A Um Caçador - Augusto de Lima
Olha esta plumagem linda,
íris formoso e suave:
não sentes remorso ainda?
que mal te fez a pobre ave?
O projétil avicida
quebrando-lhe as asas, deu
um jorro desta ferida
de sangue da cor do teu ....
Há uma só lei da Existência
sob a esfera luminosa:
partilham da mesma essência
homem, ave, estrela e rosa.
Ela cantando vivia,
Correndo, voando no ar.
Será delito – a harmonia,
Um atentado – voar?
Vivia tecendo ninhos
Para os filhotes, apenas;
Pobres menores mesquinhos,
Sem mãe e ainda sem penas!
As normas da natureza,
fiel, não quebrou jamais;
nunca invadiu da pobreza
os minguados cereais.
Vê bem que fizeste, dando
a morte a este mártir ente.
És réu de um crime nefando,
verteste o sangue inocente.
Ai! prole da primavera,
que será dela amanhã?
Pela mãe espera, espera ....
porém, esperança vã.
De tudo o que canta e voa
e fulgura és odiado:
a aurora não te perdoa,
condena-te o sol dourado.
in “Poesias”, Augusto de Lima, Editora H. Garnier, Rio de Janeiro / Paris, 1909
Antônio Augusto de Lima (n. Nova Lima, então Congonhas de Sabará, a 5 de Abril de 1859; m. Rio de Janeiro, 22 de Abril de 1934)
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