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2013-11-18

NUMA ESTAÇÃO DE METRO - Manuel António Pina (no dia em que completaria 70 anos)

A minha juventude passou e eu não estava lá.
Pensava em outra coisa, olhava noutra direcção.
Os melhores anos da minha vida perdidos por distracção!

Rosalinda, a das róseas coxas, onde está?
Belinda, Brunilda, Cremilda, quem serão?
Provavelmente professoras de Alemão
em colégios fora do tempo e do espa-

ço! Hoje, antigamente, ele tê-las-ia
amado de um amor imprudente e impudente,
como num sujo sonho adolescente
de que alguém, no outro dia, acordaria.

Pois tudo era memória, acontecia
há muitos anos, e quem se lembrava
era também memória que passava,
um rosto que entre outros rostos se perdia.

Agora, vista daqui, da recordação,
a minha vida é uma multidão
onde, não sei quem, em vão procuro
o meu rosto, pétala dum ramo húmido, escuro


in Um sítio onde pousar a cabeça, 1981

Manuel António Pina (nasceu em 18 de Nov. 1943 no Sabugal, faleceu em 19 de outubro de 2012)

Ler do mesmo autor, neste blog:
Completas
Uma Sombra
Lugares da Infância
Amor como em casa
Café do Molhe
Saudade da Prosa


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