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2011-08-17

Efemérides poéticas de 17 de Agosto

O dia 17 de Agosto é dos dias do ano em que este espaço poético é mais fácil de preencher tantos e importantes são os poetas de língua portuguesa que nasceram ou faleceram neste dia. Mas bem vistas as coisas são tantas as efemérides poéticas do dia... que as coisas, afinal, ficam um pouquinho mais difíceis não vá esquecermo-nos de alguém importante...

Cronologicamente, porque em termos de importância é que ficaria impossível, aí vai:

André Rodrigues de Matos nasceu em 1628 em Lisboa, onde faleceu a 17 de Agosto de 1698. Dele apresentamos hoje neste blog um soneto cujo primeiro verso é Alegre pintassilgo, flor vivente.

Luiz Nicolau Fagundes Varella nasceu em Rio Claro, Rio de Janeiro, em 17 de agosto de 1841 e faleceu em Niterói em 18 de fevereiro de 1875. Poeta que, «tanto celebra a natureza e temas indianistas como revela preocupações sociais. Era antimonárquico, abolicionista e partidário de uma democracia igualitária. Para o fim, virou místico». Dele é o Soneto cuja primeira quadra recordamos:

Eu passava na vida errante e vago,
como o nauta perdido em noite escura,
mas tu te ergueste, peregrina e pura
como o cisne inspirado em manso lago.

Manuel Fernandes Laranjeira nasceu na Vila da Feira a 17 de Agosto de 1877 e suicidou-se em Espinho a 22 de Fevereiro de 1912. O sentimento trágico da vida derivava do inferno de si próprio. Os seus versos traduzem cepticismo niilista, solidão, pessimismo, tristeza e melancolia. Revisitamos o soneto "Tristeza de Viver":

Ânsia de amar! oh ânsia de viver!
Uma hora só que seja, mas vivida
e satisfeita... e pode-se morrer
– porque se morre abençoando a vida!

Mas ess'hora suprema em que se vive
quanto possa sonhar-se de ventura
oh vida mentirosa, oh vida impura
esperei-a, esperei-a, e nunca a tive!

E quantos como em a desejaram!
E quantos como eu nunca tiveram
uma hora de amor como a sonharam!

Em quantos olhos tristes tenho eu lido
O desespero dos que não viveram
Esse sonho de amor incompreendido!

António Tomaz Botto nasceu há 114 anos, precisamente no dia 17 de Agosto de 1897,em Concavada, no concelho de Abrantes. Faleceu no Rio de Janeiro a 17 de Março de 1959, vários dias após ter sido vítima de atropelamento automóvel. Um grande poeta! Dele escreveu Fernando Pessoa «... é o único português, dos que conhecidamente escrevem, a quem a designação de esteta se pode aplicar sem dissonância. Com um perfeito instinto ele segue o ideal a que se tem chamado estético, e que é uma das formas, se bem que a ínfima, do ideal helénico. Segue-o, porém, a par de com o instinto, com uma perfeita inteligência, porque os ideais gregos, como são intelectuais, não podem ser seguidos inconscientemente. A obra de António Botto, no que realmente típica, resume-se, por ora, no seu último livro, «Canções». Que essa obra se distingue com facilidade da obra de qualquer outro poeta, português ou estrangeiro - todos, que possam ver, o podem ver.»

Envolve-me amorosamente
Na cadeia de teus braços
Como naquela tardinha...
Não tardes, amor ausente;
Tem pena da minha mágoa,
Vida minha!...

ou

Quanto, quanto me queres? - perguntaste
Numa voz de lamento diluída;
E quando nos meus olhos demoraste
A luz dos teus senti a luz da vida
...
Beijámo-nos então, a latejar
No infinito e pálido vaivém
Dos corpos que se entregam sem pensar...

ainda de:

Não Peças Mais Canções,
Se passares pelo adro
No dia do meu enterro,
Dize à terra que não coma
Os anéis do meu cabelo.

Eugénio de Castro, nascido em Coimbra a 4 Março de 1869, morreu em Coimbra há 67 anos, ou seja em 17 de Agosto de 1944. Que dizer de:

Tua frieza aumenta o meu desejo
Fecho os olhos para te esquecer
e, quanto mais procuro não te ver,
quanto mais fecho os olhos, mais te vejo.

ou de Epígrafe:

Homem que fazes tu? Para quê tanta lida,
Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta ameaça?
Procuremos somente a Beleza, que a vida
É um punhado infantil de areia ressequida,
Um som de água ou de bronze e uma sombra que passa…

E como "Nem sempre aos poetas apetecem as estrelas" António Pedro morreu em 17 de Agosto de 1966 no Moledo do Minho. Nascido em Cabo Verde, admito que menos conhecido do que os anteriores, mas também poeta (percursor do surrealismo) para além de artista... Fica aqui um extracto do seu poema das formigas:

Que é do ciúme e das angústias?
Que é do amor e das palavras?
Que é das carícias e dos dentes?
Que é das renúncias e dos crimes?
Que é das tentações
Das promessas
Dos desejos
Dos apetites
Das fúrias?
Que é de todas as músicas?

O sol inútil cobre um mar negrejante onde os reflexos são como os olhos das moscas
E um silêncio tremendo finge de paz no mundo
Uma paz de silêncio com formigas

Formigas
Formigas
Formigas
Formigas

Domingos Monteiro Pereira Júnior, poeta transmontano (nasceu em Barqueiros, a 6 de Novembro de 1903), faleceu há 31 anos. Extraímos do soneto Pousa a tua cabeça no meu peito a primeira quadra, em jeito de aperitivo:

Pousa a tua cabeça no meu peito
Nas minhas mãos as tuas mãos inquietas
Vamos os dois caçar as borboletas
As quimeras dum sonho insatisfeito.

Do lado de lá do Atlântico mas também expressando os sentimentos (também o amor, é claro!) nas mesmas palavras da linguagem que conhecemos sem precisar de ir à escola de línguas, Carlos Drummond de Andrade morreu, no Rio de Janeiro, faz hoje 17 de Agosto de 1911, 24 anos:

«Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.

Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?

Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.

Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.»

mas também ciente dos momentos em que os Ombros Suportam o Mundo:

«Os ombros suportam o mundo
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.»

Há ainda a passagem dos 103 anos sobre o nascimento de Óscar Ribas, escritor angolano, autor "profundamente preocupado com os temas da literatura oral, filologia, religião tradicional e filosofia dos povos de língua kimbundu"...

De autores de outras línguas destacamos Edward James Hughes, mais conhecido como Ted Hughes nascido há 81 anos no West Yorkshire (m. 28 de Outubro de 1998). Poeta e escritor de livros infantis britânico é comummente considerado pela crítica como um dos melhores poetas de sua geração (Ler Theology / Teologia).

Hertha Müller, a escritora alemã de origem romena, a quem foi atribuído o Prémio Nobel da Literatura em 2009, mais conhecida como novelista, mas também poeta, tem também a sua vida ligada a este dia: nasceu em 17 de agosto de 1953 em Nitchidorf, Timis County.

Enfim...

Uma boa semana a todos os leitores, com sorrisos, flores e ... poesia!


1 comments:








Anónimo

disse...

Parabéns, Fernando, por este magnífico trabalho.
Abraço,
Rui