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2011-12-19

Arrependo-me de a Meter num Romance - Vitorino Nemésio


O poema tem mais pressa que o romance,
Asa de fogo para te levar:
Assim, pois, se houver lama que te lance
Ao corpo quente algum, hei-de chorar.

Deus fez o poeta por que não descanse
No golfo do destino e amores no mar:
Vem um, de onda, cobri-la — e ela que dance!
Vem outro — e faz menção de me enfeitar.

Os outros a conspurcam, mas é minha!
Chicoteá-la vou com a própria espinha,
Estreitam-me de amor seus braços mornos,

Transformo seus gemidos em meus uivos
E torno anéis dos seus cabelos ruivos
Na raspa canelada dos meus cornos.

Extraído de366 poemas que falam de amor, uma antologia organizada por Vasco da Graça Moura, Quetzal Editores

Vitorino Nemésio Mendes Pinheiro da Silva (n. Praia da Vitória, Ilha Terceira, Açores a 19 de Dezembro de 1901 — m. em Lisboa, 20 de Fevereiro de 1978)

Ler do mesmo autor:
Natal das Ilhas
Já um pouco de vento se demora
A Árvore do Silêncio
Outro Testamento
Semântica electrónica
Loa
Concha


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