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2009-08-09

história de cão - Mário Cesariny


Pintura de Manuel Cesariny

eu tinha um velho tormento
eu tinha um sorriso triste
eu tinha um pressentimento

tu tinhas os olhos puros
os teus olhos rasos de água
como dois mundos futuros

entre parada e parada
havia um cão de permeio
no meio ficava a estrada.

depois tudo se abarcou
fomos iguais um momento
esse momento parou

ainda existe a extensa praia
e a grande casa amarela
aonde a rua desmaia.

estão ainda a noite e o ar
da mesma maneira aquela
com que te viam passar.

e os carreiros sem fundo
azul e branca janela
onde pusemos o mundo.

o cão atesta esta história
sentado no meio da estrada.
mas de nós não há memória.

dos lados não ficou nada.

extraído de Antologia da Poesia Portuguesa Contemporânea, um panorama, organização de Alberto da Costa e Silva e Alexei Bueno, Lacerda Editores

Mário Cesariny de Vasconcelos (n. em Lisboa a 9 Agosto de 1923; m. em Lisboa, 26 de Novembro de 2006)


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