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2007-01-17

Mais um pouco da poesia de Miguel Torga

Arquivo

Tão baço o teu retrato
No álbum da lembrança!
Que vaga semelhança
Entre a imagem que vejo
E a dor que sinto!
Minto
Se te disser
Que te desejo ainda,
Que o meu instinto
Te reconhece e quer.
Eu sei que um dia me perdi
Em ti
Como se perde o homem na mulher.


Rogo

Não, não rezes por mim.
Nenhum deus me perdoa a humanidade.
Vim sem vontade
E vou desesperado.
Mas assinei a vida que vivi.
Doeu-me o que sofri.
Fui sempre o senhorio do meu fado.

Por isso, quero a morte que mereço.
A morte natural,
Solitária e maldita
De quem não acredita
Em nenhuma oração
De salvação
De quem sabe que nunca ressuscita.

in Miguel Torga, Poesia Completa, Publicações Dom Quixote

Miguel Torga (Adolfo Correia da Rocha) n. em São Martinho de Anta, Sabrosa a 12 Ago 1907; m. em Coimbra a 17 de Jan. de 1995.


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