NÉVOA - Alberto de Serpa
A Albano Nogueira
Abraçada à noite,
a névoa desce sobre a terra.
Imprecisamente,
como se a névoa fosse dos meus olhos,
vejo o casario e as luzes do outro lado do rio.
Mais à direita, ao longe,
são já da névoa a praia, o mar.
Ouve-se apenas o ronco do farol
- um som molhado.
Para o lado dos pinhais,
anda a bruma a fazer medo
e a pôr mais pressa nos passos de quem foge.
Não há luar, não há estrelas.
De novo olho par o rio.
Não sei se o vejo:
anda a névoa, já, com ele,
e os meus olhos não dizem o que é bruma, o que é rio.
E ela não pára,
avança ao meu encontro.
Cerca-me.
E eu tenho, só,
orvalho nas árvores do jardim,
gotas de água que se partem na alameda,
o ar húmido que me trespassa,
o molhado ronco do farol,
os cabelos encharcados
e pensamentos de névoa
(Descrição, 1935)
in Poemas Portugueses Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI; Porto Editora
Alberto de Serpa Esteves de Oliveira (nasceu no Porto a 12 de Dezembro de 1906 - m. na mesma cidade a 8 de Outubro de 1992)
Ler do mesmo autor, neste blog:
Incerteza
Um Jovem Camarada
Poema III
Interferência
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