Soneto da Serpente - Amadeu Amaral
Ei-la que passa, majestosa... Faço
de meus desejos cobiçosos uma
serpe, que a boca lhe remorde, o braço,
o rosto, o seio, todo o corpo em suma.
Guarda no grande olhar, em cada traço,
no donaire gentil, com que se apruma,
a graça austera, com que um anjo o espaço
fende e ilumina, por montões de bruma.
Em vão nela se enrola meu desejo;
nem a boca lhe treme, nem murmura,
nem nos olhos um frêmito lhe vejo.
Parece estátua prodigiosa, e dura,
que nem sente o asqueroso animalejo
a enrolar-se-lhe, ao sol, pela cintura.
Amadeu Ataliba Arruda Amaral Leite Penteado (nasceu em Capivari, São Paulo a 6 de Novembro de 1875 e faleceu em São Paulo a 24 de Outubro de 1929).
Ler do mesmo autor, neste blog: Rios, Lua, Voz Íntima e Versos Nevoentos
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