a rectidão da água; o crescimento - António Franco Alexandre (na passagem do 70º aniversário)
a rectidão da água; o crescimento
das avenidas, ao anoitecer, sob a nua
vibração dos faróis;
o laço, mesmo, das portas só
entreabertas, onde a luz
silenciosa se demora;
são memórias, decerto, de um anterior
esquecimento, uma inocente
fadiga das coisas,
como os corpos calados, abandonados
na véspera da guerra, o teu
jeito para
o desalinho branco das palavras,
altas as
asas de nuvens no clarão do céu
em vão rigor abrindo
o destinado enigma: assim
desconhecer-te cada dia mais
ausente de recados e colheitas,
em assustado bosque, em sombra
clareira,
ao risco dos rios frívolos descendo
seixos polidos, desinscritos,
imóveis movendo
a luz do dia;
a margem recortada, aonde vivem
ausentes e seguros, os luminosos
animais do inverno;
assim são na verdade os muros claros;
assim respira o tempo, a terra intensa.
in A Pequena Face
António Franco Alexandre nasceu em Viseu a 17 de Junho de 1944
Ler do mesmo poeta, neste blog:
Já estou a ficar velho
Saudade
Nesta Última Tarde Em Que Respiro
Quando ouço ao telefone a voz que brinca
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