No Bicentenário do nascimento de Alexandre Herculano - A SEMANA SANTA
XXV
Oh, talvez como o vate, ainda algum dia
Terei de erguer à Pátria hino de morte,
Sobre seus mudos restos vagueando!
Sobre seus restos? - Nunca! Eterno, escuta
Minhas preces e lágrimas: sé em breve,
Qual jaz Sião, jazer deve Ulisseia;
Se o anjo do extermínio há-de riscá-la
Do meio das nações, que dentre os vivos
Risque também meu nome, e não me deixe
Na Terra vaguear, órfão de pátria.
XXVII
Calou tudo no templo: o céu é puro,
A tempestade ameaçadora dorme.
No espaço imenso os astros cintilantes
O Rei da criação louvam com hinos,
Não ouvidos por nós nas profundezas
Do nosso abismo. E aos cantos do universo,
Ante milhões de estrelas, que recamam
O firmamento, ajuntará seu canto
Mesquinho trovador? Que vale uma harpa
Mortal no meio da harmonia etérea,
No concerto da noite? Oh, no silêncio,
Eu pequenino verme irei sentar-me
Aos pés da Cruz nas trevas do meu nada.
Assim se apaga a lâmpada nocturna
Ao despontar do Sol o alvor primeiro:
Por entre a escuridão deu claridade;
Mas do dia ao nascer, que já rutila,
As torrentes de luz vertendo ao longe,
Da lâmpada o clarão sumiu-se, inútil,
Nesse fúlgido mar, que inunda a Terra.
Alexandre Herculano de Carvalho Araújo (nasceu em Lisboa, a 28 de Março de 1810; m. em Vale de Lobos, próximo de Santarém a 13 de Setembro de 1877).
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