(Re)Lendo Cesário Verde na passagem do 123º. aniversário da sua morte
Eu que sou feio, sólido, leal,
A ti, que és bela, frágil, assustada,
Quero estimar-te, sempre, recatada
Numa existência honesta, de cristal.
Sentado à mesa de um café devasso,
Ao avistar-te, há pouco fraca e loura,
Nesta babel tão velha e corruptora,
Tive tenções de oferecer-te o braço.
E, quando socorrestes um miserável,
Eu, que bebia cálices de absinto,
Mandei ir a garrafa, porque sinto
Que me tornas prestante, bom, sudável.
«Ela aí vem!» disse eu para os demais;
E pus me a olhar, vexado e suspirando,
O teu corpo que pulsa, alegre e brando,
Na frescura dos linhos matinais.
Extraído de Os dias do Amor, Um poema para cada dia do ano, Recolha, selecção e organização de Inês Ramnos, Prefácio de Henrique Manuel Bento Fialho, Ministério dos Livros
José Joaquim Cesário Verde ( n. em Lisboa a 25 de Fev 1855; m. Lisboa, 19 Jul 1886).
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