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2011-04-09

A Alma do Vinho - Charles Baudelaire

Barca Velha 1991foto tirada em 6 Abril 2011, dia em que
pela 1ª. vez bebi Barca Velha

A alma do vinho assim cantava nas garrafas:
“Homem, ó desherdado amigo, eu te compus,
Nesta prisão de vidro e lacre em que me abafas,
Um cântico em que há só fraternidade e luz!
Bem sei quanto custou, na colina incendida,
De causticante sol, de suor e de labor,
Para fazer minha alma e engendrar minha vida;
mas eu não hei de ser ingrato e corruptor,
Porque eu sinto um prazer imenso quando baixo
À goela do homem que já trabalhou demais,
E seu peito abrasante é doce tumba que acho
Mais propícia ao prazer que as adegas glaciais.
Não ouves retinir a domingueira toada
E esperanças chalrar em meu seio febris?
Cotovelos na mesa e manga arregaçada;
Tu me hás de bendizer e tu serás feliz:
Hei de acender-te o olhar da esposa embevecida;
A teu filho farei voltar a força e a cor
E serrei para tão tenro atleta da vida
Como o óleo que os tendões enrija ao lutador.
Sobre ti tombarei, vegetal ambrosia,
Grão precioso que lança o eterno Semeador,
Para que enfim do nosso amor nasça a poesia
Que até Deus subirá como uma rara flor!"

Tradução de Guilherme de Almeida

Charles-Pierre Baudelaire (nasceu a 9 de Abril de 1821 em Paris, m. 31 de Agosto de 1867)

Ler do mesmo autor, neste blog:
Intangível
Correspondências
Um Hemisfério numa cabeleira


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