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2012-10-05

É esta porventura a praia amena - Cruz e Silva

É esta porventura a praia amena
do manso Tejo? É este o monte erguido,
onde nuns negros olhos escondido,
me fez contente amor com minha pena?

É este bosque, que aura tão serena
derramava do vento sacudido?
Ou este o verde choupo em que esculpido
deixei o nome que meu mal serena?

Quão outro tudo está, tão desmudado!
Perdeu graça, perdeu formosura
do alegre tempo por meu mal passado;

mas oh, como se engana a conjectura!
'Inda tudo conserva o antigo estado,
somente se mudou a minha ventura.

António Dinis da Cruz e Silva (n. em Lisboa a 4 Jul 1731, m. no Rio de Janeiro a 5 Out 1799)

Soneto extraído de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.


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