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2017-05-31

Soneto do Olhar - Guerra-Duval

(Para os teus olhos, para os teus olhares
o Soneto bordado de saudade
e a lisonja das silabas de seda.)

Pelo céu, pela noite, pelos mares,
Via-láctea de amor e claridade —
o teu olhar é plácida alameda,

onde a minh'alma, anêmica e doente,
anda bebendo o ar da vida nova,
nesse quebranto do convalescente
que fugiu ao mistério duma cova.

(Já estive à morte, sendo assim tão moço...)
— Tarde de calma e de melancolia
é o teu olhar; e, quando me olhas, ouço
tocar dentro de mim Ave-Maria.


Adalberto Guerra-Duval nasceu em Porto Alegre, em 31 de maio de 1872; m. em Petrópolis, a 15 de janeiro de 1947).

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2017-05-30

O Longe e o Perto - Ribeiro Couto

Jardim à Noite Uploaded on flickr.com by kapa jota

Logo que a noite envolve em sombras o jardim
Parece que um mistério estranho me rodeia,
Bocas de flores se entreabrem para mim,
E não sei de quem são estes passos na areia
Nem este murmurar de uma queixa sem fim.

Como a seiva da terra alimenta as raízes,
Uma seiva secreta enche meu coração.
Deve ser o tal "gosto amargo de infelizes",
Plantinha sempre verde entre as pedras do chão,
Cujo travo provei em todos os países.

Tudo que pude fiz para não ser assim,
Mas não posso esquecer o longe pelo perto;
Os que amei e perdi dormem dentro de mim;
A culpa é minha, sou eu mesmo que os desperto,
Logo que a noite envolve em sombras o jardim.


Ribeiro de Almeida Couto (n. Santos, São Paulo a 12 de março de 1898; m. em Paris a 30 de maio de 1963)

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2017-05-29

ESTRELA-GUIA - Solange Reich


Tenho de meu bem pouca coisa, mesmo.
E muito desse pouco posso partilhar
sem qualquer sentimento de perda.

Porque meu é o mar, que te oferto
e a brisa que me beija e que te beija.
Aquele beija-flor, sabias?,
também consta do meu inventário.

Meus canários – estes não cedo
porque só são meus enquanto livres.

Queres a minha estrela-guia? – Ali está.
Chama-se Intrometida.
Ela tem alma de mãe,
por isso, não vejo mal em dividi-la contigo.

in Versos do Tempo Quase, Florianópolis, Editograf, 2006

Solange Rech (Tubarão, Santa Catarina, Brasil, em 29 de maio de 1946 — Florianópolis, 29 de janeiro de 2008)

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2017-05-27

Céu da Boca - Ivete Sangalo



Ivete Maria Dias de Sangalo Cady (Juazeiro, Bahia, 27 de maio de 1972)

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2017-05-26

SONHOS DE SOL - Antônio Tavernard

Nsta manhã tão clara é sacrilégio
o se pensar na morte. No entanto
é no que penso úmidos de pranto
os meus olhos cansados.

Sortilégio
de luz pela cidade... As casas todas,
humildes e branquinhas
lembram gráceis e tímidas mocinhas
no dia de suas bodas.

Morrer assim numa manhã tão linda,
risonha, rosicler,
não é morrer... é adormecer ainda
na doce tepidez de um seio de mulher!
Não é morrer... é só fechar os olhos
Para melhor sentir o cheiro do jasmim
Escondido da renda nos refolhos!...
Ah! Quem me dera que eu morresse assim.


Antônio de Nazaré Frazão Tavernard nasceu na Vila São João de Pinheiro, atual Icoaraci, em Belém, Pará, a 10 de outubro de 1908 — m. Belém a 26 de maio de 1936

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2017-05-25

Sem título [Quero... porém, sem querer...] - Eduardo Ramos


Quero... porém, sem querer...
Amo, e muito... sem amar...
Tenho um prazer... sem prazer...
Sou como quem busca ver -
mas... que prefere cegar...

Se eu dissesse: "Não!" mentia.
Se: "Sim!" faltava à verdade.
Tenho a calma... da agonia:
Metade, sou de alegria,
Sou de dor a outra metade...

Que a face alegre aparente...
Que importa? - a face escondida,
Como n’água transparente,
Vê-se um tumulto latente
No fundo de minha vida...

