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2013-04-30

SONETO - Maciel Monteiro

Formosa, qual pincel em tela fina
Debuxar jamais pôde ou nunca ousara;
Formosa, qual jamais desabrochara
Na primavera a rosa purpurina;

Formosa, qual se a própria mão divina
Lhe alinhara o contorno e a forma rara;
Formosa, qual jamais no céu brilhara
Astro gentil, estrela peregrina;

Formosa, qual se a natureza e a arte,
Dando as mãos em seus dons, em seus louvores,
Jamais soube imitar no todo ou em parte;

Mulher celeste, oh! anjo de primores!
Quem pode ver-te, sem querer amar-te?
Quem pode amar-te, sem morrer de amores?!


Antônio Peregrino MACIEL MONTEIRO, 2.º barão de Itamaracá, nasceu no Recife a 30 de abril de 1804 — m. Lisboa, 5 de janeiro de 1868.

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2013-04-29

Está Quase... BENFICA!...

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ÍTACA - Konstantinos Kaváfis

Quando partires de regresso a Ítaca,
deves orar por uma viagem longa,
plena de aventuras e de experiências.
Ciclopes, Lestrogónios, e mais monstros,
um Poseidon irado - não os temas,
jamais encontrarás tais coisas no caminho,
se o teu pensar for puro, e se um sentir sublime
teu corpo toca e o espírito te habita.
Ciclopes, Lestrogónios, e outros monstros,
Poseidon em fúria- nunca encontrarás,
se não é na tua alma que os transportes,
ou ela os não erguer perante ti.

Deves orar por uma viagem longa.
Que sejam muitas as manhãs de Verão,
quando, com que prazer, com que deleite,
entrares em portos jamais antes vistos!

Em colónias fenícias deverás deter-te
para comprar mercadorias raras:coral e madrepérola,
âmbar e marfim,e perfumes subtis de toda a espécie:
compra desses perfumes o quanto possas.
E vai ver as cidades do Egipto, para aprenderes com os que sabem muito.
Terás sempre Ítaca no teu espírito, que lá chegar é o teu destino último.
Mas não te apresses nunca na viagem.
É melhor que ela dure muitos anos,
que sejas velho já ao ancorar na ilha, rico do que foi teu pelo caminho,
e sem esperar que Ítaca te dê riquezas.
Ítaca deu-te essa viagem esplêndida.
Sem Ítaca, não terias partido.
Mas Ítaca não tem mais nada para dar-te.
Por pobre que a descubras, Ítaca não te traiu.
Sábio como és agora,
senhor de tanta experiência,
terás compreendido o sentido de Ítaca.

in "90 e mais quatro poemas", de Constantino Cavafy, trad por Jorge de Sena, ed. por Fora do Texto, Coimbra, 1970.


As you set out for Ithaca
hope your road is a long one,
full of adventure, full of discovery.
Laistrygonians, Cyclops,
angry Poseidon - don't be afraid of them:
you' ll never find things like that on your way
as long as you keep your thoughts raised high,
as long as a rare excitement
stirs your spirit and your body.
Laistrygonians, Cyclops,
wild Poseidon - you won't encounter them
unless you bring them along inside your soul,
unless your soul sets them up in front of you.

Hope your road is a long one.
May there be many summer mornings when,
with what pleasure, what joy,
you enter harbours you're seeing for the first time;
may you stop at Phoenician trading stations
to buy fine things,
mother of pearl and coral, amber and ebony,
sensual perfume of every kind -
as many sensual perfumes as you can;
and may you visit many Egyptian cities
to learn and go on learning from their scholars.

Keep Ithaca always in your mind.
Arriving there is what you're destined for.
But don't hurry the journey at all.
Better if it lasts for years,
so you're old by the time you reach the island,
wealthy with all you've gained on the way,
not expecting Ithaca to make you rich.

Ithaca gave you the marvelous journey.
Without her you wouldn't have set out.
She has nothing left to give you now.
And if you find her poor, Ithaca won't have fooled you.
Wise as you will have become, so full of experience,
you'll have understood by then what these Ithakas mean.

Ιθάκη

Σα βγεις στον πηγαιμό για την Ιθάκη,
να εύχεσαι νάναι μακρύς ο δρόμος,
γεμάτος περιπέτειες, γεμάτος γνώσεις.
Τους Λαιστρυγόνας και τους Κύκλωπας,
τον θυμωμένο Ποσειδώνα μη φοβάσαι,
τέτοια στον δρόμο σου ποτέ σου δεν θα βρείς,
αν μέν' η σκέψις σου υψηλή, αν εκλεκτή
συγκίνησις το πνεύμα και το σώμα σου αγγίζει.
Τους Λαιστρυγόνας και τους Κύκλωπας,
τον άγριο Ποσειδώνα δεν θα συναντήσεις,
αν δεν τους κουβανείς μες στην ψυχή σου,
αν η ψυχή σου δεν τους στήνει εμπρός σου.

