Mea Culpa - Miguel Torga
Vida!
Como eu te quero
Agora que te sei perdida!
Foste a minha riqueza
Desbaratada.
Em vez de te poupar,
Gastei-te sem saber o que fazia.
E não vivi.
Morri
Em cada hora cega que vivia.
São assim os humanos.
Temos quando não temos.
Quando já não podemos
Subir onde subimos
E onde não estivemos.
Triste, já nem aos deuses
Peço remissão
Do nefando pecado
De, em tantos anos de duração,
Ter durado
A ignorar em mim o meu condão
De milagre encarnado.
Coimbra, 7 de Junho de 1992
in Diário XVI - 1993
Miguel Torga - Poesia Completa -Edições D. Quixote
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