ARTE POÉTICA - José Emílio-Nelson
Demão depois da lixa, zarcão e betume na madeira, a sonoridade 
da tinta nas passagens em que deixei que os crisântemos que 
se interpunham fossem mais do verso que os espelhasse. Li até 
escurecer os olhos. Abandonado, vale dizer. 
Para uns, ainda, a poesia não dispensa 
que o autor nas horas certas contemple as flores de papel. Era 
assim pacientemente a florescência de um verso crescia no 
canteiro. Eu, no toucador, agora debruçado escrevo 
vírgulas que, de algum modo, dificultam pelo esforço da repetição 
o andar da tarde. E o entardecer deixa que, na dobra das 
nuvens, toque o canto rouco que escreve sem balbucios a única 
página celeste folheada. 
(in Mosaico)
José Emílio de Oliveira Marmelo e Silva, que usa o pseudónimo de José Emílio-Nélson, nasceu em Espinho, em 17 de Maio de 1948
Ler do mesmo autor, neste blog:
Canção Punitiva
Mahler
















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