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2006-06-08

A grandiosidade do Benfica (III)

V: Ainda sonha com a guerra?

LA: (...) Apesar de tudo, penso que guardávamos uma parte sã que nos permitia continuar a funcionar. Os que não conseguiam são aqueles que, agora, aparecem nas consultas. Ao mesmo tempo havia coisas extraordinárias. Quando o Benfica jogava, púnhamos os altifalantes virados para a mata e, assim, não havia ataques.

V: Parava a guerra?

LA: Parava a guerra. Até o MPLA era do Benfica. Era uma sensação ainda mais estranha porque não faz sentido estarmos zangados com pessoas que são do mesmo clube que nós. O Benfica foi, de facto, o melhor protector da guerra. E nada disto acontecia com os jogos do Porto e do Sporting, coisa que aborrecia o capitão e alguns alferes mais bem nascidos. Eu até percebo que se dispare contra um sócio do
Porto, mas agora contra um do Benfica?

V: Não vou pôr isso na entrevista.

LA: Pode pôr. Pode pôr. Faz algum sentido dar um tiro num sócio do Benfica?»

(Excerto de uma entrevista de António Lobo Antunes à revista Visão, onde, às tantas, se evoca a guerra do Ultramar, em Angola).

Ler também: A grandiosidade do Benfica
A grandiosidade do Benfica II


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