Geme no berço enferma a criancinha,
Que não fala, não anda e já padece...
Penas assim cruéis por que as merece
Quem mal entrando na existência vinha?!
Ó melindroso ser, ó filha minha,
Se os céus ouvissem a paterna prece
E a mim o teu sofrer passar pudesse,
Gozo me fora a dor que te espezinha.
Como te aperta a angústia o frágil peito!
E Deus, que tudo vê, não ta extermina,
Deus que é bom, Deus que é pai, Deus que é perfeito...
Sim... é pai, mas a crença no-lo ensina:
— Se viu morrer Jesus, quando homem feito,
Nunca teve uma filha pequenina!...
Afonso Celso de Assis Figueiredo Jr. nasceu em Ouro Preto (MG) a 31 de Março de 1860 e expirou no Rio de Janeiro a 11 de Julho de 1938. Doutorou-se em Direito em 1881 e foi deputado em 1882. Filho do visconde de Ouro Preto, acompanhou o pai no exílio após a proclamação da República (1889), mas era abolicionista, socialista e anticlerical. De regresso, abandonou a política, recebeu o título de Conde Romano, em 1905, graças à sua poesia religiosa, e veio a ser director da Faculdade de Direito do Rio. Foi um representante do parnasianismo, pois revela influência de Gonçalves Crespo, mas um talento versátil levou-o a dispersar-se pela ficção, teatro, crítica e história, conferências e discursos, trabalhos jurídicos, etc.
Soneto e Nota biobliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.
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Rosa
Porto Celeste
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