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2005-11-30

Liberdade - Fernando Pessoa

Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira sem literatura.

O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca...

Fernando Pessoa (n. Lisboa, 13 Jun 1888, m. Lisboa, 30 Nov 1935)


1 comments:








Anónimo

disse...

Eu acho que este poema e' excelente para quem esta fazendo mestrado ou doutorado.
Este e' exatamente o sentimento: tudo `a sua volta e' belo, mas voce esta "empacada" com mil deveres de leitura e ainda com problemas financeiros...