Já Bocage não sou!... À cova escura - Barbosa du Bocage
«Corre o ano de 1805. Bocage jaz, moribundo, na cama que será o seu leito de morte. Percebendo serem estes os seus últimos dias, recorda a riqueza de sua vida, as raras faculdades de inspiração de que era dotado, os desvarios desregrados, vivências libertinas, mas, também, a capacidade de amar e a preocupação pelo andar do seu país e das instituições». (Texto a propósito de Já Bocage Não Sou de José Jorge Letria,Europa-América 2002).
Já Bocage não sou! …À cova escura
meu estro vai parar desfeito em vento…
Eu aos céus ultrajei! O meu tormento
leve me torne sempre a terra dura.
Conheço agora já quão vã figura
em prosa e verso fez meu louco intento.
Musa!...Tivera algum merecimento,
se um raio da razão seguisse, pura!
Eu me arrependo; a língua quase fria
brade em alto pregão à mocidade,
que atrás do som fantástico corria:
«Outro Aretino fui… A santidade
manchei…Oh!, se me creste, gente ímpia,
rasga meus versos, crê na Eternidade!»
Manuel Maria Barbosa du Bocage (n. em Setúbal a 15 Set 1765; m. em Lisboa a 21 Dec. 1805)
Soneto publicado in «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria É a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004
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Nascemos para amar
Ó tranças de que Amor prisão me tece
Liberdade, onde estás? Quem te demora?
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