Να εύχεσαι νάναι μακρύς ο δρόμος.
Πολλά τα καλοκαιρινά πρωϊά να είναι
που με τι ευχαρίστησι, με τι χαρά
θα μπαίνεις σε λιμένας πρωτοειδωμένους·
να σταματήσεις σ' εμπορεία Φοινικικά,
και τες καλές πραγμάτειες ν' αποκτήσεις,
σεντέφια και κοράλλια, κεχριμπάρια κ' έβενους,
και ηδονικά μυρωδικά κάθε λογής,
όσο μπορείς πιο άφθονα ηδονικά μυρωδικά·
σε πόλεις Αιγυπτιακές πολλές να πας,
να μάθεις και να μάθεις απ' τους σπουδασμένους.

Πάντα στον νου σου νάχεις την Ιθάκη.
Το φθάσιμον εκεί είν' ο προορισμός σου.
Αλλά μη βιάζεις το ταξίδι διόλου.
Καλλίτερα χρόνια πολλά να διαρκέσει·
και γέρος πια ν' αράξεις στο νησί,
πλούσιος με όσα κέρδισες στον δρόμο,
μη προσδοκώντας πλούτη να σε δώσει η Ιθάκη.

Η Ιθάκη σ' έδωσε το ωραίο ταξίδι.
Χωρίς αυτήν δεν θάβγαινες στον δρόμο.
Αλλο δεν έχει να σε δώσει πια.

Κι αν πτωχική την βρεις, η Ιθάκη δεν σε γέλασε.
Ετσι σοφός που έγινες, με τόση πείρα,
ήδη θα το κατάλαβες η Ιθάκες τι σημαίνουν.

Κωνσταντίνος Π. Καβάφης (1911)

Constantine P. Cavafy (also known as Konstantin or Konstantinos Petrou Kavafis, or Kavaphes; Greek: Κωνσταντίνος Π. Καβάφης; April 29, 1863 – April 29, 1933)


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2013-04-28

O RETRATO NAS PAREDES - Barros de Pinho

As casas como as pessoas
guardam cicatrizes
expostas no rosto do tempo.

Às casas sempre voltamos
nelas a vida anda por trás do que passou
existem na existência indo embora.

As casas onde morei para viver
na afoitosa e lúdica adolescência
abrem rugas na face branca das paredes.

De dentro delas saltam sonhos
que não querem envelhecer
e o menino açoitando o vento nas curvas do rio
que se arrasta na carne azul da paixão.


in "Poemas de Mesa"

José Maria de Barros Pinho (Teresina, Piauí 25 de maio de 1939 — Fortaleza, Ceará, 28 de abril de 2012)

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2013-04-26

O Recreio - Mário de Sá-Carneiro


Na minh'Alma há um balouço
Que está sempre a balouçar -
Balouço à beira dum poço,
Bem difícil de montar...

- E um menino de bibe
Sobre ele sempre a brincar...

Se a corda se parte um dia
(E já vai estando esgarçada),
Era uma vez a folia:
Morre a criança afogada...

- Cá por mim não mudo a corda,
Seria grande estopada...

Se o indez morre, deixá-lo...
Mais vale morrer de bibe
Que de casaca... Deixá-lo
Balouçar-se enquanto vive...

- Mudar a corda era fácil...
Tal ideia nunca tive...


Paris - outubro 1915

in Poemas Completos, edição Fernando Cabral Martins, Assírio & Alvim

Mário de Sá-Carneiro (n. Lisboa, 19 de Maio de 1890; m. em Paris, 26 de Abril de 1916 -suicídio).

Ler do mesmo autor neste blog:
Fim
Crise Lamentável
Escavação
Ápice
Além-Tédio
Quasi
Dispersão
I lost myself within myself... (tradução parcial do poema Dispersão)
Último Soneto
A Queda
IX - Como eu não possuo

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2013-04-25

Abril a as flores (vá lá que ainda se comemora o feriado...)




É preciso avisar toda a gente
Dar notícia, informar, prevenir
Que por cada flor estrangulada
Há milhões de sementes a florir.

É preciso avisar toda a gente
segredar a palavra e a senha
Engrossando a verdade corrente
duma força que nada a detenha.

