Amor, morte, poesia, política, actualidade, futebol, efemérides, solidão, paz, humor, musica...tudo e nada; Here we talk about life, love, death, On this day in History, poetry, politics, football (soccer), solitude, peace, humour, music ... nothing and all.
Não me lembro do dia em que nasci; não sei em que dia morrerei. Vem, minha doce amiga, vamos beber deste copo e esquecer a nossa incurável ignorância.
(Omar Kayyam)
... Verdadeiro valor não dão à gente: Melhor é merecê-los sem os ter Que possuí-los sem os merecer. (Os Lusíadas XCIII, Camões)
Um dia inventei-te, às vezes reinvento-te,
noutras não sei quem és, mas estás sempre comigo!
How extremely stupid not to have thought of that!
Que imensa estupidez não ter pensado nisso antes!
(Thomas Henry Husley)
Pachos na testa, terço na mão,
Uma botija, chá de limão,
Zaragatoas, vinho com mel,
Três aspirinas, creme na pele
Grito de medo, chamo a mulher.
Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer.
Mede-me a febre, olha-me a goela,
Cala os miúdos, fecha a janela,
Não quero canja, nem a salada,
Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada.
Se tu sonhasses como me sinto,
vejo a morte nunca te minto,
Já vejo o inferno, chamas, diabos,
anjos estranhos, cornos e rabos,
Vejo demónios nas suas danças
Tigres sem listras, bodes sem tranças
Choros de coruja, risos de grilo
Ai Lurdes, Lurdes fica comigo
Não é o pingo de uma torneira,
Põe-me a Santinha à cabeceira,
Compõe-me a colcha,
Fala ao prior,
Pousa o Jesus no cobertor.
Chama o Doutor, passa a chamada,
Ai Lurdes, Lurdes nem dás por nada.
Faz-me tisanas e pão de ló,
Não te levantes que fico só,
Aqui sozinho a apodrecer,
Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer.
António Lobo Antunes (nasceu em Lisboa a 1 de setembro de 1942).
Por que é que havia de me sentir sozinho? Raras vezes na minha vida, desde que me lembro de mim, tive um sentimento de solidão. E não me sinto mal na minha companhia, divertimo-nos muito os dois, eu e eu. Não me aborreço.
Uma coisa é o amor, outra é a relação. Não sei se, quando duas pessoas estão na cama, não estarão, de facto, quatro: as duas que estão mais as duas que um e outro imaginam.
fonte: Diário de Notícias, 09.11.2004
António Lobo Antunes nasceu em Lisboa a 1 de Setembro de 1942
Pachos na testa, terço na mão, Uma botija, chá de limão, Zaragatoas, vinho com mel, Três aspirinas, creme na pele Grito de medo, chamo a mulher. Ai Lurdes que vou morrer. Mede-me a febre, olha-me a goela, Cala os miúdos, fecha a janela, Não quero canja, nem a salada, Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada. Se tu sonhasses como me sinto, vejo a morte nunca te minto, Já vejo o inferno, chamas, diabos, anjos estranhos, cornos e rabos, Vejo demónios nas suas danças Tigres sem listras, bodes sem tranças Choros de coruja, risos de grilo Ai Lurdes, Lurdes fica comigo Não é o pingo de uma torneira, Põe-me a Santinha à cabeceira, Compõe-me a colcha, Fala ao prior, Pousa o Jesus no cobertor. Chama o Doutor, passa a chamada, Ai Lurdes, Lurdes nem dás por nada. Faz-me tisanas e pão de ló, Não te levantes que fico só, Aqui sozinho a apodrecer, Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer.
O escritor António Lobo Antunes foi galardoado com o Prémio Camões 2007. A atribuição do maior galardão literário dedicado à Literatura em Língua Portuguesa ao autor de Os Cús de Judas e do mais recente Ontem Não te vi em Babilónia foi anunciada há poucos minutos. Sucede, assim, a José Luandino Vieira, a quem foi atribuido o prémio em 2006 que o autor recusou receber.
O Prémio Camões foi instituído em 1988, pelo Protocolo Adicional ao Acordo Cultural entre o Governo da República Portuguesa e o Governo da República Federativa do Brasil e visa «consagrar anualmente um autor de língua portuguesa que, pelo valor intrínseco da sua obra, tenha contribuído para o enriquecimento do património literário e cultural da língua comum».