Vieste tarde, meu amor...- Nunes Claro
(m. Palma de Maiorca, 25 Dez. 1983)
Vieste tarde, meu amor! Começa
em mim caindo a neve devagar;
morre o sol, o Outono cai depressa
e o Inverno, finalmente, vai chegar;
e se hoje andamos juntos, na promessa
de caminharmos toda a vida a par,
daqui a pouco, o teu amor tem pressa
e o meu, daqui a pouco, há-de cansar.
Dentro em breve, por trás das velhas portas,
dando um ao outro só palavras mortas,
que rolam mudas pelas nossas vidas,
ouviremos, nas noites desoladas:
tu, a canção das vozes desejadas;
eu, o chorar das vozes esquecidas.
Joaquim Nunes Claro nasceu em Lisboa a 20 de Abril de 1878 e faleceu em Sintra a 5 de Maio de 1949. Médico, trabalhou, durante a 1.ª Guerra Mundial, no Hospital Militar Português de Hendaia e, mais tarde, viria a ser vice-presidente do conselho regional lisboeta da Ordem dos Médicos. Começou como poeta panfletário, escrevendo versos indignados sobre a morte de Macéo, herói da independência cubana, ou replicando ao canto de purificação deísta de Junqueiro «Oração ao Pão» (1902) com a «Oração da Fome», protesto contra a condição penosa do homem secularmente esbulhado dos frutos do seu trabalho. Depois, a partir dos anos ‘20, o poeta-cidadão, cantor da emancipação sócio-cultural, retirou-se para Sintra e deu lugar ao poeta neo-romântico («A Cinza das Horas», 1928), que a uma poesia erótica hedonista junta o sentimento melancólico da usura do tempo e da fugacidade do amor.
em mim caindo a neve devagar;
morre o sol, o Outono cai depressa
e o Inverno, finalmente, vai chegar;
e se hoje andamos juntos, na promessa
de caminharmos toda a vida a par,
daqui a pouco, o teu amor tem pressa
e o meu, daqui a pouco, há-de cansar.
Dentro em breve, por trás das velhas portas,
dando um ao outro só palavras mortas,
que rolam mudas pelas nossas vidas,
ouviremos, nas noites desoladas:
tu, a canção das vozes desejadas;
eu, o chorar das vozes esquecidas.
Joaquim Nunes Claro nasceu em Lisboa a 20 de Abril de 1878 e faleceu em Sintra a 5 de Maio de 1949. Médico, trabalhou, durante a 1.ª Guerra Mundial, no Hospital Militar Português de Hendaia e, mais tarde, viria a ser vice-presidente do conselho regional lisboeta da Ordem dos Médicos. Começou como poeta panfletário, escrevendo versos indignados sobre a morte de Macéo, herói da independência cubana, ou replicando ao canto de purificação deísta de Junqueiro «Oração ao Pão» (1902) com a «Oração da Fome», protesto contra a condição penosa do homem secularmente esbulhado dos frutos do seu trabalho. Depois, a partir dos anos ‘20, o poeta-cidadão, cantor da emancipação sócio-cultural, retirou-se para Sintra e deu lugar ao poeta neo-romântico («A Cinza das Horas», 1928), que a uma poesia erótica hedonista junta o sentimento melancólico da usura do tempo e da fugacidade do amor.
Poema e nota biobliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.
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