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2016-10-27

Desaparecido - Carlos Queirós


Sempre que leio nos jornais:
«De casa de seus pais desapar’ceu...»
Embora sejam outros os sinais,
Suponho sempre que sou eu.

Eu, verdadeiramente jovem,
Que por caminhos meus e naturais,
Do meu veleiro, que ora os outros movem,
Pudesse ser o próprio arrais.

Eu, que tentasse errado norte;
Vencido, embora, por contrário vento,
Mas desprezasse, consciente e forte,
O porto do arrependimento.

Eu, que pudesse, enfim, ser eu!
- Livre o instinto, em vez de coagido.
«De casa de seus pais desapar’ceu...»
Eu, o feliz desaparecido!

in Desaparecido e Outros Poemas
Lisboa, Livraria Bertrand, 1950

José Carlos Queirós Nunes Ribeiro (n. Lisboa a 5 de abril de 1907; m. em Paris, 27 de outubro de 1949)


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