É preciso avisar toda a gente
Que há fogo no meio da floresta
E que os mortos apontam em frente
O caminho da esperança que resta.

É preciso avisar toda a gente
Transmitindo este morse de dores
É preciso, imperioso e urgente
Mais flores, mais flores, mais flores.

João Apolinário Teixeira Pinto (Belas, Sintra, 18 de Janeiro de 1924 — Marvão, 22 de Outubro de 1988)

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Musical suggestion of the day: Ei-los que partem - Manuel Freire

Ei-los que partem
novos e velhos
buscando a sorte
noutras paragens
noutras aragens
entre outros povos
ei-los que partem
velhos e novos

Ei-los que partem
de olhos molhados
coração triste
e a saca às costas
esperança em riste
sonhos dourados
ei-los que partem
de olhos molhados

Virão um dia
ricos ou não
contando histórias
de lá de longe
onde o suor
se fez em pão
virão um dia
ou não



Manuel Augusto Coentro Pinho Freire (n. Vagos, 25 de Abril de 1942)

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¿Qué se ama cuando se ama? - Gonzalo Rojas

¿Qué se ama cuando se ama, mi Dios: la luz terrible de la vida
o la luz de la muerte? ¿Qué se busca, qué se halla, qué
es eso: amor? ¿Quién es? ¿La mujer con su hondura, sus rosas, sus volcanes,
o este sol colorado que es mi sangre furiosa
cuando entro en ella hasta las últimas raíces?

¿O todo es un gran juego, Dios mío, y no hay mujer
ni hay hombre sno un solo cuerpo: el tuyo,
repartido en estrellas de hermosura, en partículas fugaces
de eternidad visible?

Me muero en esto, oh Dios, en esta guerra
de ir y venir entre ellas por las calles, de no poder amar
trescientas a la vez, porque estoy condenado siempre a una,
a esa una, a esa única que me diste en el viejo paraíso.

Gonzalo Rojas Pizarro (n. Lebu, Chile, 20 dezembro 1917 – m. Santiago, Chile, 25 abril 2011)

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2013-04-24

NA ALCOVA - Zeferino Brazil

Formosa e diáfana visão de lenda,
Elsa, subindo o leito de escarlata,
o cortinado cerra, e a rir, desvenda
a alva nudez escultural e exata.

Antes que o fino laço se desprenda,
a loura coma em ondas se desata,
e a moça esconde em flóculos de renda
o régio corpo modelado em prata.

Doce perfume o colo lhe embalsama...
Abrindo as asas de rubi e lhama,
olha-a, entre flores, um cupido louro...

Cerra, afinal, as pálpebras de neve,
e o sonho desce, e estende, leve, leve,
sobre o leito o estrelado manto de ouro...


Zeferino Antônio de Souza Brazil, nasceu em 24 de Abril de 1870, em Porto Grande, Taquari, Rio Grande do Sul e faleceu em Porto Alegre, Rio Grande do Sul a 3 de Outubro de 1942).

Ler do mesmo autor, neste blog:
Mãe Natureza;
Zelos
Ser Pedra! Não Sofrer Nem Amar, Que Ventura
Formosura Ideal
Os Torturados

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2013-04-23

BookCrossing Blogueiro no Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor

O Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor foi instituído pela Unesco em 2005 como modo de promover o prazer da leitura.

O BookCrossing Blogueiro que já vai na VI Edição é uma iniciativa promovida pela comunidade blogueira que tem o mesmo propósito: promover o prazer da leitura. «a ideia é simples: escolher um livro, colocar um bilhete dentro informando que aquele livro foi esquecido de propósito e que aquele que o achar, ao acabar de lê-lo pode fazer o mesmo: esquecê-lo novamente. E deixar o livro em algum lugar: Banco de praça, ônibus, shopping, enfim vale a imaginação de cada um.»

A iniciativa este ano decorreu entre 16 e 23 de abril. A proposta do Nothingandall, associando a iniciativa ao Dia Mundial do Livro, concretizou-se hoje através do «esquecimento» do pequeno livro: Jorge Luís Borges, Obra Poética, Vol. I, com tradução de Fernando Pinto do Amaral, Quetzal Editores e de que erxtraímos este poema:

UMA DESPEDIDA

A tarde que minou o nosso adeus.
Tarde acerada ed deleitosa e monstruosa como um anjo escuro.
Tarde em que viveram os nossos lábios na intimidade nua dos beijos.
O tempo inevitável transbordava
sobre o abraço inútil.
M»Na paixão fomos pródigos, não para nós, mas para a solidão já próxima.
Rejeitou-nos a luz; a noite chegara com urgência.
Fugimos para a cancela com a gravidader da sombra que uma estrela alivia.
Como quem volta de um perdido prado voltei do teu abraço.
Como quem volta de um país de espadas voltei das tuas lágrimas.
Tarde que dura, vivida como um sonho
no meio de outras tardes.
Mais tarde fui atingindo e transpondo
noites e singraduras.

