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2010-02-08

VII - José Gomes Ferreira, no 25º. aniversário da sua morte

(Um morto qualquer, assassinado pela polícia em qualquer parte)

Não insultem este morto com flores

Enterrem-no assim mesmo nu, com peso de raiz,
desamparado de lágrimas e canções,
o corpo rasgado do inferno dos homens
e a boca ainda aberta no último grito
-longo até o riso das caveiras do futuro.

Flores para quê?
Para cobrir de música o roxo do Outro Frio?

Atirem-lhe antes cardos e espinhos,
ásperos desta cólera sagrada
onde a sua alma continuará a arder
até o fim da humanidade dos hommens
-no brilho comum
dos nossos olhos de bandeira.


Extraído de "Poemas Portugueses Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI. Selecção, organização, introdução e notas de Jorge Reis Sá e Rui Lage- Prefácio de Vasco Graça Moura. Porto Editora"

José Gomes Ferreira (n. no Porto a 9 Jun 1900, m. 8 Fev 1985)

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