um tal escândalo que o livro foi apreendido no ano seguinte, por ordem do Governo. Eram poemas confessionais, de um erotismo anómalo exacerbado, que faziam a exaltação da beleza masculina. Homossexual assumido, o seu autor foi expulso em 1942 do funcionalismo público e, em 1947, abalou para o Brasil. Muito admirado por Fernando Pessoa, José Régio e outros, os seus versos juntavam à linearidade verbal a riqueza rítmica. Eram um misto de esteticismo e populismo, narcisismo e megalomania. O seu erotismo era triste, de tom elegíaco. O poeta foi também contista e dramaturgo, abordou o realismo social (Alfama e o fado), mas a decadência final era mais que evidente.

Soneto e Nota biobliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria É a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004).

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2007-08-17

Não me peças mais canções - António Botto

Se passares pelo adro
No dia do meu enterro,
Dize à terra que não coma
Os anéis do meu cabelo.

Já não digo que viesses
Cobrir de rosas meu rosto,
Ou que num choro dissesses
A qualquer do teu desgosto;

Nem te lembro que beijasses
Meu corpo delgado e belo,
Mas que sempre me guardasses
Os anéis do meu cabelo.

Não me peças mais canções
Porque a cantar vou sofrendo;
Sou como as velas do altar
Que dão luz e vão morrendo.

Se a minha voz conseguisse
Dissuadir essa frieza
E a tua boca sorrisse !
Mas sóbria por natureza

Não a posso renovar
E o brilho vai-se perdendo...
- Sou como as velas do altar
Que dão luz e vão morrendo.



António Tomaz Botto (n. em Concavada, Abrantes em 17 de Agosto de 1897; m. no Rio de Janeiro a 17 de Mar 1959)

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2007-03-17

Envolve-me amorosamente

Envolve-me amorosamente
Na cadeia de teus braços
Como naquela tardinha...
Não tardes, amor ausente;
Tem pena da minha mágoa,
Vida minha!

Vai a penumbra desabrochando
Na alcova
Aonde estou aguardando
A tua vinda...
Não tardes, amor ausente!
Anoitece. O dia finda...
E as rosas desfalecendo
Vão caindo e murmurando:
- Queremos que Ele nos pise!
Mas, quando vem Ele, quando?...

António Botto (n. em Alvega, Abrantes 17 Ago 1897, m. no Brasil em 17 Mar 1959)

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2006-03-17

Homem que vens de humanas desventuras... - António Botto

Homem que vens de humanas desventuras,
Que te prendes à vida, te enamoras,
Que tudo sabes mas que tudo ignoras,
Vencido herói de todas as loucuras.

Que te ajoelhas pálido nas horas
Das tuas infinitas amarguras
E na ambição das causas mais impuras
És grande simplesmente quando choras.

Que prometes cumprir para esquecer,
E trocando a virtude no pecado
Ficas brutal se ele não der prazer.

Arquitecto do crime e da ilusão,
Ridículo palhaço articulado,
Eu sou teu companheiro, teu irmão.

António Tomaz Botto (n. em Concavada, Abrantes a 17 Ago 1897 , m. no Rio de Janeiro a 17 Mar 1959)

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