Do supérfluo - Henriqueta Lisboa
Paisagem Tempestuosa by Rembrandt Harmenszoon van Rijn
(n. Leiden, 15 de Julho de 1606 –m. Amesterdão, 4 de Outubro de 1669)
(n. Leiden, 15 de Julho de 1606 –m. Amesterdão, 4 de Outubro de 1669)
Também as cousas participam
de nossa vida. Um livro. Uma rosa.
Um trecho musical que nos devolve
a horas inaugurais. O crepúsculo
acaso visto num país
que não sendo da terra
evoca apenas a lembrança
de outra lembrança mais longínqua.
O esboço tão-somente de um gesto
de ferina intenção. A graça
de um retalho de lua
a pervagar num reposteiro
A mesa sobre a qual me debruço
cada dia mais temerosa
de meus próprios dizeres.
Tais cousas de íntimo domínio
talvez sejam supérfluas.
No entanto
que tenho a ver contigo
se não leste o livro que li
não viste a rosa que plantei
nem contemplaste o pôr-do-sol
à hora em que o amor se foi?
Que tens a ver comigo
se dentro em ti não prevalecem
as cousas — todavia supérfluas —
do meu intransferível patrimônio?
Henriqueta Lisboa (nasceu em Lambari, MG, em 15 de Julho de 1901 e morreu em Belo Horizonte em 9 de Outubro de 1985).
Este poema fez-me recordar uma canção de Rui Veloso, "Anel de Rubi" que a certo passo diz:
"...e era só a ti que eu mais queria
ao meu lado no concerto nesse dia
juntos no escuro de mão dada a ouvir
aquela musica maluca sempre a subir
mas tu não ficaste nem meia hora
nao fizeste um esforço pra gostar e foste embora
contigo aprendi uma grande liçao
nao se ama alguem que nao ouve a mesma canção"
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