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2014-04-22

A Um Caçador - Augusto de Lima

Olha esta plumagem linda,
íris formoso e suave:
não sentes remorso ainda?
que mal te fez a pobre ave?

O projétil avicida
quebrando-lhe as asas, deu
um jorro desta ferida
de sangue da cor do teu ....

Há uma só lei da Existência
sob a esfera luminosa:
partilham da mesma essência
homem, ave, estrela e rosa.

Ela cantando vivia,
Correndo, voando no ar.
Será delito – a harmonia,
Um atentado – voar?

Vivia tecendo ninhos
Para os filhotes, apenas;
Pobres menores mesquinhos,
Sem mãe e ainda sem penas!

As normas da natureza,
fiel, não quebrou jamais;
nunca invadiu da pobreza
os minguados cereais.

Vê bem que fizeste, dando
a morte a este mártir ente.
És réu de um crime nefando,
verteste o sangue inocente.

Ai! prole da primavera,
que será dela amanhã?
Pela mãe espera, espera ....
porém, esperança vã.

De tudo o que canta e voa
e fulgura és odiado:
a aurora não te perdoa,
condena-te o sol dourado.


in “Poesias”, Augusto de Lima, Editora H. Garnier, Rio de Janeiro / Paris, 1909

Antônio Augusto de Lima (n. Nova Lima, então Congonhas de Sabará, a 5 de Abril de 1859; m. Rio de Janeiro, 22 de Abril de 1934)
Sonâmbula
Volta ao Passsado
Esperança e Saudade
Serenata
A Um Otimista


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