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2009-04-18

Quando Eu Morrer - Augusto Schmidt, para registar o 103º aniversário de nascimento!

Quando eu morrer o mundo continuará o mesmo,
A doçura das tardes continuará a envolver as coisas todas.
Como as envolve agora neste instante.
O vento fresco dobrará as árvores esguias
E levantará as nuvens de poesia nas estradas...

Quando eu morrer as águas claras dos rios rolarão ainda,
Rolarão sempre, alvas de espuma
Quando eu morrer as estrelas não cessarão de acender-se
no lindo céu noturno,
E nos vergéis onde os pássaros cantam as frutas
continuarão a ser doces e boas.

Quando eu morrer os homens continuarão sempre os mesmos.
E hão de esquecer-se do meu caminho silencioso entre eles,
Quando eu morrer os prantos e as alegrias permanecerão
Todas as ânsias e inquietudes do mundo não se modificarão.
Quando eu morrer os prantos e as alegrias permanecerão.
Todas as ânsias e inquietudes do mundo não se modificarão.
Quando eu morrer a humanidade continuará a mesma.
Porque nada sou, nada conto e nada tenho.
Porque sou um grão de poeira perdido no infinito.

Sinto porém, agora, que o mundo sou eu mesmo
E que a sombra descerá por sobre o universo vazio de mim
Quando eu morrer...


Augusto Frederico Schmidt (n. Rio de Janeiro, 18 de abril de 1906 — Rio de Janeiro, 8 de fevereiro de 1965)

Ler do mesmo autor, neste blog Vazio

Nota do webmaster: Ao ler este poema logo recordo Quando Vier a Primavera, de Alberto Caeiro; a expressão de que os poetas são pequenos perante a vida e o mundo, de que a sua morte deixa o mundo na mesma; mas não é verdade! Estes poetas já desapareceram, viveram em tempos já afastados dos nossos dias, mas quem, senão os poetas, para nas suas próprias palavras traduzirem com perfeição aquilo que cada um de nós em determinado momento sente? O mundo não fica na mesma não, fica bem melhor mesmo depois da passagem deles ainda que efémera...


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