Pai João - Ciro Costa
Do taquaral à sombra, em solitária furna,
(para onde, com tristeza, o olhar, curioso, alongo),
sonha o negro, talvez, na solidão noturna,
com os límpidos areais das solidões do Congo...
Ouve-lhe a noite a voz nostálgica e soturna,
num suspiro de amor, num murmurejo longo...
E o rouco, surdo som, zumbindo na cafurna,
é o urucungo a gemer na cadência do jongo...
Bendito sejas tu, a quem, certo, devemos
a grandeza real de tudo quanto temos!
Sonha em paz! Sê feliz! E que eu fique de joelhos,
sob o fúlgido céu, a relembrar, magoado,
que os frutos do café são glóbulos vermelhos
do sangue que escorreu do negro escravizado!
Ciro Costa (n. em Limeira, São Paulo a 18 de Março de 1879; m. nio Rio de Janeiro a 22 de Maio de 1937).
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