Jorge Luís Borges

Votos de um bom dia internacional do livro e um excelente dia poético!

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O QUE TODO GALEGO CHORARIA - Valentín Paz-Andrade

CHORA, TERRA, teu pranto
das águas e dos eidos, e dos ares,
as vivas páreas cósmicas da raça
em mantelo de brêtemas envoltas,
que o nosso fim à nossa origem ligam.

Deita nas áureas leiras do horizonte
lavradas de sol-pores e de abrentes,
em adoas de luz a debulhar-se,
as sementes feridas da tua dor.
Harpa de nobres cordas esquecidas,
ceiva teu som no coração retido,
e faz acordes em total latejo
almas, pássaros, rios e paisagens.

Chora, Terra,
teu pranto generoso.
O que todo galego choraria,
em roda de multânime silêncio
e olhares abatidos,
rente do longo corpo derrubado
que fora vivo mastro em luta nua;
perto daqueles beiços,
seca fonte
da verba nunca dantes mais belida;
do peito petrucial,
reflorescido
de mapoulas pampeiras,
que invejam a nascença das chorimas;
junto das postas mãos voltas ao gelo,
onde a eito agromaram da sua arte,
no cerne da galega patronia,
viçosas primaveras.

Chora, Terra,
teu pranto matricial.
O que todo galego choraria,
se inda chorar pudera,
até cobrir de lágrimas o mar.

Valentín Paz-Andrade (n. Pontevedra, 23 abril 1898 -m. Vigo, 19 maio 1987)

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2013-04-22

Que procuras no espaço, olhar faminto - Augusto de Lima

Que procuras no espaço, olhar faminto,
através das camadas siderais?
Réstia de luz, órfã de um foco extinto,
a que destino vais?

Que te falta em ti mesmo, ser inquieto?
Fração de um Todo excelso que não vês,
quando serás completo?
Hoje, amanhã, depois, nunca, talvez!

E, contudo, te exaures nas pesquisas
da fugitiva Essência. Esforço vão!
Ela, impalpável, voa sem balizas
na divina amplidão.

Se nem chegas ao sol, corpo tangível,
nem à matéria-prima elementar,
como podes prender o Incognoscível
e o Infinito abraçar?

Volve a ti mesmo. Prostra-te. Contrito,
tudo verás da Fé no esplendor.
Que importa que haja um círculo infinito,
se cada átomo é um centro refletor?


in “Augusto de Lima, Seu Tempo, Seus Ideais”, de José Augusto de Lima, 322 pp., Ministério da Educação e Cultura, RJ, 1959.

Antônio Augusto de Lima (n. Nova Lima, então Congonhas de Sabará, a 5 de Abril de 1859; m. Rio de Janeiro, 22 de Abril de 1934)
Sonâmbula
Volta ao Passsado
Esperança e Saudade
Serenata
A Um Otimista

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Passava eu na estrada pensando impreciso - Fernando Pessoa,

Passava eu na estrada pensando impreciso,
Triste à minha moda.
Cruzou um garoto, olhou-me, e um sorriso
Agradou-lhe a cara toda.

Bem sei, bem sei, sorrirá assim
A um outro qualquer.
Mas então sorriu assim para mim...
Que mais posso eu qu'rer?

Não sou nesta vida nem eu nem ninguém,
Vou sem ser nem prazo...
Que ao menos na estrada me sorria alguém
Ainda que por acaso.

22-4-1928

in Obra Essencial de Fernando Pessoa, Poesia do Eu, edição Richard Zenith, Assírio & Alvim

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2013-04-21

O MOINHO DE VENTO - Oliveira San-Bento

´
 Moinho de vento em Carrazeda de Ansiães - daqui

Não voltarei ao cimo da colina
Onde o moinho ao vento rodopia,
Donde disseste adeus, na tarde fria,
Cheia de desconforto e de neblina.

E bem sei que em redor, pela campina,
Tudo é verde e vibrante de alegria,
Mas nada vence a funda nostalgia
Da hora em que partiste, vespertina…

Quando na curva extrema do caminho
De longe me acenaste, soluçando,
Paraste um pouco junto do moinho.

Suas velas ficaram recordando:
-Teu lenço diz adeus no remoinho
Das suas velas brancas, adejando…


José Oliveira San-Bento nasceu em 21 de abril de 1893 na freguesia de Matriz (Nª Senhora da Estrela), concelho de  Ribeira Grande – S. Miguel – Açores, faleceu a 22 de janeiro de 1975 em Ponta Delgada – S. Miguel - Açores

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2013-04-20

Primeiro amor - Adília Lopes

Bonaparte visitant les pestiférés de Jaffa
Antoine-Jean Gros
1804, Oil on canvas 532cm x 720 cm , Louvre, Paris



Gostava muito dele
mas nunca lhe disse isso
porque a minha criada tinha-me avisado
se gostar de um rapaz
nunca lhe diga que gosta dele
se diz
ele faz pouco de si para sempre
os rapazes são maus
eu não era bela
nem sabia quem tinha pintado Os Pestíferos de Jaffa resolvi assim escrever-lhe cartas anónimas
escrevia o rascunho num caderno pautado
não sei hoje o que escrevia
mas sei que nunca escrevi
gosto muito de ti
e depois pedia a uma rapariga muito bonita
que passasse as cartas a limpo
eu acreditava que quem tinha uns cabelos
assim loiros e a pele fina
devia ter uma letra muito melhor que a minha
agora que conto isto
vejo que deixo muitas coisas de fora
por exemplo que o meu primeiro amor
não foi este mas o Paulo
o irmão da rapariga bonita
in resumo
a poesia em 2009
assírio & alvim, 2010

Adília Lopes é o pseudónimo literário de Maria José da Silva Viana Fidalgo de Oliveira, nascida em Lisboa a 20 de Abril de 1960.

Ler no Nothingandall da mesma autoria: Arte Poética

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2013-04-19

O último poema - Manuel Bandeira

Assim eu quereria o meu último poema.
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.

Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho (n. Recife, 19 Abril 1886 — m. Rio de Janeiro, 13 de Out. de 1968).

Ler do mesmo autor, neste blog:
Tema e Variações
Momento num café
Hiato
Desencanto
A Onda
Antologia
Maçã

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2013-04-18

Bento / Maduro: tranquilidade e consenso



 Paulo Bento é o homem da tranquilidade. O novo ministro Miguel Poiares Maduro é o homem do consenso. Isto nas palavras... Como a qualificação de Portugal para o Mundial está eivada de riscos e cheia de intranquilidade desconfio que o consenso só vai funcionar em matéria de austeridade...

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Visita - Antero de Quental


Adornou meu quarto a flor do cardo,
Perfumei-o de almíscar recendente;
Vesti-me com a púrpura fulgente,
Ensaiando meus cantos, como um bardo:

Ungi as mãos e a face com o nardo
Crescido nos jardins do Oriente,
A receber com pompa, dignamente,
Misteriosa visita a quem aguardo.

Mas que filha de reis, que anjo ou que fada
Era essa que assim a mim descia,
Do meu casebre à húmida pousada?...

Nem princesas, nem fadas. Era, flor,
Era a tua lembrança que batia
às portas de ouro e luz do meu amor!
 
Antero Tarquínio de Quental (n. Ponta Delgada, S.Miguel, Açores a 18 Abr. 1842; m. em Ponta Delgada a 11 Set. 1891)

in Os dias do Amor, um poema para cada dia do ano
recolha, seleção e organização de Inês Ramos
Prefácio de Henrique Manuel Bento Fialho
Ministério dos Livros, 1ª. edição, 2009

Ler do mesmo autor, neste blog:
Idílio
Consulta
O Que Diz a Morte
Ideal
Velut Umbra
Pepa (excerto)
Palácio da Ventura
Mors-Amor

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2013-04-17

No tempo em que os homens falavam - Adolfo Simões Müller

Quisera uma palavra virginal,
uma palavra em flor, novinha em folha
- minha, para meu uso pessoal,
em vez dos mil milhões que tenho à escolha…

As palavras perderam o sentido,
perderam os sentidos, num desmaio…
Se a gente pensa corpo, diz vestido;
e se diz música é trovão e é raio!

Depois, sabe-se tudo. Porco é tó…
Chefe etíope é rãs… Amor e ódio
são sinónimos… Letras grega? É ró…
N-A é o símbolo do sódio…

Ai as palavras cruzam-se no espaço
(só o que é surdo e cego o não descobre):
eléctricos fluviais, ponto e traço
- como nos versos de António Nobre.

Há-de chegar um dia… Dor secreta:
onde li isto? Assim se gera o plágio.
Há-de chegar um dia que o poeta,
Impassível, assista ao seu naufrágio.

