Horas Mortas - Alberto de Oliveira
Breve momento, após comprido dia
de incómodos, de penas, de cansaço,
'inda o corpo a sentir quebrado e lasso,
posso a ti me entregar, doce Poesia!
Desta janela aberta à luz tardia
do luar em cheio a clarear o espaço,
vejo-te vir, ouço-te o leve passo
na transparência azul da noite fria.
Chegas. O ósculo teu me vivifica.
Mas é tão tarde! Rápido flutuas,
tornando logo à etérea imensidade;
e, na mesa a que me escrevo, apenas fica,
sobre o papel - rastro das asas tuas -
um verso, um pensamento, uma saudade.
in A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa - Edições Unicepe, 2004
Ler do mesmo autor, neste blog:
A Alma Dos Vinte Anos
Vaso Chinês
Beijos do Céu
Aspiração
A Vingança da Porta
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