Olhos suaves, que em suaves dias - Bocage
Olhos suaves, que em suaves dias
Vi nos meus tantas vezes empregados,
Vista, que sobra esta alma despedias
Deleitosos farpões, no céu forjados;
Santuários de Amor, luzes sombrias;
Olhos, olhos da cor de meus cuidados,
Que podeis inflamar as pedras frias,
Animar cadáveres mirrados;
Troquei-vos pelos ventos, pelos mares,
Cuja verde arrogância as nuvens toca,
Cuja horríssona voz perturba os ares;
Troquei-vos pelo Mal, que me sufoca;
Troquei-vos pelos ais, pelos pesares:
Oh câmbio triste! oh deplorável troca!
(Rimas, T. 1, 1791)
Manuel Maria Ledoux de Barbosa du Bocage (n. 15 de setembro de 1765 em Setúbal; m. Lisboa, em 21 de dezembro de 1805)
Ler do mesmo autor, neste blog:
O autor aos seus versos
Tudo acaba...
Proposição das rimas do poeta
Ó retrato da Morte! Ó Noite amiga
Já Bocage não sou! ...À Cova escura
Nascemos para amar
Ó tranças de que Amor prisão me tece
Liberdade, onde estás quem te demora...
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