Miragaia - Pedro Homem de Mello
Foto daqui
A Fernando João
Aqui, onde esta noite nunca cessa,
Foi Miragaia a minha Madragoa.
Aqui, em frente ao rio, oiço a promessa
Do mar que ajoelha, enquanto me atordoa.
Aqui, sei onde sangra o lábio oculto.
De quem me vê, até de olhos fechados!
E, como os cegos, reconheço um vulto,
Pelo roçar dos dedos namorados…
Deviam chamar Pedro, em vez de Porto,
Ao burgo, se é tal do meu tamanho!
Aqui
Nasci
Porém nasci já morto,
Imóvel, surdo, triste, mudo, estranho…
Deu-me Deus ele, apenas, por amigo.
Deitamo-nos cismando, lado a lado…
Seu corpo, rijo e nu, dorme comigo,
Mas fico, entre os seus braços, acordado.
Pedro da Cunha Pimentel Homem de Melo (Porto, 6 de Setembro de 1904 — Porto, 5 de Março de 1984)
Ler do mesmo autor, neste blog:
O Bailador de Fandango
Solidão
Biografia
Oásis
Véspera
Berço
Obrigado
Uma Ânsia de Nudez
Povo que lavas no rio
Não choreis os mortos
Revelação
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