Nesse mundo sem versos e sem alma,
lembrar-se-á (allegro ma non troppo…)
quando os homens falavam: doce e calma
era de fábula, de Fedro e Esopo.

In: Moço, Bengala e Cão

Adolfo Simões Müller (n. em Lisboa, 18 de Agosto de 1909; m. em 17 de Abril de 1989)

Ver do mesmo autor, neste blog:

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2013-04-16

Caminho - Tristan Tsara


Flores no caminho
que rua é esta que nos separa
ao longo da qual seguro a mão dos meus pensamentos
uma flor está escrita na ponta de cada dedo
e o fim da rua é uma flor que caminha comigo

in Qual é a Minha ou a Tua Língua - Cem poemas de amor de outras línguas, organização de Jorge de Sousa Braga, Assírio & Alvim

Tristan Tzara, pseudónimo de Samuel Rosenstock (n. Moineşti, Roménia a 16 de abril de 1896 — m. Paris, 24 de dezembro de 1963)

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2013-04-15

Poema 8: Vem Cassilda, olhar a madrugada que rompe - Fernando Namora

Vem, Cassilda, olhar a madrugada que rompe.
Vem e sentirás mais vastas a dor e a esperança.
Vem de manso, cautelosa,
antes que os pastores acordem as suas frautas
e perturbem a manhã.
Talvez sintas no rumorejar das aves madrugadoras
aquelas asas sem limites,
para além do campanário, para além dos montes
que teu olhar nunca soube ultrapassar.
Vem, Cassilda! Serás mais um astro branco
que a manhã serena coroou.

(Terra 1941)

Extraído de Poemas Portugueses Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI, Porto Editora

Fernando Namora (n. em Condeixa a 15 de Abril de 1919; m. em Lisboa a 31 Jan. 1989)

Ler do mesmo autor, neste blog:
Intimidade
Poema Cansado de Certos Momentos
Poema da Utopia
Coisas, Pequenas Coisas
Noite

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2013-04-12

São Martinho de Anta, 12 de Abril de 1965: Diário - Miguel Torga

Capela de Nossa Senhora da Azinheira (Sabrosa) 
imagem daqui


São Martinho de Anta, 12 de Abril de 1965 - Chego - verdadeiramente nem chegar é preciso: basta partir nesta direcção - e pareço o cão de Pavlov: todo eu segrego baba emotiva. O simples nome da povoação, lido nos marcos da estrada, desencadeia dentro de mim uma girândola de reflexos. Vejo a senhora da Azinheira a branquejar no alto da serra, oiço o sino a badalar, sabe-me a boca a tabafeira, cheira-me a rosmaninho.
    Já dentro da terra, então, é como se uma resposta de sensações rompesse de repente o dique do esquecimento e alagasse a planície da lembrança. Tropeço em cada pedra, bebo em cada fonte, vou de anjo em cada procissão.
    Enquanto ando lá por baixo, esqueço-me de que tenho cá dentro um tal rosário de reacções à espera de estímulo. Prova evidente de que os ramos e as folhas estão longe das raízes...
    Tudo o que sou claramente não é daqui. Mas tudo o que sou obscuramente pertence a este chão. A minha vida é uma corda de viola esticada entre dois mundos. No outro, oiço-lhe a música; neste, sinto-lhe as vibrações. 

in Diário - Vols. IX a XII - Miguel Torga

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2013-04-11

Desgostosa - Na passagem dos 150 anos do nascimento de António Fogaça

O seu riso gentil que ainda me arrasta,
Como quem vai seguindo no deserto
Os raios dum clarão que julga perto,
Mas que a segui-lo toda a vida gasta;

Sua voz, seu olhar, sua alma casta
Todo esse altivo e festival concerto
— Brancas formas de luz que ao seio aperto
Sonhadamente, numa dor nefasta...

Esse porte de brilho e majestade
E o seu modo sincero, doce e honesto,
Tudo a sombra da Mágoa, sem piedade,

Velou, tocando-a com seu ar funesto!
Nunca eu sonhasse, ó íntima saudade,
Seu riso, voz, olhar e alma e gesto!...

In "Líricas Portuguesas"
Portugália Editora – 1957 – Portugal

António Maria Gomes Machado Fogaça (n. Barcelos, 11 Abr 1863, m. Coimbra, a 27 Nov. 1888)

Ler do mesmo autor, no Nothingandall:
Os Rouxinóis

Visão dum Leito

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2013-04-10

Poesia depois da chuva - Sebastião da Gama

imagem daqui


Depois da chuva o Sol - a graça.
Oh! a terra molhada iluminada!
E os regos da água atravessando a praça
- Luz a fluir, num fluir imperceptível quase.

