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2010-03-30

Arte Poética - Paul Verlaine

The Holy Family - Museo del Prado, Madrid
by Francisco Goya (n. 30 Mar. 1746, m. 15 Abr. 1828)

Música sempre, acima de tudo
E para tanto elege o Ímpar,
Mais vago e mais solúvel no ar,
Livre de peso e à pose mudo.

Abstém-te ainda de no teu inciso
Escolher o verbo sem um desacerto:
Nada mais alto que o canto incerto
Onde se juntam Preciso e Impreciso.

São belos olhos por detrás de um véu,
O amplo dia estremecendo ao estio,
E num luzir de Outono macio,
A turba azul de estrelas no céu!

Porque também a Nuance falta,
Não queremos Cor, apenas Nuance,
Oh! a Nuance permite que dance
Sonho com sonho, e com trompa flauta!

Mantém ao longe Farpa assassina
Riso impuro, Espírito cruel,
Que entristecem o doce Mantel,
Pobres manjares de tão fraca sina!

À Eloquência, torcer o pescoço!
Bem usarias o propício clima
Para amainar um pouco essa Rima
Pois senão onde findará o poço?

Oh! Quem dirá os males da Rima?
Que surda infância ou que preto louco
Terá forjado esse adorno oco
Que soa a falso sob a nossa lima?

Música ainda, sem nenhuns temores!
Seja o teu verso a coisa enlevada
Fugindo assim da alma puxada
Para outros céus e outros amores.

Seja o teu verso a boa aventura
Dispersa ao vento mordaz da manhã,
Embalsamada em menta, hortelã...
E tudo o resto é literatura.


Trad. Filipe Jarro,

in Rosa do Mundo, 2001 Poemas para o Futuro, Assírio & Alvim

Paul Marie Verlaine (n. Metz, 30 de Março de 1844, – m. Paris, 8 de Janeiro de 1896)

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