NÃO REPARARAM NUNCA? - António Nobre
Não repararam nunca? Pela aldeia,
Nos fios telegráficos da estrada,
Cantam as aves, desde que o Sol nada,
E, à noite, se faz sol a Lua cheia.
No entanto, pelo arame que as tenteia,
Quanta tortura vai, numa ânsia aiada!
O Ministro que joga uma cartada,
Alma que, às vezes, dAlém-Mar anseia:
- Revolução! - Inútil. - Cem feridos,
Setenta mortos. - Beijo-te! - Perdidos!
- Enfim, feliz! - ? - ! - Desesperado. - Vem.
E as boas aves, bem se importam elas!
Continuam cantando, tagarelas:
Assim, Antônio! deves ser também.
António Pereira Nobre (nasceu no Porto a 16 de agosto de 1867 e foi vítima de tuberculose pulmonar, na Foz do Douro, Porto a 18 de março de 1900).
Ler do mesmo autor, neste blog:
Paz
O Teu Retrato
À Luz de Lua
Ao Cair das Folhas
Virgens que passais
Carta ao Oceano
A Leão XIII
Ladainha
Purinha
E a vida foi, e é assim, e não melhora
Na Praia lá da Boa Nova um dia
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