Canta contente um pássaro qualquer.
Logo a seguir nos ramos nus, esvoaça.
O fundo é branco - cal fresquinha no casario da praça.

Guizos, rodas rodando, vozes claras no ar.

Tão alegre este Sol! Há Deus. (Tivera-O eu negado
antes do Sol, mas duvidava agora.)
Ó Tarde virgem, Senhora Aparecida! Ó Tarde igual
às montanhas do princípio!

E tu passaste, flor dos olhos pretos que admiro.
Grácil, tão grácil!... Pura imagem da Tarde...
Flor levada nas águas, mansamente...

(Fluía a luz, num fluir imperceptível quase...)

(Pelo Sonho É Que Vamos, 1953)

in Poemas Portugueses Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI
Porto Editora

Sebastião Artur Cardoso da Gama (n. em Vila Nogueira de Azeitão, Setúbal, a 10 de Abril de 1924; m. em Lisboa a 7 de Fevereiro de 1952).

Do mesmo autor ler, neste blog, os belíssimos poemas:
Crepuscular
Largo do Espírito Santo, 2 - 2º
Nasci Para Ser Ignorante
Pequeno Poema
O Sonho
Madrigal
Poema da Minha Esperança
Anunciação
Crepuscular
Meu País Desgraçado

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2013-04-09

Musical suggestion of the day: Roseira Brava - Adriano Correia de Oliveira

Roseira Brava by Adriano Correia De Oliveira on Grooveshark
Adriano Maria Correia Gomes de Oliveira (n. 9 abril 1942 em Avintes, V. Nova de Gaia – m. 16 out. 1982)

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2013-04-08

Exílio - António Cardoso

Eu vivo na minha terra
Mas estou exilado.
Quem vive nela não sou eu
Mas outro que em mim vive.
A minha terra está por vir
E o meu outro ser vive, vive...
...vive à espera desse porvir

in Poemas de Circunstância (2003)

António Mendes Cardoso (n. em Luanda, Angola a 8 de Abril de 1933, faleceu em 26 de Junho de 2006)

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2013-04-07

A Sombra Sou Eu - Almada Negreiros, na passagem dos 120 anos sobre o seu nascimento

A minha sombra sou eu,
ela não me segue,
eu estou na minha sombra
e não vou em mim.
Sombra de mim que recebo luz,
sombra atrelada ao que eu nasci,
distância imutável de minha sombra a mim,
toco-me e não me atinjo,
só sei do que seria
se de minha sombra chegasse a mim.
Passa-se tudo em seguir-me
e finjo que sou eu que sigo,
finjo que sou eu que vou
e que não me persigo.
Faço por confundir a minha sombra comigo:
estou sempre às portas da vida,
sempre lá, sempre às portas de mim!

José Sobral de Almada Negreiros (n. em S. Tomé e Príncipe a 7 Abr 1893; m. 15 de Junho de 1970 em Lisboa)

Ler do mesmo autor, neste blog:
Ode a Fernando Pessoa
Mãe! Vem ouvir...
Esperança
Homem transportando o cadáver de uma mulher
Taça de Chá

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2013-04-05

Reflexos - Ana Luísa Amaral

Olho-te pelo reflexo
Do vidro
E o coração da noite

E o meu desejo de ti
São lágrimas por dentro,
Tão doídas e fundas
Que se não fosse:

o tempo de viver;
e a gente em social desencontrado;
e se tivesse a força;
e a janela ao meu lado
fosse alta e oportuna,

invadia de amor o teu reflexo
e em estilhaços de vidro
mergulhava em ti.


In Anos 90 e Agora, uma antologia da nova poesia portuguesa
Quasi Edições

Ana Luísa Amaral nasceu em Lisboa, a 5 de Abril de 1956

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2013-04-04

Digam que o Benfica não é prestigiado pelo mundo fora...

Current PP Final winner odds:

Chelsea @ 9/4
Spurs @ 11/4
Benfica @ 4/1
Lazio @ 13/2
Fenerbahce @ 12/1
Newcastle @ 14/1
Rubin Kazan @ 16/1
FC Basel @ 33/1

extraído de paddypower.com casa de apostas consultado na data da publicação deste post.
Os odds são dinâmicos

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A consciência de um conservador - Charles Bernstein

Eu desregulo
Tu desregulas
Ele/ela desregula
Nós desregulamos
Vós desregulais
Eles lucram


daqui


Charles Bernstein nasceu em Nova Iorque a 4 de abril de 1950

Ler do mesmo autor: Pompeii

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2013-04-03

O Desvio do Gaspar

«...quero recordar que a credibilidade e confiança dependem da determinação constante em torno do processo de ajustamento. Qualquer desvio significativo poderá pôr em causa os sacrifícios dos últimos dois anos» - Vítor Gaspar hoje no Parlamento, no âmbito da discussão da moção de censura.

