Estrela da Tarde - Ary dos Santos (na passagem do 26º. aniversário da sua morte)
Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia
Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia
Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram
Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram
Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto
Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!
O escritor César Príncipe intervirá sobre a obra de Ary - que sempre se recusou a ser um "poeta castrado" - e assinalará os 76 anos da Revolta da Marinha Grande, um marco na luta do povo português contra o salazarismo. A actriz Cidália Santos e o actor Amílcar Mendes darão voz a poemas de Ary. A entrada é livre.
Paralelamente decorre uma exposição fotográfica sobre o Poeta de Abril.
A partir das 21h30m a entrada é livre. Para o jantar, às 19h45m, é necessária a inscrição, pessoalmente ou para o e-mail Unicepe@net.novis.pt
3 comments:
Olhos de Mel
disse...
Querido Fernando; eu não conhecia. Mas é um belo poema musicado.
Boa semana! Beijos
Olhos de Mel
disse...
Oir querido amigo; esqueci de colocar o link do blog. Beijos
Luma Rosa
disse...
Homenagens bem-vindas, sempre!
"Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar."
Ary dos Santos
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