Redenção - Múcio Leão
Quando eu morrer, a minha íntima essência
Não se há de desfazer, como um clarão:
Há de ficar - beleza, amor, consciência -
Resistindo à final dissolução.
Nessa alta e metafísica existência,
Hei de sentir, na eterna solidão,
Os milagres da vasta efervescência
De um cosmos novo em nova floração.
Sei que a minha alma há de ficar no espaço,
Nos encantos do amor em que vibrei,
Nos estos longos de um divino abraço,
Na glória enganadora a que aspirei,
Na amargura dos verãos que hoje faço,
Nos sonhos vãos em que me dispersei.
Múcio Carneiro Leão (Recife, 17 de fevereiro de 1898 — Rio de Janeiro, 12 de agosto de 1969)
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