Fonógrafo - Camilo Pessanha
Vai declamando um cómico defunto.
Uma plateia ri, perdidamente,
Do bom jarreta ... E há um odor no ambiente
A cripta e a pó – do anacrónico assunto.
Muda o registo, eis uma barcarola:
Lírios, lírios, águas do rio, a lua ...
Ante o Seu corpo o sonho meu flutua
Sobre um paul – extática corola.
Muda outra vez: gorjeios, estribilhos
Dum clarim de oiro – o cheiro de junquilhos,
Vívido e agro! – tocando a alvorada ...
Cessou. E, amorosa, a alma das cornetas
Quebrou-se agora orvalhada e velada.
Primavera. Manhã. Que eflúvio de violetas!
CAMILO de Almeida PESSANHA nasceu em Coimbra a 7 de Setembro de 1867 e morreu, tuberculoso, em Macau (China) a 1 de Março de 1926.
Ler neste blog, do mesmo autor:
Ó meu coração torna para trás
Imagens que passais pela retina
Interrogação
Desce em Folhedos Tenros a Colina
Estátua
Foi um dia de inúteis agonias
Quem poluiu quem rasgou os meus lençois de linho
Floriram por engano as rosas bravas
Caminho I
Ao longe os barcos de flores
Queda
1 comments:
Francisco de Sousa Vieira Filho
disse...
Genial! Cadência suave e marcas precisas... belíssimo soneto!
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