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2008-03-08

De dia a estrela de alva empalidece... - João de Deus

De dia a estrela de alva empalidece,
e a luz do dia eterno te há ferido!
Em teu lânguido olhar adormecido,
nunca me um dia em vida amanhecesse!

Foste a concha da praia! A flor parece
mais ditosa que tu! Quem te há partido,
meu cálice de cristal onde hei bebido
os néctares do Céu...se um Céu houvesse!

Fonte pura das lágrimas que choro,
quem tão menina e moça desmanchado
te há pelas nuvens os cabelos de ouro!

Some-te, vela de baixel quebrado!
Some-te, voa, apaga-te, meteoro!
É só mais neste mundo um desgraçado!

JOÃO DE DEUS de Nogueira Ramos nasceu em São Bartolomeu de Messines (Algarve) a 8 de Março de 1830 e morreu em Lisboa a 11 de Janeiro de 1896. De 1849 a 1859, levou uma vida de boémio em Coimbra, até concluir o seu bacharelato em Leis. Paradoxalmente sensual e platónico, a sua poesia foi anti-ultra-romântica. Simultaneamente pedagogo e poeta, publicou a «Cartilha Maternal» (1876) e o «Campo de Flores» (1893). Em 8 de Março de 1895, foi alvo de uma manifestação apoteótica dos estudantes de todo o País e, quando faleceu, teve funerais nacionais.

Soneto e nota biobliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria É a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004).


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