Blog Widget by LinkWithin

2014-06-17

a rectidão da água; o crescimento - António Franco Alexandre (na passagem do 70º aniversário)



a rectidão da água; o crescimento
das avenidas, ao anoitecer, sob a nua
vibração dos faróis;

o laço, mesmo, das portas só
entreabertas, onde a luz
silenciosa se demora;

são memórias, decerto, de um anterior
esquecimento, uma inocente
fadiga das coisas,

como os corpos calados, abandonados
na véspera da guerra, o teu
jeito para

o desalinho branco das palavras,
altas as
asas de nuvens no clarão do céu

em vão rigor abrindo
o destinado enigma: assim
desconhecer-te cada dia mais

ausente de recados e colheitas,
em assustado bosque, em sombra
clareira,

ao risco dos rios frívolos descendo
seixos polidos, desinscritos,
imóveis movendo

a luz do dia;
a margem recortada, aonde vivem
ausentes e seguros, os luminosos

animais do inverno;
assim são na verdade os muros claros;
assim respira o tempo, a terra intensa.

in A Pequena Face

António Franco Alexandre nasceu em Viseu a 17 de Junho de 1944

Ler do mesmo poeta, neste blog:
Já estou a ficar velho
Saudade
Nesta Última Tarde Em Que Respiro
Quando ouço ao telefone a voz que brinca


0 comments: