Soneto da infância breve - Sidónio Muralha (no 89º. aniversário)
Muito cedo deixei de ser criança
e só guardei, à guisa de brinquedo,
encharcada de lua essa lembrança
de não ser mais criança muito cedo.
É esse cheiro de terra e a brisa mansa
ondulante de verde e de arvoredo
e o folguedo doirado dessa trança
que um dia me contou o seu segredo.
O menino que eu fui ainda corre
no meu país distante. O dia morre,
as sombras vão descendo, o sono vence-o.
E ele dorme, de mim desencontrado,
o menino que eu fui dorme embalado
na surdez em surdina do silêncio
e só guardei, à guisa de brinquedo,
encharcada de lua essa lembrança
de não ser mais criança muito cedo.
É esse cheiro de terra e a brisa mansa
ondulante de verde e de arvoredo
e o folguedo doirado dessa trança
que um dia me contou o seu segredo.
O menino que eu fui ainda corre
no meu país distante. O dia morre,
as sombras vão descendo, o sono vence-o.
E ele dorme, de mim desencontrado,
o menino que eu fui dorme embalado
na surdez em surdina do silêncio
extraído de "Cem Poemas Portuguesas sobre a Infância", selecção, organização e introdução de José Fanha e José Jorge Letria, Terramar
Sidónio Muralha (nasceu na Madragoa, Lisboa a 28 de Julho de 1920; m. a 8 de Dez.1982 em Curitiba, Paraná, Brasil).
Ler do mesmo autor, neste blog:
Dois Poemas da Praia da Areia Branca
e mais Poemas de Sidónio Muralha
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