Mãe Ilha IV - Natália Correia (na passagem dos 90 anos do seu nascimento)
Por lentas alamedas musicais
Chegam-lhe as tuas mãos ledas e leves
Trazem-me a valsa que enchia de cristais
A casa e eras de louça mãe de Sévres.
Lá nas fajãs partiu-te um sopro a mais
Que a morte é cio de belezas breves,
Mas, ó mistério de dedos siderais!,
Um triz de música e uma azália escreves.
Mãos que me levam lácteas pelos cabelos
(Lembras-te? eram anéis dos teus anelos)
Para a ilha. No teu seio o mar arfava.
Mãos doceiras das flores com que cobrias
O meu sono. Mais música! Para os dias
De opala, mãe de mel, falta uma oitava.
Extraído de Cem Poemas Portugueses do Adeus e da Saudade
Selecção, organização e introdução de José Fanha e José Jorge Letria
Terramar
Natália de Oliveira Correia (n. na Ilha de S. Miguel, Açores a 13 Set 1923; m. em Lisboa a 16 Mar 1993)
Ler da mesma autora:
A recusa das imagens evidentes
O Espírito
Queixa das almas jovens censuradas
Poema destinado a haver domingo
O Sol nas noites e o Luar nos dias
Retrato Talvez Saudoso da Menina Insular
Boletim Meteorológico
Nictofagia
Na Câmara de Reflexão IV
A luz meridional que, rigorosa
Fiz um conto para me embalar
Poema dirigido ao deputado João Morgado
0 comments:
Enviar um comentário