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2017-06-01

Areias de ouro - Armando Silva Carvalho



Que estranha visão terá de ti
o rio que passa
e ao qual os poetas inutilmente oferecem
areias de ouro e de Byron?

Umas vezes oblíqua aos olhos de quem ama
a liquidez das cúpulas sonoras
onde ondulam as casas
na sua pulsação
nervosa e feminina.

Outras vezes erecta e pombalina
talhada para letras
de câmbio
velha receptora
e hoje só senhora
dum tempo fixo e mudo
indiferente à pedra.

Mas mais das vezes crespa
nas ondas ruidosas
erguidas da terra ébria
vasto espelho de bar
para novas aventuras.

E na boca do fim

à beira de um mar de quem não teve infância
só os monumentos
eventos
– ventos da distância.

in Lisboas, Quetzal Editores, 1999

Armando da Silva Carvalho (Olho Marinho, Óbidos, 28 de março de 1938 – Caldas da Rainha, 1 de junho de 2017)


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