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2007-10-29

Quadras Soltas - António Aleixo

P'ra mentira ser segura
E atingir profundidade,
Tem que trazer à mistura
Qualquer coisa de verdade.

O rato mete o focinho
Sem pensar que faz asneira
Depois, ou larga o toucinho,
Ou fica na ratoeira.

Há pessoas muito altas
De nome ilustrado e sério
Porque o oiro tapa as faltas
Da moral e do critério.

Enquanto o homem pensar
Que vale mais que outro homem,
São como os cães a ladrar,
Não deixam comer, nem comem.

Quantas sedas aí vão,
Quantos brancos colarinhos,
São pedacinhos de pão,
Roubados aos pobrezinhos!

Sem que o discurso eu pedisse,
Ele falou; e eu escutei.
Gostei do que ele não disse;
Do que disse não gostei.

António Fernandes Aleixo (Vila Real de Santo António, 18 de Fevereiro de 1899 — Loulé, 16 de Novembro de 1949


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