Porque... Quero... sem querer.
Amo e muito... sem amar,
Sofro do próprio prazer...
Mando a minh’alma dizer,
E ela me manda calar...

(O Jornal, 28.01.1934)

Eduardo Ramos (E. Pires R.), jurista, nasceu em Salvador, BA, em 25 de maio de 1854, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 15 de maio de 1923.

Biografia e poema extraídos do sítio da Academia Brasileira de Letras

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2017-05-24

NO OBSCURO DAS MÃOS... - José Terra

No obscuro as mãos e só as mão, as puras
extremidades da matéria, as graves
e silenciosas, deambulantes formas,
as flores estranhas que pela noite sobem

com o seu peso de amargura e esperança,
modelando um sopro, um hálito, uma leve
flutuação da luza que é o suporte
da alma gasta pelas horas lentas.

No obscuro as mãos, trémulas, vivas,
asas buscando o corpo e o espaço,
densas flutuando, o reprimido

voo erguendo além dos olhos
até onde um toque subtil desgarre
a fonte oculta, o resplendor de um rosto.

José Terra é o pseudónimo de José Fernandes da Silva, nascido a 24 de maio de 1928 em Prozelo, no concelho de Arcos de Valdevez, faleceu em Paris, 17 de janeiro de 2014.

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2017-05-23

Midnight dreams - José Asunción Silva


À noite, estando só e meio adormecido
meus sonhos de outras épocas eu via aparecidos.

Os sonhos de esperanças, de glórias, de alegrias
e de felicidades que nunca foram minhas

foram se aproximando em lentas procissões
e da alcova obscura povoaram os rincões

houve um silêncio grave em todo o aposento
e no relógio o pêndulo deteve-se um momento.

A fragrância indecisa de um aroma esquecido
chegou como um fantasma e me falou do passado.

Vi rostos que a tumba há muito tempo esconde,
e ouvi vozes ouvida já não me lembro onde.

........

Os sonhos se acercaram e me viram adormecido
foram se afastando, sem me fazer ruído

e sem pisar os fios sedosos da alfombra
foram se desfazendo e fundindo-se na sombra.

Trad. Lucila Nogueira

in MUNDO MÁGICO: POESIA COLOMBIANA NO SÉCULO XX
Organização, tradução e revisão: Floriano Martins e Lucila Nogueira.

José Asunción Silva (n. Bogotá, Colômbia 27 de novembro de 1865; m. Bogotá, 23 de maio 1896)

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2017-05-10

Luar do Sertão - Catulo da Paixão Cearense (na voz de Luiz Gonzaga)


Não há, ó gente, oh não
Luar como este do sertão...

Oh, que saudade do luar da minha tema
Lá na serra branquejando, folhas secas pelo chão
Esse luar cá da cidade tão escuro
Não tem aquela saudade do luar lá do sertão

Não há, ó gente, oh não
Luar como este do sertão...
Não há, ó gente, oh não
Luar como este do sertão...

Se a lua nasce por detrás da verde mata
Mais parece um sol de prata prateando a solidão
A gente pega na viola que ponteia
E a canção é a lua cheia a nos nascer do coração

Não há, ó gente, oh não
Luar como este do sertão...
Não há, ó gente, oh não
Luar como este do sertão...

Se Deus me ouvisse com amor e caridade
Me faria essa vontade, o ideal do coração:
Era que a morte a descontar me surpreendesse
E eu morresse numa noite de luar do meu sertão

Não há, ó gente, oh não
Luar como este do sertão...
Não há, ó gente, oh não
Luar como este do sertão.

Catulo da Paixão Cearense ( São Luís, 8 de outubro de 1863 — Rio de Janeiro, 10 de maio de 1946)

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2017-05-08

Até Sempre... - Luís Ferreira

As mãos perdidas definem sonhos,
Fecundo gesto que paira,
Como uma ave sem porto…
Naquela carta afogada.
As palavras deslizam sem sons,
Pétalas de uma rosa desfolhada varrem o vazio,
Despindo o jardim
Entre as vagas dos acenos da saudade.
Letra a letra,
Desnudo a minha alma,
Sereno…
Sinto o sangue dos espinhos,
Entre as lágrimas derramadas.
Talvez…
A minha face dispa o túmulo da minha voz,
Soletrando em murmúrios
Os silêncios libertos da memória.
Corvos que pairam no destino,
O meu… o meu talvez,
Nas dúvidas que engoliram a terra crua,
Libertando o triste aroma,
Entre o ventre dos desejos esquecidos.
Um dia…
Os meus dedos irão despertar
As sombras partirão das raízes
Novas linhas serão preenchidas,
Para de novo,
Acariciar o céu com as minhas asas.

