Ao Espelho - Rubem Braga
Tu, que não foste belo nem perfeito,
Ora te vejo (e tu me vês) com tédio
E vã melancolia, contrafeito,
Como a um condenado sem remédio.
Evitas meu olhar inquiridor
Fugindo, aos meus dois olhos vermelhos,
Porque já te falece algum valor
Para enfrentar o tédio dos espelhos.
Ontem bebeste em demasia, certo,
Mas não foi, convenhamos, a primeira
Nem a milésima vez que hás bebido.
Volta portanto a cara, vê de perto
A cara, tua cara verdadeira,
Oh Braga envelhecido, envilecido.
Rubem Braga (Cachoeiro de Itapemirim, 12 de janeiro de 1913 — Rio de Janeiro, 19 de dezembro de 1990)
1 comments:
Lúcia Laborda
disse...
Querido Fernando; um belo soneto! Muitos teem medo de se olhar no espelho.
Obrigada pelo carinho a minha neta Bia.
Beijos
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