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2012-11-30

NEVOEIRO - Fernando Pessoa

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer -
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogofátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a Hora!

Valete, Fratres
(Mensagem 1934)

FERNANDO António Nogueira PESSOA nasceu a 13 de Junho de 1888 e faleceu em Lisboa a 30 de Novembro de 1935).

Mais poemas de Fernando Pessoa, neste blog:
Tudo o que anei, se é que amei
Dá a Surpresa de Ser
Nada Sou, Nada Posso, Nada Sigo
Se Alguém Bater
Aguardo - Ricardo Reis
Tanho Uma Grande Constipação (Álvaro de Campos)
Deus Sabe Melhor Do Que Eu
Suspense / Ansiedade
Tabacaria
Liberdade
Não Quero Recordar Nem Conhecer-me (Ricardo Reis)
Intervalo - Bernardo Soares
O guardador de rebanhos - X (Alberto Caeiro)
O guardador de rebanhos - XXI (Alberto Caeiro)
O guardador de rebanhos - XXVIII (Alberto Caeiro)
O Tejo é mais belo ...
Não sei se é sonho se é realidade
Odes - Ricardo Reis
Cruz na porta da tabacaria
Fragmentos do Livro do desassossego - Bernardo Soares
Afinal a melhor maneira de viajar é sentir...
Todas as cartas de amor são...
Se te queres matar ...
Dai-me rosas e lírios...
Sou vil, sou reles como toda a gente...
Não sei se é amor que tens
O que há em mim é sobretudo cansaço
Mar português
Ode marcial - h
Lycanthropy
Conselho
Para além da curva da estrada (Alberto Caeiro)
Sopra demais o vento
Poema da Canção sobre a Esperança
Soneto 1 de 35 sonetos (Poesia Inglesa) - em português
Sonnet 1 (from 35 Sonnets)
O amor é uma companhiaQuando vier a Primavera (Alberto Caeiro)

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2012-11-29

Citação do Dia - Alves Redol

"Se um dia alguém me perguntasse que aprendizagem deveria um jovem fazer para chegar a romancista, se o ofício se ensinasse, eu diria que enquanto a vida lhe não desse todas as voltas e reviravoltas, amores, sofrimentos, repúdios, sonhos, frustrações, equívocos, etc., etc., (...) seria avisado que o mandasse ensinar a sapateiro, não para saber deitar tombas e meias solas, porque nem para tanto ele usufruirá, às vezes, com a escrita, mas para que ganhasse o hábito de padecer bem, amarrado ao assunto durante largos anos, antes que provasse o paladar gostoso de algumas horas de pleno prazer. "
Extraído de www.alvesredol.pt
António Alves Redol (Vila Franca de Xira, 29 de dezembro de 1911 – Lisboa, 29 de novembro de 1969)

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2012-11-28

Fingimento - Campos de Figueiredo

Iludo o sentido
Da vida em que vivo.
O mundo que sinto
É mundo que minto.

É mundo pensado
Aquém, do outro lado
Da margem do rio
Com águas em fio.

A imagem dos astros,
Das velas, dos mastros,
Das nuvens, das margens
É sombra de imagens.

Perdidas no fundo
Do engano do mundo.
Não quero a certeza
Da minha tristeza.

Deixai-me à vontade
Naquela verdade
Pensada e fingida
Que é logro de vida.

Se minto o que sinto,
De tudo o que minto
Iludo o sentido
Da vida que vivo.

José de Figueiredo Júnior de nome literário José Campos de Figueiredo nasceu em Cernache, 6 de Maio de 1899; faleceu em Coimbra a 28 de Novembro de 1965.

Ler do mesmo autor, neste blog:
Momento Lírico
Sonho
O Milagre das Rosas
Tela Íntima
Autocrítica

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2012-11-27

Amor e Eternidade - Soares de Passos

Repara, doce amiga, olha esta lousa,
E junto aquela que lhe fica unida:
Aqui dum terno amor, aqui repousa
O despojo mortal, sem luz, sem vida.
Esgotando talvez o fel da sorte,
Puderam ambos descansar tranquilos;
Amaram-se na vida, e inda na morte
Não pôde a fria tumba desuni-los.
Oh! quão saudosa a viração murmura
         No cipreste virente
Que lhes protege as urnas funerárias!
E o sol, ao descair lá no ocidente,
         Quão belo lhes fulgura
         Nas campas solitárias!
Assim, anjo adorado, assim um dia
De nossas vidas murcharão flores...
Assim ao menos sob a campa fria
Se reunam também nossos amores!
Mas que vejo! estremeces, e teu rosto,
Teu belo rosto no meu seio inclinas,
Pálido como o lírio que ao sol posto
         Desmaia nas campinas?
Oh? vem, não perturbemos a ventura
Do coração, que jubiloso anseia...
Vem, gozemos da vida em quanto dura;
Desterremos da morte a negra ideia!
Longe, longe de nós essa lembrança!
Mas não receies o funesto corte...
         Doce amiga, descansa:
Quem ama como nós, sorri à morte.
         Vês estas sepulturas?
         Aqui cinzas escuras,
Sem vida, sem vigor, jazem agora;   
Mas esse ardor que as animou outrora,
Voou nas asas d'imortal aurora
         A regiões mais puras.
Não, a chama que o peito ao peito envia
Não morre extinta no funéreo gelo.
O coração é imenso: a campa fria
É pequena de mais para contê-lo.
Nada receies, pois: a tumba encerra
Um breve espaço e uma breve idade:
É o amor tem por pátria o céu e a terra,
         Por vida a eternidade!

António Augusto Soares de Passos (Porto, 27 de Novembro de 1826 – Porto, 8 de Fevereiro de 1860)

Ler do mesmo autor:
O Firmamento
Partida
O Noivado do Sepulcro

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2012-11-26

Moraliza O Poeta Seu Desassossego Na Harmonia Incauta De Um Passarinho, Que Chama Sua Morte A Compassos De Seu Canto - Gregório de Matos

imagem daqui

Contente, alegre, ufano Passarinho,
Que enchendo o Bosque todo de harmonia,
Me está dizendo a tua melodia,
Que é maior tua voz, que o teu corpinho.

Como da pequenhez desse biquinho
Sai tamanho tropel de vozeria?
Como cantas, se és flor de Alexandria?
Como cheiras, se és pássaro de arminho?

Simples cantas, e incauto garganteias,
Sem ver, que estás chamando o homicida,
Que te segue por passos de garganta!

Não cantes mais, que a morte lisonjeias;
Esconde a voz, e esconderás a vida,
Que em ti não se vê mais, que a voz, que canta.


Gregório de Matos e Guerra (Salvador, 23 de dezembro de 1636 — Recife, 26 de novembro de 1695)

Ler do mesmo autor: Soneto Lírico

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