Luís Manuel Marques Ferreira nasceu no Barreiro a 8 de maio de 1970

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2017-05-05

Retrato - Luís Amaro

Um silêncio, um olhar, uma palavra
Nasceste assim na minha vida,
Inesperada flor de aroma denso,
Tão casual e breve.

Já te visionara no meu sonho,
Imagem de segredo esparsa ao vento
Da noite rubra, delicada, intacta.
E pressentira teu hálito na sombra
Que minhas mãos desenham, inquietas.

Existias em mim... O teu olhar
Onde cintila, pura a madrugada,
Guardara-o no meu peito, ó invisível,
Flutuante apelo das raízes
Que teimam em prender-te, minha vida!

in 366 poemas que falam de amor, uma antologia organizada por Vasco Graça Moura, Quetzal

Francisco Luís Amaro nasceu em Aljustrel, em 05 de maio de 1923

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2017-05-04

Cidade Mulher - Noel Rosa (na passagem dos 80 anos da sua morte)


Noel Rosa - Cidade Mulher por BeatBrazil



Cidade de amor e ventura
Que tem mais doçura
Que uma ilusão
Cidade mais bela que o sorriso
Maior que o paraíso
Melhor que a tentação
Cidade que ninguém resiste
Na beleza triste
De um samba-canção
Cidade de flores sem abrolhos
Que encantando nossos olhos
Prende o nosso coração

Cidade notável
Inimitável
Maior e mais bela que outra qualquer
Cidade sensível
Irresistível
Cidade do amor, cidade mulher

Cidade de sonho e grandeza
Que guarda riqueza
Na terra e no mar
Cidade do céu sempre azulado
Teu sol é namorado
Das noites de luar
Cidade padrão de beleza
Foi a natureza
Quem te protegeu
Cidade de amores sem pecado
Foi juntinho ao Corcovado
Que Jesus Cristo nasceu.

Noel de Medeiros Rosa (Rio de Janeiro, 11 de dezembro de 1910 — Rio de Janeiro, 4 de maio de 1937)

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2017-05-03

Silence - Thomas Hood

There is a silence where hath been no sound,
There is a silence where no sound may be,
In the cold grave—under the deep deep sea,
Or in the wide desert where no life is found,
Which hath been mute, and still must sleep profound;
No voice is hush’d—no life treads silently,
But clouds and cloudy shadows wander free,
That never spoke, over the idle ground:
But in green ruins, in the desolate walls
Of antique palaces, where Man hath been,
Though the dun fox, or wild hyena, calls,
And owls, that flit continually between,
Shriek to the echo, and the low winds moan,
There the true Silence is, self-conscious and alone.

Thomas Hood (n. Londres, 23 de maio de 1799, † Devonshire Lodge, Finchley Road (Londres), 3 de maio de 1845)

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2017-05-02

PÁGINA DESCONHECIDA - Adelino Fontoura

À brisa, ao sol, à serra, à flor silvestre
Ao ribeiro que corre cristalino,
Ao canto alegre e doce, matutino,
Das avezinhas no arvoredo agreste;

À campina que do orvalho a manhã veste,
Eu, sem de Homero ter o alto destino,
Um conto fui pedir áureo, divino,
Radiante dessa luz alva e celeste!

Com ele ornar quisera, alegremente,
O teu álbum mimoso — onde o talento
o teu génio se curva ao fogo ingente;

Mas, não tenho de Dante o pensamento,
Não acho inspiração na luz fulgente
Pra um canto te ofertar com sentimento.

in A Republica, orgão do Partido Republicano, Anno I, número 170, de 17 de setembro de 1890, Estado do Pará, Belém, pág. 3 aqui

Adelino Fontoura Chaves (Axixá, Maranhão, Brsil, 30 de março de 1859 — Lisboa, Portugal, 2 de maio de 1884)

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