Mais um pouco da poesia de Miguel Torga
Arquivo
Tão baço o teu retrato
No álbum da lembrança!
Que vaga semelhança
Entre a imagem que vejo
E a dor que sinto!
Minto
Se te disser
Que te desejo ainda,
Que o meu instinto
Te reconhece e quer.
Eu sei que um dia me perdi
Em ti
Como se perde o homem na mulher.
Rogo
Não, não rezes por mim.
Nenhum deus me perdoa a humanidade.
Vim sem vontade
E vou desesperado.
Mas assinei a vida que vivi.
Doeu-me o que sofri.
Fui sempre o senhorio do meu fado.
Por isso, quero a morte que mereço.
A morte natural,
Solitária e maldita
De quem não acredita
Em nenhuma oração
De salvação
De quem sabe que nunca ressuscita.
in Miguel Torga, Poesia Completa, Publicações Dom Quixote
Miguel Torga (Adolfo Correia da Rocha) n. em São Martinho de Anta, Sabrosa a 12 Ago 1907; m. em Coimbra a 17 de Jan. de 1995.
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