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2011-11-13

Noite Triste de Outubro, 1959 - Jaime Gil de Biedma

Definitivamente,
parece confirmar-se que o inverno
que vem, será bem duro.

Adiantaram-se
as chuvas, e o Governo,
reunido em conselho de ministros,
não se sabe se estuda a estas horas
o subsídio de desemprego,
ou o direito ao despedimento,
ou se simplesmente, isolado num oceano,
se limita a esperar que a tempestade passe
e chegue o dia, o dia em que, por fim,
as coisas deixem de chegar mal dadas.

Na noite de outubro,
enquanto leio entre linhas o jornal,
parei a escutar a pulsação
do silêncio no meu quarto, as conversas
dos vizinhos ao deitar-se
todos esses rumores
que ganham de súbito uma vida
e um significado próprio, misterioso.

E pensei nos milhares de seres humanos,
homens e mulheres que neste mesmo instante,
com o primeiro calafrio,
voltaram a perguntar a si próprios pelas suas preocupações,
pela sua fadiga antecipada,
pela sua ansiedade neste inverno,

enquanto lá fora chove.
Por todo o litoral da Catalunha chove
com verdadeira crueldade, com fumo e nuvens baixas,
enegrecendo muros,
encharcando fábricas, penetrando
nas oficinas mal iluminadas.
E a água arrasta para o mar sementes
a germinar, misturadas no barro,
árvores, sapatos coxos, utensílios
abandonados e tudo misturado
com as primeiras letras protestadas.


in Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea, selecção e tradução de José Bento, Assírio & Alvim

Jaime Gil de Biedma y Alba (n. Nava de la Asunción, Segovia, 13 Nov. 1929 - † Barcelona, 8 de Jan. 1990)

Ler do mesmo autor: Canto da Manhã


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