Miguel Torga faleceu há quinze anos - Encontro
Rasgo todos os véus da minha vida,
Como quem despe a noiva em pensamento.
Eterno adolescente desatento
Aos adultos conselhos da razão,
Violento
O pudor que lhe vela a imperfeição.
Quero a sua nudez desencantada
Bosque sem folhas, onde a claridade
Desça à raiz das sombras e as desfaça.
Quero ver a pureza
Da impureza,
A íntima brancura da desgraça.
E descubro o que sou no que ela é:
O triste dia a dia
Deste absurdo humano:
Erguida pelo vento da loucura,
Uma onda à procura
De oceano
In Poesia Completa de Miguel Torga, Publicações Dom Quixote, 2000.
Miguel Torga pseudónimo literário de Adolfo Correia da Rocha nasceu a 12 de Agosto de 1907 em São Martinho da Anta, Trás-os-Montes, faleceu em 17 de Janeiro de 1995.
Ler do mesmo autor, neste blog: Procura; Ficam as Sombras; Sei um ninho; Queixa; Hora de amor; Mea culpa; Anátema; Livro de Horas; Quase um poema de amor; Perfil; Exorcismo; Bucólica; Arquivo; Rogo.
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