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2012-02-15

A Uma Ausência - Barbosa Bacelar


Foto: Deserto

Sinto-me sem sentir, todo abrasado
no rigoroso fogo que me alenta;
o mal, que me consome, me sustenta;
o bem, que me entretém, me dá cuidado;

ando sem me mover, falo calado;
o que mais perto vejo se me ausenta
e o que estou sem ver mais me atormenta;
alegro-me de ver-me atormentado;

choro no mesmo ponto em que me rio;
no mor risco me anima a confiança;
do que menos se espera estou mais certo;

mas se, de confiado, desconfio,
é porque, entre os receios da mudança,
ando perdido em mim como em deserto.

António BARBOSA BACELAR nasceu em Lisboa em 1610 e faleceu na mesma cidade a 15 de Fevereiro de 1663. Formado em Direito Civil pela universidade de Coimbra, abandonou o magistério para se dedicar à magistratura. Historiador e poeta bilingue, a sua poesia é de carácter amoroso e jocoso e encontra-se espalhada pela «Fénix Renascida» e «Postilhão de Apolo».

Soneto e Nota biobliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria É a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.


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