Qualquer desvio significativo...?

Ouço e fico perplexo. O responsável pelo Orçamento de Estado de 2013 elaborado com o pressuposto de que a quebra do PIB ia ser de 1% e que cerca de dois meses depois diz que, afinal. a recessão poderia ser de 2% e duas sdemanas depois já admite que venha a ser de 2,3% vem falar que qualquer desvio significativo... poderá pôr em causa os sacrifícios de dois anos...

Oh Gaspar! Usando a tua própria medida... devias tirar as tuas próprias ilações...

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Malmequer - Augusto Emílio Zaluar



Malmequeres? - Bem me queres?
Que respondes, meiga flor?
Diz-me tu, sibila de alma,
A sina do meu amor!

Quero ler o meu fadário
Nesta flor inocentinha
Não me enganes - Não me iludas,
Malmequer, esperança minha!

Na primeira tua folha,
Não sou eu afortunado!..
Bem me quer, diz a segunda;
Folga peito, que és amado!

A terceira, diz o muito!
Umas e uma vou contando;
Esta alegre me sorrindo
Aquela triste esfolhando!

Ai! Assim és vida minha!
Já desprezos, já carinhos;
Hoje grinalda de rosas
Amanhã coroa de espinhos!

E contei-as, contei todas,
Acabou dizendo, nada
Cada folha era uma esperança!
Triste vida, malfadada!

Procurei ler a minha sina
Nos aracanos desta flor
Encontrei o desengano
Onde queria achar amor!

in Dores e Flores, Poesias
Rio de Janeiro, Tipografia de F. Paula Brito, 1851
(com adaptação, atualizando a grafia)

Augusto Emílio Zaluar nasceu em Lisboa a 14 de fevereiro de 1826 e faleceu no Rio de Janeiro em 3 de abril de 1882








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2013-04-02

Visão do futuro - Paulo Gonçalves


Falar do coração! Mas ainda não se disse
Que à nossa espera à porta da velhice
Há uma figura estranha e dolorosa
Que um crepúsculo roxo apoteosa
De túnica lilás e tranças pretas
Numa coroa de violetas.

O viajor não transpõe a passagem medonha
Antes que aos pés dessa mulher deponha
Uma recordação qualquer da mocidade:
É ela, a deusa romântica, a Saudade!

Quem foi feliz mesmo por um minuto
Deve à deusa esse lírico tributo.

Há certos corações que ao passar pela porta
Deixam como oferenda uma ventura morta.
Os pobres de ventura oferecem, apenas,
Um sonho que floriu no intervalo das penas.

Dizem os corações amantes: "Eu só pude
Colher um beijo em minha juventude".
"E eu, tantos corações me inspiraram afeto,
Que eu nem vos sei dizer qual foi o predileto".

"E eu, só vos posso dar, como oferta sagrada,
Este nome de alguém que amei sem dizer nada".
"E eu, a lembrança de um idílio à luz da lua"...
"E eu, duas vidas, porque alguém me deu a sua".

Se chegar minha vez, o que pouco suponho,
Ao encontrar na porta um coração tristonho,
Tímido, a recordar seus amores falazes,
A Saudade talvez pergunte: "E tu que trazes,
Para recordação de teus últimos dias?"

E eu, só lhe mostrarei, chorando,
As mãos vazias!

Poema extraído daqui

Francisco de Paula Gonçalves, de pseudonimo literário Paulo Gonçalves (n. Santos, 2 de abril de 1897 - m. Santos, 8 de abril de 1927)

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2013-04-01

Agiotagem - Mário Chamie


um
dois
três
o juro: o prazo
o pôr / o cento / o mês / o ágio

p o r c e n t a g i o.

dez
cem
mil
o lucro: o dízimo
o ágio / a mora / a monta em péssimo

e m p r é s t i m o.

muito
nada
tudo
a quebra: a sobra
a monta / o pé / o cento / a quota

h a j a n o t a
agiota.

in Indústria; Mirante das Artes, São Paulo, 1967

Mário Chamie (nasceu em Cajobi, São Paulo a 1 de abril de 1933; faleceu em São Paulo a 3 de Julho de 2011)

Ler do mesmo autor neste blog: Pedregosa Rosa

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