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2011-01-30

PRELÚDIO - Alda Lara

"Mãe Negra" - José Bernardo Salazar
Museu de Arte do Parlamento de São Paulo

Pela estrada desce a noite
Mãe-Negra, desce com ela…

Nem buganvílias vermelhas,
nem vestidinhos de folhos,
nem brincadeiras de guisos,
nas suas mãos apertadas.
Só duas lágrimas grossas,
em duas faces cansadas.

Mãe-Negra tem voz de vento,
voz de silêncio batendo
nas folhas do cajueiro…

Tem voz de noite, descendo,
de mansinho, pela estrada…

Que é feito desses meninos
que gostava de embalar?…

Que é feito desses meninos
que ela ajudou a criar?…
Quem ouve agora as histórias
que costumava contar?…

Mãe-Negra não sabe nada…

Mas ai de quem sabe tudo,
como eu sei tudo
Mãe-Negra!…

Os teus meninos cresceram,
e esqueceram as histórias
que costumavas contar…

Muitos partiram p’ra longe,
quem sabe se hão-de voltar!…
Só tu ficaste esperando,
mãos cruzadas no regaço,
bem quieta bem calada.

É a tua a voz deste vento,
desta saudade descendo,
de mansinho pela estrada.


Alda Ferreira Pires Barreto de Lara Albuquerque, nasceu em Benguela, Angola, a 9 de Junho de 1930 e faleceu em Cambambe a 30 de Janeiro de 1962.

Ler da mesma autoria, neste blog: Regresso


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