O Bailador de Fandango - Pedro Homem de Mello
Sua canção fora a Gota.
Sua dança fora o Vira.
Chamavam-lhe "o fandangueiro".
Mas seu nome verdadeiro
Quando bailava, bailava,
Não era nome de cravo,
Nem era nome de rosa.
- Era o de flor, misteriosa,
Que se esfolhava, esfolhava...
E havia um cristal na vista
E havia um cristal no ar
Quando aquele fandanguista
Se demorava a bailar!
E havia um cristal no vento
E havia um cristal no mar.
E havia no pensamento
Uma flor por esfolhar...
Fandangueiro! Fandangueiro?
(Nem sei que nome lhe dar...)
Tinham seus braços erguidos
Não sei que ignotos sentidos...
- Jeitos de Asa pelo ar...
Quando bailava, bailava,
Não era folha de cravo
Nem era folha de rosa.
Era uma flor, misteriosa,
Que se esfolhava, esfolhava...
Domingos Enes Pereira
Do lugar de Montedor...
(O bailador de Fandango
Era aquele bailador!)
Vinham moças de Areosa
Para com ele bailar...
E vinham moças de Afife
Para com ele bailar.
Então as sombras dos corpos,
Como chamas traiçoeiras,
Entrelaçavam-se e a dança
Cobria o chão de fogueiras...
E as sombras formavam sebe...
O movimento as florira...
O sonho, a noite, o desejo...
Ai! belezas de mentira!
E as sombras entrelaçavam-se...
Os corpos, ninguém sabia
Se eram corpos, se eram sombras,
Se era o amor que se escondia...
in Poemas Portugueses, Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI
Selecção, organização, introdução e notas Jorge Reis-Sá e Rui Lage
Prefácio Vasco da Graça Moura; Porto Editora
Pedro da Cunha Pimentel Homem de Mello (n. Porto em 6 de Setembro de 1904 - m. Porto, 5 de Março de 1984).
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