VII - José Gomes Ferreira, no 25º. aniversário da sua morte
(Um morto qualquer, assassinado pela polícia em qualquer parte)
Não insultem este morto com flores
Enterrem-no assim mesmo nu, com peso de raiz,
desamparado de lágrimas e canções,
o corpo rasgado do inferno dos homens
e a boca ainda aberta no último grito
-longo até o riso das caveiras do futuro.
Flores para quê?
Para cobrir de música o roxo do Outro Frio?
Atirem-lhe antes cardos e espinhos,
ásperos desta cólera sagrada
onde a sua alma continuará a arder
até o fim da humanidade dos hommens
-no brilho comum
dos nossos olhos de bandeira.
Extraído de "Poemas Portugueses Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI. Selecção, organização, introdução e notas de Jorge Reis Sá e Rui Lage- Prefácio de Vasco Graça Moura. Porto Editora"
José Gomes Ferreira (n. no Porto a 9 Jun 1900, m. 8 Fev 1985)
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